Amantes da dor

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Uma dor profunda pairava sobre meu ferimento enquanto o sangue manchava meu vestido. Senti que alguém me levava nos braços e de longe conseguia ouvir ruídos.

Quando abri os olhos, ''os homens da minha vida'' estavam lá. Cumberland, John e Victorine.

- Cuidado, Lemaire. Tem que permanecer deitada - disse John enquanto arrumava meu travesseiro

Pontadas agudas invadiam meu ferimento.

- Está doendo - eu disse

- Agora que você acordou, pode me dizer como diabos isso aconteceu? - perguntou Cumberland

- Cale-se sua marmota! Ela ainda está atordoada, deveríamos deixá-la descansando - respondeu Victor

Cumberland encarou-o com raiva.

Minha cabeça girava e cada vez mais eu ficava confusa.

- Arletta - passei os lábios pela minha boca seca - ela fez isso comigo

Os três me olharam surpresos. 

- Como... - antes que John pudesse terminar a frase, Cumberland cortou-o 

- Ah! Eu sabia que não era uma boa ideia deixar você aqui sozinha! Agora todos enlouqueceram - Cumberland levantou-se e estava muito tenso

- Eles querem invocar a criatura e fazer algum tipo de ritual para adquirir poder, e depois irão vender os quadros... - tentei me mover mas a dor estava muito forte.

John aproximou-se de mim

- Eles...? Quem? Você descobriu quem matou Dimitri? 

Olhei para Victorine e fechei os olhos. Pensei na dor que ele sentiria ao descobrir que seu pai era um assassino.

- Maurice... - eu disse - E Arletta foi cúmplice - meus olhos encheram de lágrimas

Victorine piscou os olhos atordoado

- Seu desgraçado! Eu sabia que seu pai fazia parte de tudo isso! Você sabia esse tempo todo, não é? - Cumberland o agarrou pelo colarinho mas Victorine não esbanjou nenhuma reação

- Pare com isso! Ele não sabia! - eu gritei 

Cumberland soltou-o.

- E-eu... - a voz de Victor estava falha

- Eu sinto muito - foi a única coisa que consegui dizer

Todos ficaram em silêncio. John pegou um copo cheio de bebida e sentou-se na poltrona. 

- ''Vamos invocar demônios e ganhar dinheiro juntos! Tenho certeza que seremos a dupla mais poderosa de toda a França!'' - John levantou o copo como se estivesse brindando e bebeu - Que ideia ridícula! Quem pensa em uma patifaria dessas? 

- O que iremos fazer agora? - perguntou Cumberland

- Nada - respondi

Todos me olharam menos Victorine que estava com o olhar perdido desde que recebera a notícia.

- Eu não tenho mais forças. Pensei que eu pudesse fazer alguma coisa, mas não posso - deixei minha cabeça descansar no travesseiro - Não me importo mais com nada disso. Só quero ficar em paz.

- Fizemos tudo isso para nada? - Cumberland agachou-se ao meu lado na cama e segurou minha mão - Eu sei que está cansada, mas o fantasma de Dimitri vai te perseguir para sempre se você não o libertar. Não importa se ele era um homem ruim ou não, ele nunca irá descansar. Eu sei que você tem pesadelos e não importa se você fugir, ele sempre estará com você.

John se levantou e foi até minha direção também.

- Acabe logo com isso.

Fechei meus olhos e por mais que minha vontade fosse de sumir, Cumberland tinha razão. Dimitri nunca me deixaria em paz; seu espírito me perseguiria. A  maldição sempre me perseguiria. 

- Preciso falar com você... - Victorine dirigiu seu olhar vazio e entristecido para mim - A sós...

John deixou a bebida de lado e encaminhou-se para a porta. Cumberland ficou desconfiado e não soltou minha mão.

- Está tudo bem. Vá - eu disse 

Ele deu uma última encarada em Victorine e saiu pela porta.

Victor se aproximou de mim mas ficou em silêncio por um tempo.

- Sabe, quando você foi para Conway iniciar seus ''estudos'' religiosos, pensei que iria te perder. - ele começou dizendo

Fiquei surpresa ao ouvir aquelas palavras e meu coração começou a bater mais rápido.

- Então eu viajei para lá atrás de você. Naquele dia que te visitei, eu ia te pedir em casamento, mas fiquei receoso - Ele apertou os dedos entre as mãos. Estava nervoso - Você teve tantas perdas... - Victorine olhou para mim e continuou - Eu não sabia de nada disso, eu juro. Como pude ser tão estúpido... Foi ele todo esse tempo...

- Eu sei, acredito em você. No começo eu desconfiava da Arletta, mas fui confiando nela e... Foi tarde mais. Eles conseguiram nos enganar - eu disse

Tentei me levantar um pouco e ajeitar-me na cama.

- Eu quero que saiba que sempre estarei aqui para você - ele colocou a mão em seu peito - E eu irei te ajudar a acabar com tudo isso.

Segurei sua mão e meus olhos se encheram de lágrimas.

- E-eu sinto... muito. Tudo isso é loucura. Eu não sei o que fazer - Comecei a chorar

Victorine abraçou-me. Ele segurou minha cabeça e envolveu meu rosto em seus dedos enquanto olhava bem no fundo dos meus olhos.

- Nós daremos um jeito.  Je t'aime... pour toujours - e então, Victor me beijou

Senti que não estava mais sozinha. Estava na hora de deixar as dores no passado e enfrentar o inferno mesmo se isso significasse que eu tivesse que ir até lá.

°

Caros leitores;

Peço novamente desculpas pela demora. Essa semana ainda terá mais atualizações (eu prometo).

Até o próximo capítulo!

Com amor;

Miles Maria

Dentro da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora