Muitos dizem que a vida é uma preciosidade, uma coisa rara e especial que pode ser levada pela morte. Por isso, as pessoas tentam sobreviver, alguns desistem, mas outros são capazes de fazer de tudo para salvar suas vidas.
Nunca pensei em prezar tanto pela minha vida. Não até agora.
O Sanatório não era grande e isso facilitava nosso deslocamento pelo local. Chegamos no meu quarto e procurei pela cama em busca da foto, da minha foto de família.
- Pronto. Peguei - eu disse levantando-me depois de ter pego a fotografia escondida de baixo da cama.
- Temos que sair logo daqui - Cumberland falou em um tom sério.
Observei Cumberland cuidadosamente e percebi que ele é mais do que um jardineiro e criado. É uma homem tão forte e determinado. Um guerreiro.
Seus cabelos castanhos avermelhados estavam suados e seus olhos estavam apagados, sem brilho nenhum. Mesmo assim, nada disso abalou sua beleza. Era sem dúvidas o criado mais gracioso que conheci.
- O que foi? - ele perguntou
- Nada - caminhei até a porta - Temos que ir.Fomos em rumo a saída e tudo estava em silêncio. No caminho encontramos alguns pacientes no chão chorando, outros estavam delirando e nos encaravam insanamente.
Finalmente saímos daquele lugar e Pária e Dóris esperavam por nós.
- My! Você está bem? - Dóris correu até mim e me abraçou.
- Sim. Estamos bem.
Quando olhei para frente surpreendi com o que encontrei. John Brahms e Victorine Apolon estavam perto de algumas árvores.
- Onde vocês estavam? Por que demoraram tanto? - perguntou John Brahms
- O que está fazendo aqui? - encarei John
- Viemos te salvar. - John cruzou os braços.
- Vai me dizer que eles também fazem parte do plano? - olhei para Cumberland
- É, o sr. Brahms, sim. O sr. Victorine Apolon está aqui como... Bem, ele intrometeu-se sem ser chamado, mas fez questão de ajudar. - Cumberland encarou Victorine
- Srta. Lemaire, o seu criado é simplesmente um ignorante que não sabe reconhecer seu lugar na sociedade e... - John interrompeu Victorine
- Será que podemos ir embora logo? Estamos correndo risco ficando parados aqui. - John caminhou até uma carruagem e abriu a porta - Entrem logo.
Cumberland, John, Victorine e eu entramos, enquanto Pária e Dóris tiveram que ir junto ao cocheiro, pois não havia mais espaço.
- Agora podem me dizer o que estão planejando - olhei para Cumberland - Por que fizeram isso comigo?
- Para te proteger. Isso está muito além da maldição. Alguém está querendo as obras para ganhar dinheiro.
- Mas elas estão amaldiçoadas. Quem iria querer comprar algo tão perigoso assim?
- Madre Sicília faz parte disso - disse John - Ela está trabalhando para alguém e ia roubar a obra do meu tio Kennedy, até então você aparecer e incendiar o quadro e a minha linda mansão que ganhei de herança. Você fez um ótimo trabalho. - John deu um sorriso debochado.
- Você sabia que eu sou filha de Kennedy Brahms? - perguntei
- Não. Quando cheguei na mansão e vi o quarto do bebê fiquei confuso. Meu tio não estava em condições de ter um filho. Você é um milagre, srta. Lemaire.
- Minha mãe disse uma vez que eu sou filha do demônio. O que Kennedy fez?
- Como você sabe, ele foi o único Brahms que ficou vivo. Todo o resto da família morreu, meus pais, meus avós e meus tios... A cidade toda dizia que ele era fruto do mal. E ele era mesmo. - John me encarou - Os quadros dele eram estranhos, refletiam sua alma e foi então que ele fez um pacto, o que deu início ao o que aconteceu com seu pai, quer dizer... seu outro pai, Dimitri Lemaire.
- Dimitri foi morto não por causa da criatura e da maldição, Myrrine - começou Cumberland - Alguém o matou para pegar a obra que ele estava fazendo. Sabe quanto ganharia se vendesse uma obra prima de Dimitri Lemaire? Seu pai... Dimitri... Desculpa - Cumberland ficou confuso - Enfim, ele era o rei da arte em Avignon.
- Dimitri Lemaire é meu pai. Não importa se ele é o verdadeiro ou não. - eu disse e todos ficaram quietos.
Dimitri Lemaire machucou minha mãe e era um alcoólatra, mas ele nem sempre foi assim, eu sei disso. Mas independente de tudo, eu farei justiça a sua morte.
Encontrarei quem o matou e vou acabar com maldição, afinal, eu sou a filha do mal.°
Conversamos e esclarecemos tudo enquanto estávamos na carruagem.
- Para onde vamos agora? - perguntei
- Vamos te levar para casa. Se ninguém invadiu sua casa nesse tempo, temos que esconder o quadro de Dimitri, não podemos deixar que o levem. - disse Cumberland
- Isso tudo é loucura - Victorine apertou os olhos e colocou a mão na cabeça - Eu não fazia ideia de nada disso,por que não me contou sobre isso, Myrrine?
- E por quê ela contaria algo a você? - perguntou Cumberland encarando-o - Seu pai é Maurice Apolon, não é? Ele não era melhor amigo de Dimitri? Quem sabe ele não esconde alguns segredos?
- Está querendo dizer que meu pai o matou? Quem você pensa que... - Victorine estava de frente com Cumberland e levantou o dedo para ele
- Parem com isso! - esbravejei
- O sr. Maurice Apolon não deve ter gostado de chegar em casa e ver Dimitri transando com sua mãe, não é? Não acha que isso pode ter despertado um lado negro nele? - Cumberland deu um sorriso malvado
- Seu desgraçado! - Victorine o pegou pelo pescoço e John tentou separar os dois
A carruagem começou a balançar e eu comecei a gritar.
- Parem! Parem com isso! - a carruagem parou e eu abri a porta e sai.°
Eu comecei a chorar e fiquei parada na estrada vazia e fria. Cumberland saiu da carruagem e veio atrás de mim.
- Você foi muito maldoso, sabia? - eu o encarei
- Olha, é muito estranho esse cara aparecer depois da morte de Dimitri. Não acha que o pai dele pode ter o enviado para se aproximar de você e pegar o quadro?
- Maurice Apolon jamais faria uma coisa dessas. Dimitri e ele eram melhores amigos.
- Sim, eles eram. Até Dimitri fazer o pacto e virar um sucesso. Ele transou com a esposa de Maurice, ele traiu o seu melhor amigo. O que impede de ele ter matado Dimitri por vingança?
Fiquei calada porque talvez ele tivesse razão. Maurice Apolon nunca mais nos visitou depois do escândalo que Dimitri fez, e ele só apareceu no dia do funeral, na noite em que conheci Victorine.
- Eu só quero ir pra casa - foi o que consegui dizer
- Tudo bem. Nós vamos resolver isso. - Cumberland aproximou-se de mim e abraçou-me
Pária e Dóris que estavam em cima da carruagem nos observou.
- O que fazemos com Victorine? - perguntou Cumberland
- Eu irei descobrir suas verdadeiras intenções. Talvez ele não tenha nada a ver com isso. - enxuguei meu rosto molhado pelas lágrimas e entrei novamente na carruagem.A viagem até Avignon foi silenciosa, não dizemos nada no caminho.
Eu estava pensativa e olhei para Victorine. Ele foi tão doce comigo durante o tempo em que nos vimos, mas Cumberland tem razão, e se ele for cúmplice de Maurice? O que um filho faria pelo pai? Pelo dinheiro?
Não tínhamos certeza de quem matou Dimitri Lemaire, mas a verdade chegaria.°
Caros leitores;
Espero que estejam gostando da história. Curtam e comentem para tornarmos Dentro da Alma uma boa leitura para todos!
Escrever me revigora e cada capítulo tem muito de mim, tudo vem literalmente de dentro da minha alma.
Obrigada por lerem até aqui.
Até os próximos capítulos,
- Miles Maria
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Dentro da Alma
HorrorMyrrine Lemaire é filha do pintor mais brilhante de toda França; Dimitri Lemaire. Ela vive em Avignon com ele e sua mãe; Arletta Lemaire. Os Lemaire são uma das famílias mais renomadas do vilarejo, mas Dimitri mostra-se como alcóolatra e adúltero;...