Capítulo 40

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40. Capítulo 40

Narcisa Malfoy

Havia levado a chave com ela quando saíra de casa. Sempre encontrava uma hora para ficar a encarando e se debatendo. Fizera isso na casa de Draco. Fazia agora em seu apartamento também. Era apenas inevitável. Fazia até mesmo quando estava cuidando dos netos, tentando se distrair.

Recebera uma carta de Lucio aquela manhã. Ele parecia um espírito que voltava para atormentá-la nos dias que conseguia se sentir melhor, simplesmente porque haviam dias que ela o tomava como morto, mesmo que lhe doesse a alma, o espírito, o corpo, a mente e o coração, acima de tudo.

"Você sabe o porque. Você tem a chave. Você sabe que é importante."

Era tudo que havia escrito na carta.

Ele se sentia triste. Isso era tudo que ele tinha para dizer a ela depois de tanto tempo sem conseguir se comunicar? Era realmente tudo? Será que ele não queria implorar para que ela fosse o visitar? Será que ele não queria dizer que sentia falta de ver seu lindo rosto, de ser tocado por sua mão carinhosa e de escutar sua voz paciente? Draco dizia isso de Hermione com uma frequência que Lucio nunca havia feio, como se estivesse atestando sobre a beleza do tempo, ou sobre o bom vinho que tinha nas mãos.

O que ela tinha de errado? Qual era o seu problema? Por que sabia ser tão perfeita para os padrões dele e ainda ser rejeitada? Por que ela ainda continuava pensando essas coisas quando o considerava um homem morto?

Soltou o ar e puxou o jornal para tentar se distrair e terminar seu lanche da manhã, antes de ir pegar sua carruagem para a casa de Draco onde faria companhia para Hermione durante a tarde. A foto na primeira página era deles. A tão amada família Malfoy. Draco, Hermione, Scorpius e Hera. Aquela era a primeira foto oficial publicada no jornal. Havia sido tirada na sala da casa deles onde se podia ver a neve acumulada do lado de fora pela enormes janelas de fundo. Eles estavam sério e estáticos como bom Malfoys, porém havia algo no olhar deles, havia algo na energia daquela imagem, algo na forma como Draco colocava a mão sobre o ombro de Hermione estando de pé logo atrás dela depois de ajeitar o lindo vestidinho de Hera em seu colo, e na forma como Hermione alcançava a mão que ele colocara em seu ombro logo após rearranjar confortavelmente Scorpius sentado em sua perna. Eles estavam completos, estavam bem, estavam felizes. Era possível ver isso sem que abrissem um simples sorriso ou dessem qualquer declaração. Eles eram uma família, não eram apenas seres humanos ocupando gloriosos cargos hierárquicos em um sistema que vinha se arrastando por anos com o nome Malfoy.

Ah! Como ela ficava feliz por Draco por ele ter encontrado algo que ela não havia tido a chance com Lúcio. Mas ainda assim, quando seus olhos caiam sobre Hermione, seu coração apertava. Apertava por não acreditar que pudesse existir algum amargo naquele mel. Sim, ela tinha suas atitudes excêntricas, era firme em suas decisões, orgulhosa e independente, mas era autêntica, não havia nada que saia de sua boca que era vago ou impensado. Ela se importava com coisas além de seu próprio ego e era verdadeiro, era verdadeiro porque ela sempre fazia parecer ser simples algo que para Narcisa, para sua família, para todos que conheciam e principalmente para os Malfoy, parecia escandaloso.

Parou de se focar nela, ela não faria as palavras de Lúcio penetrarem em sua mente mais fundo do que já haviam penetrado. Sorriu inevitavelmente ao ver o rostinho dos netos. Eles eram absolutamente idênticos e terrivelmente fofos. Não havia dúvidas de que eram filhos de Draco e Hermione. Os poucos fios que tinham na cabeça eram brancos. Os olhos eram absurdamente cinzas e as bochechas extremamente rosadas. Eram Malfoys sem dúvida alguma. Alguns traços lembravam bastante Hermione, o nariz, a boca, as orelhas e o formato do rosto, mas os olhos e os cabelos eram um gene dominante que vinha sendo passado por séculos entre os herdeiros do nome Malfoy.

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