Enquanto o carro percorria a estrada, o One Direction entrava em seus ouvidos cantando "What Makes You Beautiful".
Thalita estava achando tudo aquilo deveras chato. Primeiro, porque ela havia simplesmente perdido todas as suas amigas, sobretudo, Samile, a mais especial delas.
Segundo, ela estava achando que seus pais estavam um tanto quanto loucos por simplesmente abandonarem (do nada) a vida numa cidade grande e ir se embrenhar num fim de mundo daqueles, onde nem celular pegava direito.
Era ridículo!
Ela estava completamente aborrecida, principalmente, quando pensava em todas as coisas maravilhosas que ela simplesmente estava abrindo mão.
E o futuro?! O que ela poderia esperar do futuro?
Pedra Dourada, a tal nova cidade, era simplesmente minúscula. Dando uma olhada no Wikipédia, ela havia descoberto, dias antes, que a tal cidade tinha uma população estimada, em 2010, de 19.000 habitantes e que fora emancipada somente em 1985. Como assim? Como assim?
Lá não havia transito e, ela duvidava até que as pessoas de lá conheciam um meio de transporte chamado automóvel. Sorriu, quando se deu conta de que se lá era tão pequeno, não devia ter nem shopping, nada do tipo. Cinema?! Jamais...
Era o fim do mundo e, para Thalita, aquele parecia mesmo ser o fim do mundo dela.
No carro estavam a mãe dela, no banco do carona, o pai ao volante e ela jogada no banco de trás, completamente entupida de caixas de papelão e cabides de roupa, que não foram juntos com a mudança, num caminhão, que partira rumo à Pedra Dourada dias antes.
Thalita não desconhecia totalmente a tal cidade, afinal de contas, seus avós moravam numa singela fazenda bem perto de lá e sua tia, uma Enfermeira, morava na mesma cidade há algum tempo.
Ela, às vezes, tentava se convencer de que Pedra Dourada não seria assim, tão ruim. Mas, em seguida, seus pensamentos pessimistas voltavam e voltavam com força.
Apanhou o celular, que estava jogado no banco, puxando-o pelo fio dos fones de ouvido. Ela precisava mudar de música, talvez até de álbum, pra sair daquela mesmice.
Ainda enquanto What Makes You Beautiful agitava seus tímpanos, ela deu uma olhada numa mensagem de Samile, que, basicamente, dizia que elas duas não iriam se desgrudar por causa da distância. As duas haviam, inclusive, feito um pacto de exclusividade: Uma seria a primeira a saber quando a outra desse o primeiro beijo. Thalita revirou os olhos e sorriu de leve quando se lembrou daquele pacto. Por um instante, ela achou meio deprimente, mas, depois, ela pensou que, talvez, aquela fosse somente uma forma de não deixar a amizade se esvair com o passar do tempo e, com a já dita, maldita distância.
- O que foi, Thalita? - questionou a mãe, sem olhar para a menina - Tá quieta.
Thalita pausou a música.
- Sono...
- Anima, anima! - berrou o pai - A gente chega já, já!
- Nossa - disse Thalita, olhos revirados - Que empolgação...
- Você tem que começar a encarar as coisas de forma melhor, minha filha - falou a mãe, num tom quase angelical - Viemos morar aqui, você tem que aceitar e encontrar o lado bom da coisa.
Thalita ficou em silêncio.
A Mãe ficou em silêncio.
O Pai ficou em silêncio.
Foi quando "Call Me Maybe" começou a tocar nos headphones da garota.
Olhando pela janela, tudo o que Thalita via era a imensidão da caatinga invadindo cada vez mais a paisagem e a cabeça dela.
Aos poucos, a garota fora adormecendo, aquilo tudo estava tão chato, que tudo que ela queria era que estivesse sonhando, quem sabe, ela acordasse em outra dimensão, onde tudo aquilo não passaria de pura imaginação dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Bombom Sobre Minha Mesa
FanfictionThalita acabou de se mudar para uma cidade pequena. Ela acha que tudo em sua vida está um desastre, até ela se envolver numa investigação criminal e passar a ter certeza disso.