Um novo amigo

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No salão, as luzes das velas estavam fracas, o que deixava o ambiente um pouco escuro e calmo. De um lado havia pessoas conversando e dando risadas bem altas, de outro, madames elegantes cochichavam entre si. No fundo do salão, alguns homens estavam jogando jogos de azar. 

Um homem começou a caminhar em minha direção. Era alto, magro, careca e possuia uma barba grande. Usava um terno elegante preto e com detalhes cinzas pelo paletó.

- Boa noite senhorita, não queria te incomodar. Meu nome é Jacques Bordeaux, eu era amigo do seu pai.

-  Acredito que meu pai não teve nenhum amigo, senhor. - respondi 

- Então ouso dizer que você não o conhecia. Sei que ele teve muitas inimizades, aliás, creio que Avignon inteira não possuía carisma com Dimitri. Mas senhorita, preciso que me escute, preciso de dizer uma coisa sobre seu pai. Encontre-me no jardim mais tarde. - ao dizer isso, Jacques olhou em volta como se estivesse desconfiado de alguma coisa. Antes que pudesse se dirigir a mim novamente e me dizer mais alguma coisa, minha mãe apareceu.

- Sr. Bordeaux, espero que Myrrine não esteja te incomodando. Está se divertindo? - Arletta deu um leve sorriso.

- Oras! De forma alguma senhora Lemaire, é a primeira vez que tenho o prazer de conhecer sua filha. Sua casa e os convidados são adoráveis. 

- Certamente. Já conheceu o Sr. D'Champs? Creio que gostará de conversar com ele. Se não se importa, tenho que conversar com Myrrine. 

- Sim, claro. Com licença. - Antes de sair, Jacques me deu um olhar de preocupação e partiu em direção aos senhores que estavam conversando.

- Querida, olhe para mim. - Arletta segurou meu queixo e olhou nos meus olhos. - Esse homem é mau igual seu pai. Confie em mim, por favor. Eu já te disse que Deus enviou uma pessoa que está resolvendo todos nossos problemas, por que você não consegue perceber isso? Não se meta no nosso caminho. - Ela começou a dar aquele sorriso cínico.

- Nosso caminho? Você faz parte disso tudo? Eu juro que se você estiver fazendo parte de tudo isso, eu nunca vou te perdoar. O que pensa que está fazendo? - Eu estava em choque. O que ela queria dizer com tudo isso? Antes que eu me afastasse, Arletta segurou meu braço.

- Myrrine me escuta, se você continuar com isso, vai queimar no inferno. Deus nunca te perdoará. - Ela saiu de perto de mim e se perdeu na multidão dos convidados.

Corri até o jardim e fiquei esperando Jacques, enquanto isso, minha cabeça girava confusa. Jacques apareceu.

- Senhorita Lemaire, não temos tempo. Escute-me, Dimitri estava pintando uma obra prima, mas com sua morte, ele não pôde finalizar. Eu preciso que você termine com isso.

- O que? Aquela pintura é assustadora, eu não quero chegar perto daquilo de novo. Meu Deus, eu nem sei o que aconteceu comigo naquela noite. - comecei a lembrar do que aconteceu no quarto proibido... aquelas mãos no meu pescoço. Eu não queria passar por isso de novo.

- Não precisa ter medo Myrrine, eu preciso que você confie em mim. Há uma pessoa que quer essa pintura. Mas não é uma pessoa boa, você precisa tomar cuidado. Eu não vou ficar em Avignon por muito tempo, tenho que voltar para Londres, mas escuta o que eu vou dizer. A cada semana você precisa continuar pintando o quadro, não precisa se preocupar, você saberá o que fazer. E a cada oito dias, eu vou te escrever. Essas cartas te contarão a história de Dimitri e de tudo o que está acontecendo. - Jacques colocou a mão no meu ombro e me deu um leve sorriso. - E outra coisa, não dê ouvidos a Arletta, entendeu? Não dê ouvidos a sua mãe.

- Você sabe quem o matou? - eu disse 

- Não. Por isso deve tomar muito cuidado.

- Ele está aqui Sr. Bordeaux, tenho certeza. - eu estava começando a ficar com medo, tudo isso me assustava. Meus olhos começaram a se encher de lágrima.

- Lemaire, não se envolva nisso. Faça apenas o que lhe pedi e tudo ficará bem. - Jacques se despediu e saiu.

Comecei a chorar. Em quem eu poderia confiar? Eu estava sozinha, angustiada e com medo. O assassino poderia estar em qualquer lugar da minha casa e eu não sabia o que fazer. Passei a mão pelo meu vestido, e senti que o sangue que nele estava, já havia secado, porém, minhas mãos ainda estavam doloridas. 

Eu estava chorando tanto que minha barriga chegava a doer, até que apareceu um rapaz. Era alto, cabelos pretos e com os olhos castanhos. Aparentava ter uns vinte e cinco anos.

- Excusez moi mademoiselle, está tudo bem? - ele foi se aproximando lentamente.

- Je vais bien monsieur. - enxuguei meus olhos e forcei um sorriso.

- Posso me sentar?

- Oui - respondi

Ele se sentou ao meu lado no banco e deu um olhar perdido.

- Sinto muito pela sua perda. Aliás, eu esqueci de me apresentar, sinto muito senhorita. Eu sou Victorine Nicolette Apolon de Paris.

- Sou Myrrine Lemaire de Avignon.

- É, eu sei. - Victorine deu um sorriso.

- Tenho a impressão que já o vi em algum lugar. - olhei para seu rosto e tinha algo familiar nele.

- Maurice Roy Apolon, o pintor parisense, é meu pai. Ele e Dimitri eram grandes amigos. Eu te vi em Londres uma vez quando era criança, acho que é dai que você me conhece.

- Ah, você também foi naquela viagem a Londres onde fomos obrigados a ficar em um lugar cheio de pintores cujo discutiram a noite inteira sobre qual o melhor jeito de se obter inspiração com a natureza?

- Sim, por Deus! Esse dia foi horrível! - começamos a rir, e por um momento eu pude esquecer de toda dor que eu estava sentindo.

Conversamos por um tempo até os convidados começarem a irem embora.

- Au revoir senhorita Lemaire. Foi um prazer revê-la. - Victorine deu uma picadela e foi embora.

Fiquei sozinha no jardim por mais um tempo pensando, e decidi confiar em Jacques Bordeaux. Talvez as cartas me ajudariam a saber mais sobre a verdadeira história de Dimitri Lemaire.

Dentro da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora