Sebastian Vettel
Eu sabia que seria difícil dizer a verdade depois de estar tão imerso na omissão. Avisaram-me para não sair “empurrando com a barriga” o que poderia ser concertado com diálogo, porém eu pensei que se deixasse rolar seria melhor, mais prazeroso e aos poucos eu descobriria como resolver a situação. Engano meu, porque agora eu estou embolado nos lençóis, com uma gata do meu lado, implorando para que o tempo não passe tão depressa. Eu não quero deixá-la, não quero vê-la saindo sem olhar pra trás. Eu sei que deixei ir longe de mais, escondi o que era de suma importância, mas eu juro, não foi por querer, e nem por diversão. Eu realmente caí perdidamente nos braços dela, e depois não tive coragem de dizer por medo de perdê-la.
É quinta-feira, hora de voltar para casa porque meus amigos e meu pai fizeram questão de organizar uma despedida de solteiro. Eu tento me levantar, penso em arrumar uma desculpa para Alex e voltarmos, mas em vez disso eu continuo deitado acariciando com cabelos dela e dizendo o quanto ela me deixa desequilibrado.
— O que você quer fazer hoje? – pergunto ao perceber que ela já havia acordado, mas continua quieta apreciando o momento.
— Podemos sair e conhecer a cidade, quer dizer, você me mostrar à cidade.
Dentro de quinze minutos estávamos prontos, caminhando em direção ao carro. Alex prometeu a minha avó que voltaríamos antes de escurecer, elas trocaram risinhos e beijos na bochecha. Eu não fazia ideia do que elas estavam planejando, porém eu tinha um leve pressentimento de que naquela noite nós não voltaríamos para casa. Tinha muitas coisas em Nova York que precisava da minha atenção para ser resolvida, mas um dia aparece uma garota que te ensina a relaxar.
Com um sorriso ela te faz parar e repensar toda sua vida, e é nesse momento que você percebe que perdeu tempo sendo um louco imbecil que não sabe aproveitar a vida e os curtos momentos.
Alexia me tirou da bolha toxica que eu havia criado para mim mesmo, me tirou de dentro do terno e me arrastou pelas ruas forradas pela neve de Seattle. Ela destruiu meus preconceitos, me colocou de joelhos e me mostrou que eu não preciso ser um filho da puta babaca. Independente de quem um dia eu fui ou fiz, eu sou um ser humano que pode amar e ser amado e que todas essas questões de ser e estar dependem principalmente de mim. Caralho, ela me reconstruiu.
— Gosta de comida Mexicana? – pergunto estacionado no estacionamento do El Ranchon Family Mexican Restaurant. Nós tínhamos dado uma volta na cidade, e já estava quase passando da hora do almoço.
— Na verdade eu nunca experimentei – diz saltando do carro. — Aqui é lindo e aconchegante.
— Imaginei que tu irias gostar. – Puxo a cadeira para ela sentar, a mesma sorri em agradecimento.
— Olá, boa tarde! – a garçonete vem até nos. Olho em seu rosto e consequentemente me arrependo da ideia de ter entrado aqui. — Ai meu Deus! É você.
— Desculpa, mas ... – Alex diz.
— É, sou eu. Podemos ver o cardápio? – digo grosseiro, mas também tentando ser o mais educado possível.
— Claro – estende a caderneta. — Eu não esperava te ver por aqui hoje, porque você sabe, tem a festa no 1OAK.
— Do que ela está falando? – Alex me pergunta com a sobrancelha arqueada, completamente confusa.
— Não sei, mas vem.
Jogo o cardápio na mesa, seguro a mão de Alexia e a tiro dali porque certeza se ficarmos para almoçar aquela garçonete vai ferrar com minha vida.
— Tem um sanduba aqui perto, eu acho melhor do que experimentar uma culinária diferente.
— Ok. – Ela me olhou daquele jeito: olhar de canto e os longos cílios se tocando. Eu já sabia que ela queria fazer perguntas. — Vai me dizer o que foi aquilo?
— Não foi nada de mais, aquela garota acha que sabe muito sobre mim.
— Ela parece saber bastante sobre você. Pelo menos ela sabe mais do que eu.
— O quê? Claro que não. Moramos em Nova York e ela aqui, como ela sabe sobre minha vida? Não tem nada disso Alex, relaxa e vamos curtir o nosso dia.
Embora queira discordar e me fazer inventar mais mentiras, ela se calou e aceitou que era besteira brigar. Comemos sanduiches do The Blue Heron e depois fomos ao cinema, e quando saímos já estava escurecendo e como Alex havia prometido a minha avó; chegamos antes das 17h.
— Ai está vocês! Alex, nós temos exatamente duas horas para estar impecáveis – a vovó descia as escadas de forma tão rápida que me impressiona. De acordo com os médicos e com a idade avançada dela, a mesma nem devia estar frequentando o andar de cima. Mas sabe como os idosos podem ser difíceis, né?
— O quê isso significa? – me refiro às duas horas.
— Que estamos atrasadas – a vovó responde fazendo caras e bocas. – Poxa vida! Estamos muito atrasadas.
— O que vocês vão fazer? Vó, nós temos que voltar para Nova York – as sigo pelo corredor que leva ao closet da vovó.
— Ninguém sai dessa cidade hoje. E você vai aparar essa barba, colocar um dos ternos chiques do seu falecido avô e esperar na sala – decreta apontado o segundo andar. — Ah, e antes que eu me esqueça – ela caminha até a mim e olha no fundo dos meus olhos, – nem se atreva a armar alguma gracinha.
— Vó eu... – tento opinar e dizer a ela que nós realmente temos que voltar.
— Ok! Vejo-te as dezenove queridas.
Nisso ela me empurra para o lado de fora e tranca a porta.
— Merda!
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El Ranchon Family Mexican Restaurant - Restaurante do bairro Magnólia em Seattle1OAK - uma das boates mais caras e movimentadas de Nova York
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Antes Que Não Haja Amor
RomanceAlexia Shelb-Cullen só tinha um único objetivo: subir em sua moto e correr a 200 quilômetros por hora. Prestes há completar dezoito anos, sem planos para o futuro, desesperada pra encontrar sua independência e desaparecer de Londres. E Sebastian Vet...