Estou desfrutando aquela boca maravilhosa, quando um piado baixo quebra o silêncio.
Os músculos das costas do Lee se contraem um pouco e ele cessa nosso beijo, procurando o pássaro. Ele encara o pequeno animal em seus momentos finais. Acho que não temos tempo para um veterinário. Ele está debilitado demais e algo dentro de mim diz que aqueles eram os últimos suspiros do pássaro.
E então que eu finalmente me lembro de onde eu conhecia o pequeno animal de aparência exótica. Ele parecia exótico, porque era! Esse pássaro é a miniatura de Fênix que o Lee possui. Ele é um pássaro super inteligente, perceptivo e um grande companheiro de Lee.
Mas espera um momento... Isso é uma Fênix, não é? E está nos momentos finais...
Merda!
Ao olhar de novo na direção dele, vejo que as suas penas começam a ganhar um novo tom, virando pequenas brasas, compridas e cada vez mais incandescentes.
Mesmo morrendo de medo de me queimar, pego o pano com o pássaro e corro com ele até a cozinha. Coloco o pássaro dentro da pia apenas segundos antes dele entrar em combustão, queimando pássaro e pano de prato. Ainda bem que eu o coloquei aqui, aquilo poderia queimar feio o meu tapete, quem sabe até virando uma coisa pior.
Eu tenho agora um pequeno bolo de cinzas na minha pia.
Lee vem na minha direção e me olha um pouco curioso, mas não diz nada.
Para completar a minha cota de coisas impossíveis hoje, as cinzas voltam a queimar e de dentro do fogo, aparece novamente a Fênix.
Qual o número que eu ligo mesmo para solicitar ser internada em um hospício? Uma camisa de força em mim ia cair bem agora. Isso não é um sonho, mas não pode ser real.
O pássaro canta alegre e voa graciosamente em torno da pequena cozinha. Seu canto é alto, forte e cheio de vida. Ele voa sem problemas para o ombro de Lee, e então já vai encostando a sua pequena cabeça na bochecha de Lee.
— Oi meu amigo. Bem-vindo de volta! — Lee diz de uma forma bem despreocupada, alisando as asas da Fênix. Então ele se vira na minha direção e continua a falar. — Acredito que já o vi morrer e renascer pelo menos umas dez vezes, mas não consigo me acostumar.
— Ah sim, sei... — falo sem saber muito o que dizer. O que eu poderia falar para ele? — Acho que te entendo — não sei se entender é bem a palavra certa, mas é o mais próximo que consigo pensar.
— Tex. Eu posso perguntar uma coisa a você? — ele pergunta e parece meio incerto.
— Pode — melhor mesmo ele tomar a iniciativa de alguma conversa. Não sei o que pensar, muito menos o que falar. E outra, ele parece estar bem mais calmo do que eu. Quem sabe ele pode analisar essa situação melhor.
— Onde exatamente estamos Tex?
— Como assim? Estamos na minha casa... — agora que eu me lembro que ele nunca viu nada parecido com uma casa assim antes...
— Mas na sua casa? Isso quer dizer que você se mudou? Eu não consigo lembrar de muita coisa, principalmente os últimos dias... Eu estava... Bem eu estava... — dá pra ver pelas caras que ele está fazendo, que ele realmente está se esforçando para lembrar de alguma coisa.
Mas parece não conseguir lembrar de muita coisa. Nem me espanto, afinal, nem sei como ele pode estar aqui, como vou fazer ideia de como as suas memórias funcionam.
— Eu... Eu não mudei — quer dizer mudei, mas ele não teria como saber disso. — Já disse, eu não sou a Tex, então não teria como morar na casa dela... — até porque a casa dela não tem como existir. Ou tem?

VOCÊ ESTÁ LENDO
Tinta Viva
Fantasi| HISTÓRIA COMPLETA | Caso você não estiver lendo essa história pelo Wattpad, seu dispositivo pode estar em risco. Convido você a conferir a história no meu perfil oficial do Wattpad. É grátis e você me ajuda ♥ o link pro meu perfil: https://www.wat...