6 - Íntimo e pessoal

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"A minha consciência tem milhares de vozes. E cada voz traz-me milhares de histórias. E de cada história sou o vilão condenado."

William Shakespeare

- Por que você está tão calada, Jess? – Lucas finalmente quebrou o silêncio entre nós enquanto analisávamos os papéis na minha nova sala. Eu já estava esperando por isso, não ia demorar muito para ele ficar me cercando tentando descobrir o que se passava pela minha cabeça – Desde que chegamos aqui você parece meio fora de área. Você se arrependeu de ter aceitado a proposta?

- Ai, Lucas, para com o interrogatório! Eu não me arrependo de nada. Só estou tentando me concentrar no trabalho E analisando esses documentos, nós realmente teremos muito trabalho.

- É o loiro, não é? – merda, eu sabia que Lucas me conhecia, mas tinha certeza que consegui disfarçar.

- Não sei se você reparou, mas os três são loiros, Lucas. – continuei encarando os documentos enquanto falava, fingindo que não me importava com o seu comentário.

- Jess, você sabe muito bem de quem estou falando. Todos podem ser loiros, mas só um tem aqueles olhos azuis maravilhosos que mexem com o imaginário de qualquer mulher... e homem. – ele começou a rir e eu o olhei bem séria, sem mover um músculo do rosto.

- Segura a franga, hein, Lucas. Nós estamos aqui pra trabalhar. Você conhece a regra e ela vale pra você também. Nada de se envolver com clientes e ainda mais com clientes casados. – recitei como um mantra para mim mesma.

- Mas quem falou em se envolver? Agora é você que está se entregando! Eu achei que ele te incomodou, isso sim! Que o santo de vocês não bateu.

- Quer saber? Não bateu mesmo, mas eu sou profissional e isso não me interessa. A música me interessa. O sucesso deles me interessa. Ele não me interessa. Agora chega desse assunto!

Eu levantei para buscar um café na cozinha e ficar longe de Lucas por alguns minutos. Ele me deixou incomodada com aquela conversa e eu segurei a respiração para disfarçar. A verdade é que não tirei aquele loiro da cabeça desde que nos conhecemos. E metade da minha implicância com ele vinha desse motivo. Eu me sentia vulnerável perto dele e, acredite, eu nunca me sentia vulnerável perto de homem nenhum.

Ouvi uma melodia vinda da sala de gravação do estúdio. Era linda. Suave. Apaixonante. Me aproximei para ver quem estava tocando. Taylor estava de lado, no teclado, e não me viu entrar. Mantinha os olhos fechados enquanto tocava, balbuciando algumas palavras bem baixinho. Estava compondo. E eu fiquei lá parada olhando. O café na minha mão esfriou.

Eu admirava, sonhadora, o que certamente era obra de Deus. Ele era tão absurdamente lindo. Talentoso. Mas era perigoso olhar pra ele, tinha medo que alguém percebesse o que se passava pelos meus pensamentos. Meu olhar denunciava o que eu tentava esconder.

No final do dia, resolvi perguntar para o Isaac se ele conhecia algum corretor imobiliário de confiança. Nunca gostei de morar em hotéis. Era impessoal demais. Queria meu canto, para começar a me sentir à vontade em Tulsa, a me sentir em casa.

Eu só não esperava que ele fosse pedir justo a ajuda de Taylor. No fundo, sabia o que Ike estava tentando fazer. Queria me aproximar do seu irmão para que deixássemos de implicar um com o outro. Mas eu queria manter as coisas entre nós apenas no âmbito profissional. Eu precisava manter assim. E pra piorar a situação, eu ia conhecer a esposa dele. Passar um dia inteiro com ela, tentando disfarçar o quanto o seu marido mexia comigo.

Eu tinha extrema dificuldade para fazer amizade com qualquer pessoa, mas com mulheres era ainda pior. Elas não gostavam muito de mim. Mas também eu estava sempre trabalhando e não tinha tempo para esse tipo de coisas.

COM TODO MEU AMOR (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora