Capítulo 11

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-Que horror Nix!!! - escuto Valentim falar, mas não dou bola. Estou um pouca ocupada no momento. - Quer ajuda? Senhor, eu nunca cuidei de ninguém, na verdade cuidei do meu pai, mas é meu pai né!

-Cala a boca Valentim. - falo assim consigo me sentar, logo em seguida respiro fundo tentando acalmar meus nervos e minha cabeça que parece explodir .

-Ok, já estou quieto, você precisa se acalmar. Isso é nojento. - ele faz cara de nojo. Se eu não estivesse tentando não vomitar, iria até rir de suas expressões esquisitas.

-Aquela mulher me dá nojo. - com certeza estou com cara de enjoada. - Nem sei porquê vomitei, já passei por coisas assim antes...

-Deve ser por causa dela sempre estar meio que presente com você, desde pequena. Tipo, você achou uma certa proteção nela, agora descobrir que era tudo enganação... você deve estar se sentindo horrível!!

-Não digo horrível, mas sim enjoada, literalmente. Enjoada de ver que as pessoas que eu mais confiei estão me traindo ou me largando, enjoada de pessoas falsas que fingem ser verdadeiras, enjoada de pessoas mentirem de verdade, e eu acreditar de mentira. Você não entende! - me encosto no banco, e fecho a porta do carro.

-Eu entendo. - ele olha para baixo. - Você sabe que minha mãe morreu, certo? - aceno com a cabeça.- Antes dela morrer a família era inteira reunida, sábados e domingos alegres... Até que ela ficou doente, todos ficaram abalados, mas ninguém, ninguém teve a capacidade de vir ajudar, ninguém se dispôs a me ajudar a pagar o tratamento. Naquela época eu ainda era muito jovem, não tinha um trabalho fixo, meu pai trabalhava em um mercado, nós tínhamos o suficiente para ter uma vida normal, com viagens no final do ano. O tratamento era muito caro, tranquei a faculdade para trabalhar em período integral, mesmo assim o salário não dava nem um quinto do tanto que precisávamos para o tratamento. E adivinha!? A família inteira sumiu, eram tudo um bando de cobras, não sei como não percebemos antes. Meio ano depois, eu estava afundado em contas do hospital, minha mãe morria na minha frente e eu não podia ajudar, a saúde pública era e ainda é uma bosta, minha mãe morria, meu pai se afundava em bebidas e eu... eu me matava de trabalhar, saia do trabalho as onze da noite e ia preparar sanduíches e outros salgados, as quatro horas da manhã eu levantava pegava os salgados e ia vender para motoristas e cobradores de ônibus, pessoas que eu encontrava indo trabalhar cedo, e as seis horas eu tinha que estar em frente ao estabelecimento em que eu trabalhava. Não tinha terminado a faculdade, por isso no meu currículo tinha só o ensino médio e o cursinho, não consegui trabalho que pagasse bem, mas eu tentei. O câncer da minha mãe já tinha se espalhado, quando eu consegui pagar a segunda parcela do tratamento ela morreu, ela morreu bem na minha frente... - uma lágrima escorreu pelo lado esquerdo do seu rosto. - Antes de morrer ela me disse para eu me esforçar, conseguir tudo que eu quisesse, ela disse para mim crescer na vida, e fazer a diferença para alguma coisa... e que acima de tudo, era para eu ser feliz, era para eu fazer algo que eu me orgulhasse, algo que me fizesse ser eu mesmo, sem máscaras ou mentiras. Ela disse para deixar minha dor virar o impulso para a minha extrema felicidade.

-E por que está me ajudando? Eu procuro vingança não é algo que alguém possa se orgulhar. - pergunto limpando os cantos dos meus olhos.

-Eu realmente não sei, acho que estou louco mas... - ele para e olha para baixo, parece estar pensando. - Eu estou ajudando alguém que todos as sua volta estão ignorando. Quando eu te encontrei em seu escritório com pose de pessoa forte e egocêntrica pensei que iria ser um saco, você olharia para mim e me despencaria porque era isso que todos faziam, todos achavam que eu era fraco demais para ajudar ou ser alguém na vida, e quando você pediu minha ajuda pensei seriamente que tu tinhas algum problema psicológico. - rio com o que ele fala.- Até que eu descobri quem é a verdadeira Nix, tudo que ela passou, tudo que ela procura, todos os problemas e traições, eu descobri porquê daquela pose forte e egocêntrica. Descobri seus medos e sua vitórias, tudo isso em menos de uma semana, fiquei assustado comigo mesmo, e  quase morri por causa de você. Você não tem medo da morte pelo fato dela estar sempre ao seu lado, já se acostumou com a sensação da culpa, eu acho que estou te ajudando para descobrir mais sobre mim mesmo, quero aprender a ser alguém mais forte, quero descobrir como não ter medo da morte. Assim eu percebi que não estou TE ajudando, na verdade, estou ME ajudando.

It's not my FaultOnde histórias criam vida. Descubra agora