Prólogo

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Estou tentando entender qual é a ideia dessa brincadeira que mamãe inventou. Ela disse para me comportar e não fazer muitas perguntas, se não, ela nunca mais irá brincar comigo. Um pano preto cobre meus olhos, por um minuto pensei que brincariamos de cobra-cega, mas não tem como brincar quando suas mãos estão amarradas com cordas grossas e pesadas.

-Mãe... pede para me desamarrarem, esta me machucando. Por favor!

Ninguém me responde, esta tudo escuro, minha voz faz eco. Será que estou presa?

-Querida, o que eu disse para não encomodar. Não quer passar o resto de sua vida sozinha, ou quer? - pergunta com a voz oscilante pelo fato de estar rindo do meu desespero.

Todas as noites antes de dormir, me pergunto o que eu tenho de errado que faz todos me tratarem tão mal? Tenho apenas cinco anos e sei perfeitamente que minha mãe e meu pai não me amam, elas passam o dia inteiro com Joseph, e comigo só dão bom dia e boa noite. Nunca me disseram seus nomes, me tratam como se eu não existisse.

Tiram a venda de meus olhos, e me assusto ao perceber que estou na tão famosa sala de reunião, nunca tinha entrado ali antes. Na porta da sala sempre tem um seguraça e vários códigos super esquisitos. Não sei o porque de tudo isso, já que é uma sala normal, com cadeiras, mesas, uma tv enorme e um lindo sofá.

-Temos um assunto importante para tratar hoje! - escuto a voz grossa do meu pai, e logo viro-me de frente para ele. Observo o quanto esta relaxado, parece que vai tirar ou já tirou um peso enorme de suas costas. -Não vou ser emocional ou fraco nessa questão. Eu e minha esposa sabemos que Isadora não fará diferença alguma aqui.

Estão falando de mim? Então quer dizer que não faço diferença alguma na vida de ninguém? Olho com tristeza para minha mãe que me lança um olhar de "fique quieta e não reclame". Ótimo! Vamos ficar quietinha e não atrapalhar a reunião, que tem como assusnto principal: EU.

-Acho melhor eu levá-la até lá. Sempre fui muito melhor em teatro, conseguirei fingir que não tenho condições de cuidar de uma filha, que tentei por cinco anos, mas o dinheiro e a falta de higiene estão matando a menina. - como mamãe tem coragem de dizer isso.

-Explêndido senhora, se o plano der certo como nós combinamos nem será preciso me contatar para a parte da burocracia. - eu o conheço de algum lugar... hamm ele é o advogado da família, sempre resolve os problemas do Joseph, vamos dizer que meu irmão é um poco encrenqueiro...

-Tudo pronto, acho que já podemos ir! - diz meu 'glorioso' pai. - De um jeito para a peste não acabar com o plano. - aponta para mim.

-Querida, você terá que colaborar!

Me seguram de costas e colacam um pano em minha boca. Aos poucos vou perdendo todos os sentidos, até cair desmaiada no chão.

****

Sei que alguém ta me segurando e levando para algum lugar. Abro um olho de cada vez, vejo minha mãe ou melhor a pessoa que está nesse momento acabando com a minha vida, me carregando no meio de um jardim muito bem cuidado.

-Posso ajudar? - pergunta uma mulher que aparenta ser bem simpática.

Aí começou o teatro da minha 'querida' e 'amorosa' mãe.

Ela falou um monte de coisa, eles até compraram um casa caindo aos pedaços, sem teto e saneamento básico para mostrar que não tinham mesmo condições de cuidar de mim. E aquilo doeu, doeu, mesmo sabendo de tudo que eles faziam e que eu não conseguiria ajudar em nada em seu império que eles tanto zelavam. O que mais me surpreendeu foi a coragem e a vontade que todos eles tinham de se livrar de mim. Como isso era possível? Por que me tratar como se eu fosse um bichinho que só serviria para atrapalhar e estragar tudo? Nesse momento eu tenho vontade de gritar para o mundo inteiro, que eu sou apenas uma criança com cinco anos, que está presenciando o abandono por parte dos pais, só pelo fato de eu ser um empecilho em seus caminhos. Queria gritar, informando que eu me sinto como uma sacola de lixo sendo levada para lixeira, onde daqui alguns minutos seria recolhida e jogada em um lixão para ser esquecida pelo resto da minha vida util.

Mas eu não fiz isso, pelo contrário, eu apenas fingi que estava dormindo e escutei tudo se passar, escutei todos falarem e resolverem meu futuro.

Só acordei quando a mulher veio me trazer uma sopa em meu novo e simples quarto.

-Deve estar assustada... Quer me falar como se sente? - perguntou carinhosamente.

-Me sinto como um bandido inocente sendo preso!

-Por que? - pergunta com uma sobrancelha arqueada.

-Porque eu não fiz nada de errado, e eles tiveram que me perseguir e caçar! Porque eles acbaram com a minha vida, sem nem se preocupar com o que eu acharia disso!

-São palavras muito duras para uma criança dizer. - ela fala me olhando assustada.

-E o que eles fizeram comigo? E o que eles disseram para mim? Não foram atos e palavras muito duras para se fazer e dizer para uma criança de cinco anos?

Depois desse dia eu nunca fui a mesma, eu nunca mais serei a Isadora encantadora e doce que todos conheciam. Pode-se dizer que depois de tudo, o que era carne se petrificou e nunca mais virá a sangrar novamente.

"Hoje eu levo uma pedra de gelo no peito, um sorriso irônico nos lábios e não espero mais nada de ninguém."


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