9 - Tarde demais para esquecer

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"Vou me enganar mais uma vez, fingindo que te amo às vezes, como se não te amasse sempre."

Tati Bernardi

- Cruzes, que homem grosso! Você viu isso? Nem se desculpou. - Lucas olhou para mim com indignação no olhar - Vocês dois estavam discutindo de novo, é isso?

- O que você acha? - precisei me esforçar muito para controlar a minha respiração. Se Lucas não tivesse aparecido, Taylor teria me beijado. E o pior de tudo é que eu teria deixado. Mais do que isso, teria me entregado. As coisas estavam saindo do controle entre nós.

- Isso pra mim já se transformou em outra coisa...

- Nem precisa terminar o que vai falar. Não estou interessada em suas teorias.

- Tesão reprimido. É isso que vocês dois sentem um pelo outro! Pronto, falei! - nem me atrevi a responder com medo de minha voz falhar e ele perceber que tinha razão. Apenas o fuzilei com o olhar, arranquei o documento que ele trazia nas mãos e saí da sala.

Não consegui mais me concentrar no trabalho. Só pensava no que tinha acabado de acontecer, nos seus braços me cercando, na sua boca tão próxima a minha e na pergunta que ele havia me feito: "O que você está fazendo comigo?". Eu me perguntava a mesma coisa sobre ele... todos os dias.

Cheguei em casa e já passava da meia noite. Lucas preferiu não vir morar comigo. Nós respeitávamos a privacidade um do outro e ele achou melhor alugar um apartamento no centro, perto da gravadora. Sempre preferiu lugares agitados, diferente de mim que apreciava os momentos de silêncio e reclusão.

Eu não conseguia dormir. Taylor não saia do meu pensamento e, sozinha naquela casa, rodeada por tudo que lhe pertencia, mais uma vez, me via sonhando acordada. Eram os detalhes que mais me perturbavam. Como ele sempre girava o anel que usava na mão direita quando se sentia desconfortável. Ou cerrava os olhos quando falava rápido demais. A mania que tinha de arregaçar a manga da camiseta, sempre do braço direito. O jeito que passava as mãos pelos cabelos e os jogava para trás. A timidez que ele tentava disfarçar com as provocações, mas que seu olhar entregava. E aqueles olhos azuis que sorriam pra mim. Toda vez que ele sorria, eu me sentia mais perto do céu. Mas que droga! Estou muito ferrada!

Estava tão ridiculamente apaixonada que era patético.

Eu não me desfiz de nada que era dele. Não consegui. Pra falar a verdade, eu gostava de viver rodeada de suas coisas. De certa forma, conseguia compreendê-lo melhor. Ele falou com tanta paixão desse lugar. De como cada mínimo detalhe foi pensado com tanto carinho e cuidado. E eu enxergava esse amor e me sentia mais próxima dele ali.

Eu estava me desintegrando. Esses sentimentos me devoravam mais e mais a cada dia. E eu assistia impassível enquanto tudo saía do controle! Justo eu que costumava exercer controle sobre todos os aspectos da minha vida.

Depois do que aconteceu comigo, sempre fui tão cuidadosa. Tranquei meu coração. Não me permitia, não queria me envolver. E agora todos os muros que eu construí para me proteger estavam desabando. Ele me invadiu. E eu simplesmente não conseguia expulsá-lo de dentro de mim. Quando percebi, Taylor já era o motivo do meu sorriso todo dia de manhã. A razão de o meu coração viver acelerado, ansioso, na expectativa de encontrar o seu olhar. Porque nós podíamos estar numa sala rodeada de gente, eu sempre sentia seus olhos em mim. Nossos olhares se buscavam. E às vezes se perdiam um no outro, sem conseguir disfarçar.

Eu precisava dar um jeito de arrancá-lo do meu coração. Isso não era certo. Ele era um homem casado, com cinco filhos e não me parecia ser o tipo aproveitador ou safado que eu estava acostumada a lidar em Los Angeles. Eu certamente não fazia o tipo "destruidora de lares". Sempre abominei pessoas desse tipo.

COM TODO MEU AMOR (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora