7 - De repente é amor

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"Eu te amo como certas coisas obscuras são amadas, secretamente, entre a sombra e a alma."

Pablo Neruda

- Você não quer nem saber o valor? – Taylor me perguntou, cruzando os braços, e franziu a testa esperando uma resposta.

- Minha casa em L.A já está sendo vendida, então acredito que vai pagar por essa. – menti, sabia que eles estavam passando por problemas financeiros e não queria esbanjar - Você tinha razão! Esse lugar é especial. Tem algo aqui que me faz sentir... não sei explicar. Eu me apaixonei por essa casa e é aqui que quero morar. Eu sei que é enorme para apenas uma pessoa. Morar tão afastada assim e ainda por cima sozinha... Mas não vou conseguir escolher outro lugar.

- O Lucas não vai morar com você? Você e o Lucas... Quero dizer... – eu achei engraçada a maneira como ele perguntou, tentando não parecer tão invasivo, mas seu rosto corou imediatamente e ele abaixou o olhar claramente arrependido do que havia insinuado. Comecei a rir discretamente e ele não entendeu a minha reação.

- Taylor, é mais provável que ele esteja completamente atraído por você e não por mim. Vamos dizer que você faz mais o estilo dele.

- Ah, então ele é... – seus olhos azuis voltaram a encarar os meus expressando curiosidade e... alívio. Ele parecia aliviado em saber da preferência sexual do Lucas e eu me esforcei para não pensar demais sobre o porquê.

- Sim, ele é gay. Bem gay, diga-se de passagem.

- Talvez seja melhor que ele more com você mesmo assim. Aqui é muito afastado. Você pode precisar de alguma coisa. Eu... eu fico preocupado. – a sua declaração me pegou de surpresa. Um calor invadiu o meu peito ao saber que ele se preocupava comigo.

- Talvez. – respondi simplesmente, tentando disfarçar o quanto ele mexia comigo.

- Eu vou sentir falta desse lugar. Das minhas coisas. – ele olhava ao redor, perdido em lembranças.

- Você pode levar todas as suas coisas, os seus móveis!

- Não. Quando eu construí essa casa, pensei em cada mínimo detalhe. As coisas que estão aqui pertencem a esse lugar. – ele estava triste de novo, pensativo.

Taylor caminhava pelo seu antigo quarto, nostálgico, passava os dedos pelos móveis, pelo lençol da cama. Tudo ali era dele. Tinha o cheiro dele. Eu fiquei em silêncio, respeitando seus sentimentos. De certa forma, dividíamos um momento de intimidade.

Pela primeira vez, eu enxerguei a sua vulnerabilidade. E o fato de ele não tentar esconder isso de mim, me fez perceber que eu estava errada. Ele não era como os playboys arrogantes que eu conhecia em Los Angeles. Taylor era homem. Um homem sem medo de demonstrar as suas fraquezas. Ele estava emocionado. Seus olhos marejados entregavam.

Taylor abriu a janela que dava para a varanda e inspirou fundo o ar puro do fim de tarde. Mesmo de costas pra mim, eu sabia que estava chorando. Podia sentir. E não consegui mais me segurar. Me aproximei e toquei o seu ombro. Ele se virou pra mim, sem vergonha de mostrar suas lágrimas. Aquilo foi demais. Eu perdi o controle.

Invadi o seu espaço pessoal sem pedir licença e o abracei, me acomodando entre seus braços. Ele ficou sem reação por alguns segundos, com as mãos suspensas no ar, até que pude senti-las tocar as minhas costas, retribuindo o abraço. Eu estava com a cabeça encostada em seu peito, inspirando o seu cheiro, sentindo sua respiração forte, num vai-e-vem acelerado que aumentava o ritmo a cada segundo. Seu coração estava disparado. O meu também.

Eu não conseguia me mexer. Fiquei paralisada em seus braços. Senti uma de suas mãos acariciar os meus cabelos e só então levantei meu rosto para encontrar o seu olhar. Nós não dissemos nada. Ficamos apenas nos encarando intensamente. Seus olhos azuis estavam mais claros que o normal, talvez por ter chorado. Não me lembro de ter olhado tão profundamente pra alguém assim em toda a minha vida. Era quase indecente, como se ele pudesse me penetrar usando apenas o seu olhar. Íntimo demais.

Eu fiquei hipnotizada. Ele também. Com aqueles olhos ainda presos aos meus, ele começou a deslizar a mão mais para baixo. Seus dedos percorreram a lateral do meu corpo. Então começou a subir novamente pelas minhas costas, tracejando o zíper do meu vestido.

Nós estávamos numa espécie de dança, colados um no outro. Tão próximos que não existia espaço entre nossos corpos. Eu levantei a mão e passei levemente meus dedos pelo seu rosto, limpando algumas lágrimas que ainda restavam. E quando fui retirar a minha mão, Taylor a segurou, mantendo onde estava, pressionando contra a sua face.

Se naquela manhã, alguém me falasse que no final do dia eu estaria prestes a beijá-lo, teria gargalhado. Era impossível. Minha presença o incomodava, como ele mesmo falou. Então, por que eu enxergava aquelas faíscas no seu olhar? Por que eu estava prestes a me entregar a um homem que até pouco tempo não me suportava? Eu sabia a resposta. Toda aquela tensão que havia entre nós. Nós estávamos atraídos um pelo outro. E sozinhos naquele quarto, isso se tornou perigoso demais. Intenso demais.

A sua boca me chamava, em chamas, queimando a minha alma em um insano desejo. E eu queria me queimar, me esquecer de tudo. Naquele momento, não existia nada além de um homem e uma mulher que se desejavam ardentemente.

 Naquele momento, não existia nada além de um homem e uma mulher que se desejavam ardentemente

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Mas a realidade estava prestes a me dar um tapa na cara. O celular de Taylor tocou e eu fui arrancada do transe em que me encontrava, me afastando dele abruptamente.

O que eu estava fazendo? Ele era um homem casado! Nós estávamos dentro do quarto que até pouco tempo ele dividia com a esposa!

- Você não vai atender? Pode ser sua esposa! – falei sem pensar. Estava ressentida, me sentindo culpada.

- É ela sim. E eu não acho que seja o melhor momento para atender a esse telefonema.

- Pois você devia atender! Ela é sua mulher! Deus, não sei onde eu estava com a cabeça! – falei tão baixo que ele não conseguiu ouvir - Eu acho melhor eu ir embora. – peguei minha bolsa em cima da cômoda e tirei o celular de dentro.

- O que você está fazendo, Jess?

- Estou ligando para um táxi. Não precisa se incomodar em me levar.

- Para com isso! Eu levo você para o hotel. – ele fez menção de que iria se aproximar, mas eu levantei a minha mão, como se estivesse implorando para que parasse.

- Não! Eu realmente preciso ir embora. Sozinha. Vou passar seu contato para o meu advogado, assim ele pode analisar a papelada da casa antes de fecharmos a venda. Obrigada por ter me ajudado a achar o lugar.

Eu não me aproximei mais dele, apenas virei e desci as escadas para sair logo dali. Preferi fingir que nada tinha acontecido. Eu precisava me afastar. Meus sentimentos ficavam todos bagunçados perto dele. 

COM TODO MEU AMOR (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora