O exame lógico do polilogismo

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O polilogismo marxista assegura que a estrutura lógica da mente é diferente nas
várias classes sociais. O polilogismo racial difere do polilogismo marxista apenas na
medida em que atribui uma estrutura lógica peculiar a cada raça, e não a cada
classe. Assim, todos os membros de uma determinada raça, independentemente da
classe a que pertencem, são dotados da mesma estrutura lógica.
Não há necessidade de fazer, agora, uma análise crítica de como essas doutrinas
entendem os conceitos social, classe e raça. Não é necessário perguntar aos
marxistas como e quando um proletário que ascende à condição burguesa
transforma sua mente proletária em uma mente burguesa. Tampouco interessa
solicitar aos racistas que expliquem qual a lógica peculiar a alguém cuja estirpe
racial não seja pura. Existem objeções bem mais sérias a serem levantadas. Nem
os marxistas, nem os racistas, nem os defensores de qualquer outra forma de
polilogismo foram além de afirmar que a estrutura lógica da mente é diferente para
as várias classes, raças ou nações. Nunca tentaram demonstrar precisamente em
que aspectos a lógica dos proletários difere da lógica dos burgueses, ou de que
modo a lógica dos arianos difere da lógica dos não arianos, ou a lógica dos
alemães, da lógica dos franceses ou dos ingleses. Aos olhos dos marxistas, a teoria
dos custos comparativos elaborada por Ricardo é falsa, porque seu autor era
burguês. Os racistas alemães condenam a mesma teoria, porque Ricardo era judeu;
e os nacionalistas alemães, porque ele era inglês. Alguns professores alemães
recorreram aos três argumentos para invalidar as teorias ricardianas. Entretanto,
não basta rejeitar uma teoria inteira meramente em função da origem do seu
autor. O que se espera é que, primeiro, seja apresentado um sistema lógico
diferente do utilizado pelo autor criticado para, em seguida, examinar ponto por
ponto da teoria contestada e mostrar onde, em seu raciocínio, são feitas
inferências que, embora corretas do ponto de vista da lógica do autor, sejam
desprovidas de validade segundo o ponto de vista da lógica proletária, ariana ou
alemã. Finalmente, deveria ser explicado o tipo de conclusões a que chegaríamos
pela substituição de inferências defeituosas por inferências corretas, segundo a
lógica adotada pelo crítico. Como todos sabem esta tentativa nunca foi e nunca
poderá ser feita por ninguém.
Além disso, é fato inegável que existem divergências, quanto a questões
essenciais, entre pessoas que pertencem à mesma classe, raça ou nação.
Infelizmente existem alemães – diziam os nazistas – que não pensam como um
verdadeiro alemão. Mas se um alemão nem sempre pensa como deveria, e, ao
contrário, pensa segundo uma lógica não germânica, a quem caberá decidir qual
forma de pensar é verdadeiramente alemã e qual não é? O já falecido professor
Franz Oppenheimer assegurava que “o indivíduo erra com frequência, por perseguir
seus interesses; uma classe, no geral, não erra nunca”.56 Esta afirmativa sugere a
infalibidade do voto majoritário. Entretanto, os nazistas rejeitavam o critério de
decisão pelo voto majoritário como sendo manifestamente antigermânico. Os
marxistas fingem aceitar o princípio democrático do voto majoritário.57 Mas, na
hora da verdade, são a favor de que uma minoria governe, desde que esta minoria
pertença ao seu próprio partido. Lembremo-nos de como Lenin dissolveu, à força, a
Assembleia Constituinte – eleita sob os auspícios de seu próprio governo, sob
sufrágio universal de homens e mulheres – porque apenas um quinto de seus
membros eram bolchevistas!
Um defensor do polilogismo, para ser consistente, terá de sustentar que certas
ideias são corretas, porque seu autor pertence a uma determinada classe, nação ou
raça. Mas a consistência lógica não é uma de suas virtudes. Por isso, os marxistas
não hesitam em qualificar como “pensador proletário” qualquer pessoa que
defenda suas doutrinas. Todos os outros são taxados de inimigos da classe e de
traidores da sociedade. Hitler, ao menos, era mais franco ao afirmar que o único
método disponível para distinguir os verdadeiros alemães dos “mestiços” e dos
alienígenas consistia em enunciar as características de um alemão genuíno e
verificar quem nelas se enquadrava.58 Ou seja, um homem moreno, cujas
características físicas de modo algum se enquadravam no protótipo da raça
superior dos louros arianos, se arrogou ao dom de descobrir a única doutrina
adequada à mente alemã e de não aceitar como alemães todos aqueles que não
aceitassem essa doutrina, quaisquer que fossem as suas características físicas. Não
é necessário acrescentar mais nada para provar a insanidade dessa teoria.

A ação humana- Ludwig Von MisesOnde histórias criam vida. Descubra agora