1 - Novo lar

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Um dia e meio de viagem, foi o que bastou para meu tédio - e dores nas pernas - crescerem com toda força, nem mesmo a paisagem ao redor conseguia me distrair, horas exaustivas de cavalgada, o silencio de morte que meu pai se encontrava, meu mau hu...

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Um dia e meio de viagem, foi o que bastou para meu tédio - e dores nas pernas - crescerem com toda força, nem mesmo a paisagem ao redor conseguia me distrair, horas exaustivas de cavalgada, o silencio de morte que meu pai se encontrava, meu mau humor recorrente, tudo isso misturado ao clima de quase guerra em que me encontrava com ele, contribuiu para que a viagem ficasse três vezes mais exaustiva. Eu poderia falar com ele, mas meu orgulho ou o que restava dele, me fazia não dar o braço a torcer e trocar uma palavra com ele. Meu pai não suportava ironias, e quando eu estava com raiva era a pessoa mais irônica que se pode imaginar, uma palavra errada e mais

uma guerra era capaz de surgir, aqui mesmo no meio da estrada e isso eu não queria. Temos batalhas demais em nosso território para dar atenção.

O frio se misturou a noite quando ela chegou, dando a floresta e a estrada um ar sombrio entretanto a parte boa era que isso fez com que, finalmente parassemos para descansar. Descer do cavalo foi um alívio, mesmo com as pernas dormentes pisar na terra, andar e sentar em qualquer lugar que não fosse uma sela, já era motivo de felicidade.

A luz das fogueiras iluminava o lugar onde iríamos passar a noite, o calor vindo delas conseguia espantar um pouco o frio da floresta. Passei o olhar entre os soldados e barracas e afastado de todos o encontrei sentado encarando a fogueira, meu pai remexia as brasas tão perdido em seus pensamentos, quanto eu estava mais cedo antes de sair da biblioteca.

Me perguntava o que aconteceria assim que sentasse ao seu lado, se o clima tenso permaneceria ou ele iria me ouvi, eu conhecia meu pai e ele era um homem que apreciava o silêncio, e com o tempo aprendi a respeitar isso e usar a meu favor. Sentei ao seu lado somente observando enquanto cutucava as brasas, eu estava pronto para falar, mas ao invés disso somente observei-o, como fazia quando era pequeno.

Eu precisava falar, dizer o que sentia a respeito de tudo isso que estava acontecendo, era injusto minha vida ser decidida com um papel e tinta sem consulta prévia. Sabia que poderia enfrentar seu olhar severo ou até mesmo não ser ouvido, porém precisava falar. Eu precisava acabar com esse jogo de cinismo e ironia que impus desde o dia que soube do acordo, afinal ele era meu pai e não merecia minha birra e ironia. Se eu queria ser ouvido precisava ser sincero e maduro como ele esperava, e como eu queria ser.

- Não precisa dizer nada, sei como se sente afinal é meu filho e também já passei por isso. - Suas palavras pegaram-me de surpresa, e então percebi que ele evitava olhar para mim - Porém, queria que soubesse que apesar de tudo quero somente o seu bem e a sua segurança e se para isso, tiver que mandar você sua mãe ou suas irmãs para o outro lado do mar assim farei.

Aproximei-me sentando mais perto e assim como ele, eu olhava para o fogo que dançava em diversos tons de vermelho. Ele ainda evitava cruzar olhares o que fez meu coração apertar, pois no fundo queria que ele olhasse para mim.

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