O Convento

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Eu acordei e minha cabeça ardia como fogo. Levantei-me depressa assustada e ao me olhar no espelho, havia marcas de mãos pelos meus braços até perto do pescoço.
A criatura esteve aqui noite passada e ela falou comigo.

Eu não sentia mais medo, eu sabia que aquilo fazia parte de mim agora, mas, as coisas estavam indo longe demais. Pessoas estavam morrendo e só havia um jeito de acabar com isso, e era indo até Conway, Gales.

Coloquei um vestido preto de mangas longas e com a gola até o pescoço para cobrir as marcas. Logo após, fui encontrar Cumberland no jardim.
- Bonjour, senhorita.
Deu um pequeno sorriso.
- Eu sinto muito pela Claire. Isso já foi longe demais, temos que fazer alguma coisa. - Cumberland me olhou - Você sabe que precisamos terminar com isso, não sabe?
- Sim. Eu sei. - respondi - Como vou convencer minha tia a me deixar viajar para Conway? É muito longe daqui e não há nada para mim lá. Não posso dizer que viajarei a Gales para acabar com uma maldição.
- Há um convento em Conway onde ensinam o catolicismo para moças como você. Sua tia não poderá recusar, mas você terá que ser convincente.
- E quanto a você? Não poderá viajar comigo. A sociedade francesa sempre anseia por escândalos e boatos entre damas e criados.
- Darei um jeito. Conheço alguém que pode me ajudar. Direi a sua tia que um parente faleceu e que precisarei de uma semana. Eu te encontrarei lá, Lemaire.
- Mesmo se você não for, eu acabarei com isso. - virei-me e pude escutar Cumberland dizendo.
- Boa sorte, Myrrine. Nos vemos daqui uma semana.
       
                                    °
Entrei em casa e percebi o quão grande ela era. A sala estava toda iluminada pela luz do sol e a escada do hall de entrada era simplesmente elegante. Subi os degraus e avistei o longo corredor.
Fui até os aposentos da tia Lacey onde a própria estava sentada na mesinha de chá perto a janela.
- Myrrine, querida, entre.
Entrei e sentei-me junto a ela.
- Tia, estive pensando e eu gostaria de iniciar os estudos de catolicismo no convento de Conway.
- Conway? Isso é um absurdo Myrrine,  há inúmeros conventos aqui na França. Aliás, você odeia ir a Igreja. Sempre insultou a Deus com suas atitudes de heresia.
- É por isso que quero ir, tia Lacey. Eu estou muito arrependida pelos meus atos. Juro que se a senhora me der a permissão de ir a Conway, tornarei-me uma santa. - tentei dizer tudo isso com vontade, como se eu realmentr quisesse ser uma devota. Mal sabe ela que eu vou me afundar na escuridão. Na escuridão da criatura.
Tia Lacey bufou.
- Se é mesmo o que quer... Mandarei o Padre Ryan te acompanhar em sua viagem. Ele ainda poderá te apresentar a madre responsável pelo convento de Conway.
- Padre Ryan? Não pode mandar outra pessoa comigo? A viagem é bem longa e o padre já está com idade, tia eu não...
- Silêncio Lemaire. Padre Ryan não se importará em acompanhá-la. Se quer ser uma santa, comece tendo simpatia pelo padre Ryan.

                                  °
Alguns dias se passaram e eu já estava a caminho do convento em Gales. A viagem era bem longa e o padre Ryan realmente acabou me acompanhando.
- Estou feliz por estar seguindo a luz do Senhor, Lemaire. - ele me olhou e deu um sorriso.
- E sempre irei segui-lo, padre.
- Amém.
Depois de algumas horas, finalmente havíamos chegado.
O convento era enorme. Tinha uma arquitetura barroca e cheia de estátuas angelicais na estrutura e nos jardins. Em frente a entrada, havia algumas madres e moças cuidando das flores.
- Madre Sicília, que prazer revê-la - disse padre Ryan.
- Meu querido, Deus te abençoe! - respondeu a madre.
Madre Sicília era velha e tinha os olhos castanhos claros.
- Essa deve ser Myrrine Lemaire. - disse Sicília.
Forcei um sorriso a ela.
- Myrrine quer aprender sobre o catolicismo. Espero que ela seja uma boa serva. - respondeu Padre Ryan.
- Venha querida, deixe-me lhe mostrar o local. - Madre Sicília pegou minha mão e me guiou.
- Boa sorte Lemaire - Padre Ryan acenou e virou-se.

                                  °
O convento era enorme por dentro. Possuía biblioteca, capela, refeitório, Igreja, salas de aula e um único dormitório que abrigava mais ou menos noventa e oito camas.
- Acho que deve ficar ciente de algumas regras, Myrrine. - começou a Madre. - Todas as manhãs, vocês irão acordar cedo e ir a capela rezar, depois terão aulas e o almoço. Todos os dias, cada uma das moças tem uma tarefa a fazer. Deverá ajudar as outras madres a limpar o salão, cuidar do jardim e arrumar os quartos. Você pode ser uma dama na França,mas aqui no convento,você é apenas uma serva do Senhor assim como todas as outras. Sem nenhum tratamento especial,portanto, espero que a senhorita saiba fazer deveres domésticos, se não sabe, irá aprender.
- Ãan... Certo - respondi
- A janta é servida às 18hrs e todas devem estar em suas devidas camas até às 21hrs. Se quebrar alguma regra, passa a noite na capela ajoelhada pedindo perdão. - a madre me entregou algumas roupas dobradas. - você deve usar isso enquanto estiver aqui. Arrume-se, sua primeira aula começa daqui a pouco.
Ela virou-se e foi embora.

Fui até o dormitório e me vesti. O vestido era bege com um avental branco e tínhamos que usar um crucifixo.
Depois de me arrumar, algumas moças estavam no quarto. Todas conversavam e riam.
Enquanto eu passava, alguém me chamou.
- Ei, venha aqui!
Olhei para o lado e vi uma moça com os cabelos louros presos e vestia as mesmas roupas que eu.
- Você deveria prender seu cabelo. Irmã Uta vai enlouquecer se a ver com isso solto. - disse a moça. - Aliás, sou Anabelle.
- Myrrine. - respondi prendendo meu cabelo.
- É ruim ser novata. Estou aqui a cinco anos e quase não me acostumei.
- Está aqui a cinco anos? - perguntei
- Já completei os estudos, mas não tenho para onde ir. Meus pais morreram enquanto eu estava no meu primeiro ano. Então, a madre Sicília deixou que eu ficasse aqui, desde que eu me tornasse uma freira. Não era o que eu queria, mas pelo menos tenho aonde morar agora.
- Sinto muito... Então... Você é uma freira?
- Ainda não fiz os votos, mas logo mais serei. - ela deu um pulo. - Puxa, você está atrasada para a aula. Vá! Nos vemos mais tarde.

Fui até um salão cheio de mesas e cadeiras. Estava cheio de moças, madres e freiras.
Sentei-me e esperei minha primeira aula começar.
Durante a aula, a Irmã Uta explicava sobre a ciência e a religião, e nesse tempo, eu realmente estava interessada. Fazia tempo que algo não prendia minha atenção.
Mas então, lembrei-me que eu não estava lá para aprender de verdade. Eu tinha outro foco. Eu tinha que esperar Cumberland, ir atrás da obra de Kennedy Brahms e acabar com a maldição.
Minha vida nunca mais seria a mesma. Eu não sabia o que iria acontecer.
Vir a Conway talvez tenha sido um erro, pois eu me apaixonei.
Apaixonei-me pelo homem da escuridão e isso me trouxe grandes consequências.

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