O Baile de Sangue - Parte II

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Depois do desastre, eu voltei para a pensão. Ainda não acreditava que Margareth morreu, e tudo isso talvez possa ter sido minha culpa. Eu nunca me perdoarei. 

- Myrrine, precisa de alguma coisa? - Danielle sentou ao lado da cama onde eu estava deitada - Eu sinto muito pelo o que aconteceu senhorita. - Ela me deu um último olhar de tristeza e saiu. 

Na manhã seguinte, uma chuva forte estava caindo, como se o mundo estivesse desabando. E talvez estivesse mesmo.

- Srta. Lemaire, você tem uma visita. - disse a criada. 

Desci as escadas até chegar a sala de estar e lá estava um homem de pele e cabelos escuros.

- Olá, Myrrine. Sou Antonie Yan e estou investigando o caso da morte de Margareth. Vim fazer algumas perguntas.

- Claro. - sentei-me ao seu lado.

- Ao que parece, Margareth foi empurrada e caiu do segundo andar da mansão Apolon até o salão onde todos do baile estavam reunidos. O problema é que ninguém viu o ato. Não sei como isso pôde ser possível com o tanto de pessoas que ali estavam, mas de qualquer forma, sabe de alguém que possa ter feito isso? Suspeito que a morte de Dimitri e Margareth estejam ligadas.

- Infelizmente, senhor, não tenho ideia de quem possa ter feito tal coisa. - suspirei. 

- Seu pai não era um homem de boa índole, era famoso por seu talento mas não por sua personalidade. Talvez ele possa ter feito algum inimigo. O que me diz? Sinto muito se lhe ofendi.

- De fato, meu pai não fez muitos amigos, mas creio que gostará de saber que Kennedy Brahms e Dimitri se conheceram em Londres a alguns anos atrás, e desde então as coisas mudaram. 

- Srta. Lemaire, não vai me dizer que acredita nos rumores da maldição da família Brahms? São histórias que as pessoas inventam. Aliás, Kennedy não podia sair de casa por conta de sua saúde. Sempre foi um homem fraco e doente. Impossível ele ter saído de Gales e viajado até Londres. Creio que o encontro de Dimitri e Kennedy nunca ocorreu. 

- E o que me diz sobre John Brahms? Chegou em Paris juntamente conosco. Nunca o conheci e estava agindo de forma estranha. - levantei-me e logo disse em seguida: - Desculpe-me Sr. Yan, mas se veio até aqui para me fazer perguntas e não acredita em nenhuma das minhas respostas, não sei o que faz aqui. Peço-lhe gentilmente que se retire. E no caso da morte de meu pai e Margareth, faça o que quiser, já que não mudará o fato de ambos estarem mortos. 

Antes de me retirar Antonie Yan me chamou e disse:

- Eu irei descobrir quem fez isso Myrrine. Só não acredito em misticismo, e você deveria fazer o mesmo. Estamos falando de duas mortes, dois assassinatos. Uma maldição não justifica isso. - ele colocou o chapéu na cabeça e saiu. 

Passei o resto do dia no quarto e pedi a minha mãe que adiantasse minha viagem de volta a Avignon. Já não suportava mais ficar em Paris, já que estar lá me trazia as lembranças amargas do baile. 

- Querida... - Arletta entrou no quarto e segurou meu queixo gentilmente. - Não pode ficar no quarto o dia inteiro, você nem ao menos comeu.

Não respondi. 

- Pedi a Sra. Bart para que chamasse a carruagem. Amanhã a tarde você voltará a Avignon, não se preocupe.

- E você não virá comigo?

- Não. Tenho assuntos pendentes a resolver ainda, e com o que aconteceu com Margareth, tudo isso têm virado um escândalo. Preciso ajeitar as coisas. - Arletta me olhou de forma gentil e continuou: - mas não se preocupe, não deixarei você voltar sozinha. Por isso voltará com nosso novo criado.

- Novo criado? O que quer dizer? - perguntei

- Encontrei o jardineiro para substituir o velho Augustus. Ele trabalhava para o Sr. Apolon, e quando eu disse que precisava de um novo jardineiro, ele ofereceu esse jovem rapaz. - Arletta segurou minha mão - Myrrine, não pode sair de Paris sem se despedir dos Apolon. Foram tão gentis em nos convidar para o baile, mesmo com o que... Enfim! Você se sentirá melhor quando sair e tomar um ar. 

Quando fui sair da pensão, eu encontrei com um jovem rapaz de cabelos que pareciam misturar um ruivo e marrom e seus olhos eram azuis acinzentados. Aparentava ter pelo menos vinte e quatro anos. Mas aqueles olhos... Era como se eu já reconhecessem e fossem tão familiar.

- Boa tarde, Srta. Lemaire. É um prazer conhecê-la. Sou Castiello Cumberland.

- Prazer. Espero que saiba jardinagem assim como Augustus, meu antigo criado sabia.

- Farei meu melhor. Com licença. - ele fez uma reverência e saiu. 

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Na tarde seguinte, preparei minhas malas para voltar a Avignon. Eu estava em frente a pensão esperando a carruagem ficar pronta para partir quando Victorine apareceu. 

- Lemaire! Que bom que ainda não partiu! Como você... está? - ele coçou a cabeça de forma desajeitada. 

- Estou tentando ficar bem. Depois do que aconteceu... as coisas ficaram difíceis. 

- Eu sinto muito pelo o que ocorreu. Sei que Margareth era uma grande amiga e uma ótima criada. Todos convidados ficaram horrorizados com o ocorrido.

- Bom... Imagino que deve ter sido difícil para vocês, até porque a tragédia ocorreu na sua casa. Sinto muito por isso. - olhei para o chão tentando conter o choro.

- Myrrine, olhe, não chore. Por favor... Eu... - ele olhou para o lado com o olhar perdido. - Eu preciso ir. Faça uma boa viagem, espero nos vermos em breve.

- Diga ao Sr. Maurice Apolon que mandei meus cumprimentos e que perdoe-me pelo baile desastroso. Nos vemos futuramente. - entrei na carruagem e Victorine disse:

- Você ainda me deve uma dança Myrrine. Infelizmente, não foi possível nesse baile, mas em um próximo, quem sabe. - ele sorriu.

- Terei o maior prazer. - sorri de volta e o vi partir.

Arletta apareceu e me deu um sorriso. 

- Cuide-se minha querida. Que Deus te acompanhe! Voltarei daqui cinco semanas para casa. Certificarei-me de que nada de mal acontecerá com você. - ela pegou minha mão e deu um beijo. 

A carruagem começou a andar. Cumberland, o novo jardineiro, olhou-me fixamente de forma séria.

- Srta. Lemaire, acho que você precisa da minha ajuda. 

- Como é? 

- A maldição Brahms. Eu sei como te ajudar.

- O que quer dizer com isso? 

- Dimitri Lemaire e Kennedy Brahms, a maldição. A criatura. Eu sei.

Olhei para ele assustada.

- Como você sabe disso?

- Vou te contar tudo. E tudo começa em Conway, Gales. A história da maldição da família Brahms. - ele olhou para a janela da carruagem. - E é uma longa história...

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Dentro da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora