Capítulo 41

10.9K 347 2.5K
                                    


41. Capítulo 41

Hermione Malfoy

Encarou-se no espelho assim que terminou toda sua rotina. Sua roupa estava como devia estar, sua maquiagem, seu cabelo. Tudo estava no lugar. Se perguntava qual susto ou qual desespero teria que enfrentar aquele dia porque sentia que ela e Draco estavam tentando se equilibrar em cima de uma corda bamba ultimamente.

Fechou os olhos e respirou fundo. Precisava acreditar que tudo ficaria bem. Soltou o ar. Precisava acreditar que tudo ocorreria exatamente como planejavam que ocorresse. Abriu os olhos. Respirou fundo mais uma vez e soltou o ar. Mais um dia. Exibiu seu sorriso amarelo, aquele que mostrava que na verdade estava morta por dentro. Seria aquele sorriso que usaria para qualquer pessoa que aparecesse em seu caminho.

Deu as costas para o espelho e deixou o closet. A cama estava vazia e presumiu que Draco tivesse ido para o quarto dos filhos ou para o chuveiro. Eles pouco haviam trocado palavras na noite anterior, estavam exaustos, mal tinham tempo para eles e a tensão dos últimos meses só matava ainda mais a ânsia de darem a eles tempo para se sentirem, se aproveitarem, mergulharem na tão recente entrega que haviam feito um ao outro. Viviam uma vida muito prática, um calendário muito apertado, uma agenda muito restrita. Não tinham tempo para pequenas surpresas, ou para o espontâneo.

Foi até o banheiro e ele estava enrolado em sua toalha de frente ao espelho usando a lamina para se livrar da barba que deixara de fazer na manhã anterior. Ela o observou por alguns segundos deixando-se aproveitar do efeito que ele causava em seu estômago. Eles não tinham mais tempo um para o outro, mas podia dizer que Draco nunca havia conquistado seu coração tanto quanto nos últimos meses. A forma como ele falava baixinho com os filhos quando estava tentando fazê-los dormir. O modo como sorria ou gargalhava quando brincava com eles. Ou como parecia absolutamente orgulhoso quando os via descobrir algo simples, mas novo. O cuidado que ele tinha com eles. Com ela e com eles. Com a família que tinham. Aquilo lhe aquecia o coração, a alimentava confiança, lhe fazia crescer raízes.

Foi até ele, abriu um sorriso quando percebeu que ele a avistou pelo espelho, desceu as mãos por suas costas expostas, estalou um beijo calmo em seu ombro, passou os braços por seu tronco e o abraçou por trás. Inalou seu cheiro e deixou que aquilo a confortasse. Será que algum dia, antes de toda aquela loucura, ela imaginaria que o cheiro de Draco fosse confortá-la? Talvez ela nunca fosse se acostumar que se pertenciam agora.

Deu seu bom dia ali e ele murmurou algo em resposta que ela não conseguiu entender muito bem tentando se manter imóvel enquanto passava a lamina pelo pescoço. Ela o assistiu terminar todo o serviço, o que não demorou mais do que alguns segundo, estalou outro beijo mais rápido em seu ombro em sinal de despedida e deu as costas. Ele não deu mais de quatro ou cinco passos quando ele a parou pelo pulso, a fez se virar e estalou um beijo rápido em sua boca, lhe deu bom dia, elogiou-a e seguiu para o closet.

Ela ficou imóvel por alguns segundos quando por algum motivo seu cérebro a fez refletir que aquele seria o máximo de contato que teriam naquele dia. De repente ela percebeu que aquilo era errado. Ela queria mais dele e como não havia prestado atenção nisso antes? Certo que a vida deles era muito programática mas isso não justificava a ausência que estavam tendo um para com o outro. Como não havia se incomodado com isso antes? Na verdade, ela sabia que havia.

Fez o caminho de volta e parou assim que alcançou a porta do quarto. Por que ela não iria se manifestar a respeito de sua insatisfação? Sabia que no meio de tudo que viviam, exigir atenção para a relação deles poderia soar fútil demais, mas sabia que a relação que tinham ainda era frágil, negligenciá-la poderia criar algum efeito avalanche que ela realmente gostaria de evitar. Deu meia volta e foi até o closet.

CIDADE DAS PEDRASOnde histórias criam vida. Descubra agora