Um Bombom Sobre Minha Mesa

Capítulo 04: "Judas"

Desde que Thalita se mudara para o interior da Bahia, Samile sentia-se sozinha.

Não que ela não tivesse outras amigas no colégio, mas, Thalita era especial.

As duas estavam se falando freneticamente por mensagens e por chamadas de vídeo, mas, aqui não era o suficiente, ela sabia.

A biblioteca da escola nunca parecera tão vazia quanto naquela tarde.

No dia seguinte ela teria uma prova super complexa de Matemática. Aquilo era horrível.

Ela sentia-se complemente solitária e tentava pensar no que Thalita faria no lugar dela. Não tinha muito sucesso.

Sentada numa das ultimas mesas disponíveis na biblioteca, Samile tentava se concentrar nos cálculos, mas, sua concentração (que já não era muita coisa) foi pelos ares quando uma mão pesada encostou em seu ombro.

Ela olhou para trás e vislumbrou Rafael.

- Está sozinha?! - ele perguntou, um sorriso largo no rosto - Posso me sentar contigo?

Ela não falou nada.

As palavras não saiam.

Apenas acenou com a cabeça, afirmando que ele podia sentar-se.

Acontece que o fôlego da garota começava a lhe faltar. Rafael era o crush numero um dela. Ele era o garoto mais atraente da escola, sem sombra de dúvidas.

Agora era que ela não iria conseguir estudar mesmo. E, enquanto observava a simetria perfeita do rosto do garoto, ela se perguntava o que Thalita diria se visse aquela cena.

- Estudando para a prova de amanhã, né?! - Rafael disse, puxando-a de volta para a realidade.

- Tentando, na verdade - ela foi rápida, queria se mostrar interessada - E você?! Veio estudar também?

Ele sorriu.

- Matemática é o meu forte, você sabe...

Ela sabia! No ano anterior, Rafael havia sido medalha de ouro das Olimpíadas Interescolares de Matemática. Além de tudo, um gênio!

- Sim, eu sei... - ela sorriu timidamente, ajeitando uma mecha de cabelo atrás da orelha. 

Ela arrependeu-se no minuto seguinte de ter feito aquilo. Para a psicologia comportamental, quando uma garota mexe nos cabelos quando ela está perto de um garoto, significa que ela está interessada nele.

Ela queria que Rafael não entendesse nada de Psicologia Comportamental naquele momento.

- Eu sou um desastre em Matemática! - exclamou a garota, ajeitando outra mecha de cabelo, sem ao menos se dar conta - Eu estou completamente perdida e, pra piorar a minha situação já desastrosa, minha amiga mudou-se para a Bahia. Agora, além de burra, estou solitária.

Rafael sorriu.

Ele conteve a gargalhada, por conta do local em que estavam.

- Você é engraçada, Samile! - ele disse de forma carinhosa, quase paternal - Eu soube que a Thalita mudou-se para o interior da Bahia. Me pergunto o que ela faria lá... Mas, burra você não é! - ele fez uma pausa, observando o sorriso tímido no rosto da garota - Se você quiser, eu posso te ajudar com a prova.

- Não colo!

- Não! - ele exclamou, em meio a um sorriso, tentando se defender - Digo... Eu te ajudo a estudar. Ainda temos tempo, a prova é só amanhã. O que acha?

Ela bem pestanejou:

 - Claro! Claro, seria maravilhoso. Seria perfeito, na verdade! Eu adoraria sua companhia - parou quase no meio da palavra, depois, corrigiu-se - Digo: sua ajuda.