O Bebê

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'' O sonho da razão produz monstros''

- Francisco Goya

A mansão Brahms era fria como a minha casa. Mais fria que um corpo morto e sem sangue. Quanto mais eu caminhava pelos corredores, mais a escuridão me engolia. Mas eu já estou acostumada com o escuro. Já faz parte de mim e da minha vida. É como se eu olhasse para mim mesma e visse um vazio, um lugar gelado e sem vida.

Eu não sabia para onde ir, eu só andava e observava as paredes em busca de um quadro com uma criatura. Era só isso que eu precisava fazer, porém eu não encontrava. Foi então, que uma porta se abriu e sussurros começaram pelo longo corredor em que eu estava. 

Levantei o candelabro a fim de iluminar o caminho até a porta e fui em direção a ela. Empurrei-a devagar e entrei. A luz das velas revelaram um pequeno quarto com um berço e brinquedos em volta. Era um quarto de bebê. 

Pousei o candelabro em uma cômoda e observei cada detalhe do ambiente. Em cima do criado mudo tinha uma bíblia. Quando a peguei, um papel caiu no chão. 

Cometi o maior pecado da minha vida e agora terei que viver com isso para sempre. Eu sinto muito. Jamais poderei vê-lo novamente. Levarei sua maldição no meu ventre e Deus nunca me perdoará.

Encontrarei-te no inferno;

Arletta A. Lemaire

Um bilhete da minha mãe. Como isso é possível?

Abri a bíblia e encontrei uma foto. Kennedy Brahms estava sentado em uma cadeira de rodas de madeira com uma coberta em suas pernas e Arletta estava ao seu lado, segurando sua mão.

Deixei a bíblia cair com lágrimas nos olhos. Eu sou o bebê. Todo esse tempo eu era uma Brahms, a própria maldição. Myrrine Brahms, foi o que a criatura disse quando a vi no meu quarto. 

Meu corpo foi tomado pela angústia e minhas pernas não aguentaram. Cai no chão e tudo estava girando. Vozes e sussurros voltaram a soar em minha cabeça.

- Saia daqui! - eu disse - Saia da minha cabeça!

Uma visão de Kennedy Brahms e Arletta surgiu. Ambos estavam no quarto e era como se eu estivesse assistindo a uma peça. 

- Fiz este quarto para o bebê. Não precisa se preocupar. - Kennedy estava sentado na cadeira de rodas. 

- Kennedy, eu não posso me mudar para cá. Não posso fugir. - Arletta tinha um olhar triste. - Isso foi um erro.

- Você não pode passar o resto da sua vida com aquele animal! É o meu filho! 

- Não, Kennedy. A partir de agora, este bebê é filho de Dimitri. E não há nada que você possa fazer. - Arletta ia sair do quarto quando Kennedy tentou se levantar da cadeira.

- Isso é patético! Todos irão descobrir que essa coisa é um bastardo! Você estará arruinada, Arletta. 

- Eu já estou arruinada... - Arletta começou a chorar. - Não me procure e deixe Dimitri em paz! 

- Tarde de mais. Ele concordou com o pacto. Não há nada que eu possa fazer, mas você pode. Venha morar comigo, vamos cuidar desta criança juntos.  - Kennedy tentou dar um passo e começou a tossir. 

- Olhe para você. Está doente e possuído. Fique longe da minha família, Kennedy. - Arletta saiu do quarto aos prantos. 

°

A minha visão voltou ao normal até desaparecer a figura de Kennedy. Levantei-me depressa e percebi que eu estava tremendo. Quando fui sair correndo do quarto, eu avistei um quadro com a figura de uma criatura. Encontrei. Como eu não a vi antes?. Não importa, ela está aqui na minha frente!

Dentro da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora