Capítulo 4▶

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"E eu não posso mentir, minha vida tem sido muito difícil.
É difícil ver a luz quando a vida está escura"

Used to you - Ali Gatie

|Alexia Shelb-Cullen|

Depois que Liam me deixou em casa eu subi pro meu quarto, tomei um banho quentinho, vesti o pijama, sentei na sacada do quarto com o telefone preso na orelha e uma coberta envolvendo meu corpo. Fazia mais de seis meses que eu não via o papai, que foi exatamente a última vez que ele veio nos visitar. Ele e a dona Geórgia não tinham uma boa relação, e como todas as outras noites em que estivemos juntos, aquela também acabou em briga.

— Alô? – sua voz era de quem estava andando, ele também parecia estar bebendo alguma coisa.

— Oi papai! O senhor tem tempo pra conversar? – minha voz era incerta.

— Está brincando? Pra você eu tenho todo tempo do mundo – eu podia jurar que ele estava sorrindo. — Como está a minha garota?

— Morrendo de saudades do senhor!

— Ah querida, eu também estou e odeio toda essa distância entre nós. Mas me diz; brigou com ela de novo? – ele disse pessimista, porque na verdade ele sabia que era assim.

— Todo santo dia, e eu não aguento mais isso papai. Está acontecendo muitas coisas estranhas aqui, será que o senhor teria espaço pra mim... Aí na sua casa? É só por pouco tempo até eu encontrar um lugar pra mim. 

Ele é meu pai, e eu o amo assim como sei que ele me ama. Porém eu não tinha certeza de quê poderia morar com ele, e eu também não queria incomodaria. Meu pai sempre foi independente e eu não queria ser uma pedra em seu caminho, não queria dar a ele fardo de me ser incomodado.

— Com quem você pensa que está falando? – a pergunta dele me fez gelar. — Eu não sou a idiota da sua mãe, nem a droga daquele padrinho idiota que diz fazer tudo por você. Então será que dá pra você parar de me comparar a eles? Eu sou seu pai querida, e um pai nunca se cansa dos seus filhos.

— Eu não tenho tanta certeza quando a isso – sussurrei sentindo meus olhos se marejar, ele murmurou um palavrão. — Desculpa pai, às vezes eu me esqueço de que você não é como eles.

— Não deveria esquecer, já que eu sempre faço tudo por você Alex, caramba. – ele estava chateado, eu consegui tirá-lo do sério e ainda podia ouvir minha mãe me parabenizando com um sorriso irônico.

—Eu vou morar com o senhor.

Foi o que eu disse antes de encerrar a ligação. Com a cabeça encostada na parede fria, um cigarro entre os dedos eu observo a lua clara. Às vezes eu queria ser como ela; brilhante, acompanhada das estrelas e admirada por todos. Só que em vez disso eu era só a droga de uma garota solitária, com problemas e medos. Eu queria pegar o carro na garagem e sumir, mas eu não chegaria nunca no meu porto seguro porque eu não tenho um.

Eu vi o dia clarear, passei a noite toda acordada pensando em tantas coisas e em nada ao mesmo tempo. Ao meu lado tinha um pacote vazio de cereal e dois tocos de cigarro — eu fumava quando estava perdida, não ajudava em muita coisa, mas pelo menos me fazia ficar sonsa por alguns instantes. Da sacada eu pude ver as pessoas que trabalhavam pra minha mãe chegando, eu vi o carro do amante dela saindo e ouvi a hora em que ela começou a espancar a porta do meu quarto. Mais um dia iniciava, e quando aquela porta fosse aberta também começaria mais uma briga, e ela vai me chamar de vadia quando na verdade era ela quem dormia com um homem diferente toda noite.

Antes Que Não Haja Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora