Capítulo 46

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Hermione Malfoy

Estava perdida entre o que era real e o que era sonho. Não sabia o que havia acontecido a ela. Talvez estivesse morta. Tentava buscar suas memórias, mas sempre havia aquele mar escuro onde ela acabava se afundando. Muitas vezes desesperava-se para tentar encontrar a superfície, buscando por ar, como se tentasse vencer a corrente das forças que cercavam, mas perdia-se sem saber pra qual direção ir. Acabava-se por se entregar e era quando ela vinha. Morgana. A intrusa de seus sonhos. Quando a via com tanta clareza, era quando verdadeiramente sentia-se acuada.

Fraca.

Era o que ela dizia.

Um potencial desperdiçado. Falhou como todos os outros.

A figura dela já não era mais pavorosa como antes havia sido. Havia se conectado a ela, havia se permitido sentir toda a magia escura que a envolvia. Havia se permitido mergulhar no rancor, no senso de vingança, no desejo de soberania. Havia permitido que a guiasse. Não esperava que fosse acabar afundando naquele mar infinito.

Como vai se salvar agora? Como vai se proteger? O mundo sabe quem é.

Sentia-se vulnerável. Perdida.

Precisa de mim. Só eu posso te fazer forte.

Não. Ela havia sido forte sua vida inteira sem precisar se conectar a força de Morgana. Tentou lutar novamente contra o mar que a afundava. Sem saber pra qual direção ir, qual rumo tomar, apenas lutou. Céus. Estava exausta. Era a única certeza que tinha.

Transitou entre mundos estranhos. Reviveu lembranças e fantasiou realidades. Sempre voltava para o mar onde afundava. Lutava para tentar encontrar a superfície. Quando se entregava derrotada escutava o pior das faces de sua alma dizer:

Fraca.

Lutou para encontrar a superfície. Lutou para não afundar. Mas era impossível. Toda aquela escuridão a cercando, a consumindo. Era um castigo? Um castigo por ser fraca? Por não estar sentando no trono de Voldemort naquele exato momento, exigindo que o mundo se ajoelhasse aos seus pés? Transitou entre realidades inventadas novamente. Entre lembranças boas e ruins. Sofreu e riu com os sentimentos que elas lhe traziam e acabou naquele mar outra vez.

Fraca.

Ela não aguentava mais lutar. Entregou-se a escuridão. Permitiu afundar. Sentiu seu corpo pesar cada vez mais. Aceitou ir. Foi quando começou a notar vozes muito longes numa discussão monótona. Foram se tornando mais audíveis a medida que ela conseguia notar que o mar a sua volta tomava uma tonalidade diferente. Era o mundo real?

Ter uma gota de esperança de atingir o mundo realmente lhe trouxe uma esperança desesperadora. Quis lutar, mas seu corpo estava pesado. Não conseguia mover. Não tinha controle sobre seus membros, suas ações. Nada. A aflição não permitiu que pudesse se focar nas vozes que escutava. Talvez fossem familiares. Ela não entendia.

Fraca!

Escutou novamente e caiu no mar escuro. Afundou sem forças. Apagou.

Tempo? Será que tinha qualquer chance de poder conseguir entende-lo, medi-lo? Estava morta? Era isso? Sua alma perdida, será? Quanto tempo duraria? Ela queria o mundo real. Queria a realidade. Nada substituía a realidade.

Foi quando abriu os olhos. Demorou alguns segundos para entender que estivera de olhos fechados antes. A claridade foi quase irreal comparado ao mundo de escuridão ao qual estivera presa. Piscou perdida e começou a tomar consciência do restante de seu corpo. Encarava um teto muito familiar. Mas sua memória e suas lembranças estavam bagunçadas. Moveu os membros de seu corpo muito calmamente e sentiu cobertas pesadas a cobrindo. Virou o rosto para ver uma gigantesca fachada de janelas cobertas por longas cortinas finas. Ela conhecia aquele lugar.

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