O polilogismo marxista é uma tentativa fracassada de salvar as insustentáveis
doutrinas socialistas. Tentou substituir o raciocínio pela intuição, apelando para o
supersticioso das massas populares. Mas é precisamente esta atitude que coloca o
polilogismo marxista e seu subproduto, a chamada “sociologia do conhecimento”,
numa posição definitivamente antagônica em relação à ciência e ao raciocínio.
Com o polilogismo dos racistas, as coisas se passam de maneira diferente. Este
tipo de polilogismo está em consonância com tendências atuais do empirismo,
tendências estas que, embora erradas, estão muito em moda. É irrefutável o fato
de que a humanidade está dividida em várias raças, que têm características físicas
diferentes. Para os partidários do materialismo filosófico, os pensamentos são uma
secreção do cérebro, como a bílis é uma secreção da vesícula biliar. Sendo assim, a
consistência lógica lhes impede de rejeitar a hipótese de que os pensamentos
segregados pelas diversas raças possam ter diferenças essenciais. O fato de a
anatomia, até o momento, não ter descoberto diferenças anatômicas nas células
do cérebro das diversas raças não invalida a doutrina segundo a qual a estrutura
lógica da mente seria diferente nas diversas raças, uma vez que sempre seria
possível, em futuras pesquisas, descobrir tais diferenças.
Na opinião de alguns etnólogos, não se pode falar de civilizações superiores ou
inferiores, nem considerar certas raças como mais atrasadas. Há civilizações, de
várias raças, diferentes da civilização ocidental dos povos de origem caucasiana,
mas elas não são inferiores. Cada raça tem uma mentalidade própria. Não se
podem comparar civilizações usando padrões de comparação extraídos de uma
delas. Os ocidentais consideram a civilização chinesa como estagnada e os
habitantes da Nova Guiné como bárbaros primitivos. Mas os chineses e os nativos
da Nova Guiné desprezam a nossa civilização tanto quanto desprezamos a deles.
Tais opiniões são julgamentos de valor e, portanto, arbitrárias. As diversas raças
têm estruturas lógicas diferentes. Cada civilização é adequada à mente da sua
raça, assim como a nossa civilização é adequada à nossa mente. Somos incapazes
de compreender que aquilo que chamamos de atraso, para alguns, não é atraso.
Visto pelo ângulo de sua lógica, é uma forma de se ajustar às condições da
natureza, melhor do que a nossa, supostamente progressista.
Estes etnólogos enfatizam, com razão, que não é tarefa do historiador – e o
etnólogo também é um historiador – formular juízos de valor. Entretanto, estão
inteiramente errados quando pretendem que as outras raças tenham sido guiadas
por objetivos distintos daqueles que estimularam o homem branco. O maior desejo
dos asiáticos e dos africanos, tanto quanto dos povos de origem europeia, é o
sucesso na luta pela sobrevivência; e, para isso, usam a razão, sua arma mais
importante e mais antiga. Procura livrar-se dos animais ferozes e da doença, evitar
a fome e aumentar a produtividade do trabalho. Não há dúvida de que na
consecução desses objetivos os brancos foram mais bem-sucedidos. Todas as
outras raças procuram aproveitar-se das conquistas do mundo ocidental. Aqueles
etnólogos estariam certos se os mongóis ou os africanos, atormentados por uma
doença penosa, renunciassem a ajuda de um médico europeu, porque, segundo
sua mentalidade ou sua visão do mundo, é preferível sofrer a ser aliviado da dor.
Gandhi negou a sua própria teoria, ao dar entrada num hospital moderno para ser
operado da apendicite.
Aos índios norte-americanos faltou a engenhosidade para inventar a roda. Os
habitantes dos Alpes não foram capazes de fabricar esquis que lhes tornariam a
vida bem mais agradável. Tais deficiências não se devem a uma mentalidade
diferente daquelas outras raças que há muito tempo já conheciam a roda e os
esquis; foram falhas, mesmo quando consideradas do ponto de vista dos índios ou
dos montanheses alpinos.
Entretanto, estas reflexões se referem apenas aos motivos que determinam ações
específicas e não ao único problema realmente relevante, qual seja, o de saber se
existe entre as várias raças uma diferença na estrutura lógica da mente, uma vez
que é isto que os racistas alegam.68
Podemos repetir aqui o que já foi dito nos capítulos precedentes sobre a estrutura
lógica da mente e sobre os princípios categoriais do pensamento e da ação. Umas
poucas observações adicionais serão suficientes para refutar definitivamente o
polilogismo racial ou qualquer outro tipo de polilogismo.
As categorias pensamento e ação humana não são nem produtos arbitrários da
mente humana, nem convenções. Não têm uma existência própria, externa ao
universo e alheio ao curso dos eventos cósmicos. São fatos biológicos e têm uma
função específica na vida e na realidade. São instrumentos do homem na sua luta
pela existência, no seu esforço para se ajustar tanto quanto possível à realidade do
universo e para eliminar o desconforto até onde lhe seja possível. São, portanto,
apropriadas às condições do mundo exterior e refletem as circunstâncias com que a
realidade se apresenta. Funcionam e, neste sentido, são verdadeiras e válidas.
Consequentemente, erram todos aqueles que supõem que a percepção
apriorística e o raciocínio puro não nos proporcionam informações sobre a realidade
e sobre a estrutura do universo. As relações lógicas fundamentais e as categorias
pensamento e ação constituem a fonte de onde brota todo conhecimento humano.
São adequadas à estrutura da realidade, revelam esta estrutura à mente humana
e, nesse sentido, são para o homem fatos ontológicos básicos.69 Não podemos
saber o que um intelecto super-humano seria capaz de pensar ou compreender.
Para o homem, toda cognição está condicionada pela estrutura lógica de sua mente
e implícita nesta estrutura. Os êxitos alcançados pelas ciências empíricas e sua
aplicação prática são uma demonstração desta evidência. Onde a ação humana é
capaz de atingir os fins a que se propõe não há lugar para agnosticismo.
Se tivesse existido uma raça que houvesse desenvolvido uma estrutura lógica da
mente diferente da nossa, ela não teria podido recorrer à razão na sua luta pela
vida. Os únicos meios de que disporia para sobreviver seriam suas reações
instintivas. A seleção natural se encarregaria de eliminar todos os espécimes desta
hipotética raça que tentassem empregar o raciocínio para determinar o seu
comportamento; só sobreviveriam aqueles que se fiassem apenas nos seus
instintos. Isto significa que só poderiam sobreviver aqueles cujo nível mental não
fosse superior ao dos animais.
Os pesquisadores ocidentais reuniram uma expressiva quantidade de informações
relativa às civilizações mais refinadas da China e da Índia, bem como acerca das
civilizações primitivas dos aborígenes asiáticos, americanos, australianos e
africanos. Podemos dizer que tudo o que vale a pena saber sobre estas raças, já o
sabemos. Mesmo assim, nunca um defensor do polilogismo tentou usar estes dados
para explicar a alegada diferença lógica desses povos ou dessas civilizações.

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A ação humana- Ludwig Von Mises
De TodoMenos Marx, por favor. Aproveite a leitura, em breve mais bons livros. Os capítulos do livro tem tópicos muito grandes, por isso dei um capítulo à cada um. Só para os capítulos não ficarem muito grandes, com os tópicos inclusos. Notas de rodapé est...