O Começo

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Acordei com o forte barulho de chuva, porém ainda não havia amanhecido, eu conseguia ver através da janela a noite profunda e sombria que habitava no jardim. Levantei e sai do meu quarto em direção ao escuro corredor que me engolia cada vez que eu caminhava por ele.

Avistei a porta do quarto proibido, foi meu pai que dera esse nome, ele diz que é lá onde sua alma fica guardada. Nunca me atrevi a entrar, seria minha morte se ele descobrisse que eu teria feita tal coisa. Passei rapidamente por aquela porta para conter minha curiosidade, desci as escadas até que o encontrei.
Um homem alto de cabelos escuros como carvão, apesar de aparecer uns fios brancos na cabeça, ainda era bem atraente e aparentava ser bem mais jovem do que sua idade dizia. Os seus olhos eram azuis acinzentados e sua barba estava grande, talvez fazia dias que não se barbeava.
- Está tarde para ficar perambulando pela casa, você não acha? - disse com uma voz rouca.
- Eu só vim tomar uma água - respondi com a garganta seca.
Ele me olhou de forma rigorosa e continuou a subir as escadas cambaleando.
- Está bêbado - pensei e logo me entristeci.

Fui até a cozinha, peguei um copo d'água e voltei para meu quarto. Deitei-me e adormeci.
Já era de manhã quando acordei com gritos vindo de dentro da minha casa. Abri a porta do quarto e vi os criados correndo pelo corredor assustados e chorando.
Margareth, minha camareira se aproximou e me disse:
- Seu pai! - e voltou a soluçar e chorar correndo em direção às escadas.
Corri até chegar ao quarto proibido, e a porta estava aberta dessa vez. Ao entrar vi três médicos em volta e um homem que me abordou.
- Senhorita, preciso que se afaste. - disse o homem .
Não quis ouvir o que mais ele tinha a dizer, continuei caminhando até que eu o vi. Meu pai estava no chão com sangue em sua volta. O homem que eu havia visto na última noite estava morto.
- Mas o que... - foi a única coisa que saiu da minha boca, quando minha mãe apareceu e pegou nos meus braços me levando para longe do cadáver.
- Myrrine, fique longe disso! - disse minha mãe em um tom raivoso.
- Como isso aconteceu? Como ele...- antes que eu pudesse terminar ela me cortou.
- Não me diga que está triste com a morte desse monstro? Depois de tudo o que aconteceu?
- Eu não entendo... Eu... - ela me cortou de novo e sussurrou no meu ouvido
- Assassinato.
- Quem o matou? - minha voz saiu rouca como se uma bola estivesse na minha garganta.
- Não quero mais saber de perguntas.
- O que quer dizer? Por que está tão cal... Meu Deus! Não vai me dizer que voc...- antes que eu pudesse terminar a frase e expressar minha indignação, ela me interrompeu e sussurrou novamente no meu ouvido.
- Não fui eu. Deus enviou uma pessoa para tirar esse monstro de nossas vidas. Não percebe? - deu um enorme sorriso que a fez parecer uma louca e logo depois fez uma cara de choro e saiu para falar com os detetives e policiais que estavam no corredor esperando.

Eu vi meu pai morto. Dimitri Lemaire, o famoso pintor de Avignon. E eu não estava triste, nem uma lágrima se formava nos meus olhos e eu estava começando a me odiar por isso. O pior é que minha mãe havia enlouquecido, Arletta Ann Lemaire, uma mulher religiosa de cabelos castanhos claros e olhos negros mais profundos do que um poço, baixa com um corpo não muito esbelto, mas para sua idade fazia com que fosse a mulher mais bem cuidada de Avignon. 

Dimitri era horrível como pai e como marido, dormiu com quase todas mulheres do vilarejo, casadas ou não, ele não se importava. Era egoísta e mal falado por todos, talvez ele tivesse merecido esse final. Será que isso me faz ser uma pessoa má? Uma angústia começa a tomar conta do meu corpo, quando a tensão foi cortada pelo detetive que se aproximou.

- Tenho algumas perguntas Senhorita Lemaire. 

Estremeci. O mistério estava apenas começando. 

Dentro da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora