A investigação praxeológica tem sua origem na ação individual - na ação de um
indivíduo. Não lida, de forma imprecisa, com a ação humana em geral, mas com
ação específica, concreta, que uma determinada pessoa realiza numa determinada
data e num determinado local. Evidentemente, não se interessa pelas
circunstâncias acidentais ou ambientais desta ação nem pelo que a distingue de
outras ações, mas apenas pelo que é necessário e universal na ação do homem.
A filosofia do universalismo, desde tempos imemoriais, bloqueou o acesso a uma
compreensão satisfatória dos problemas praxeológicos e, por isso mesmo, os
universalistas contemporâneos são inteiramente incapazes de encontrar a forma de
abordá-los. Universalismo34
, coletivismo e realismo conceitual35 só sabem lidar
com conjuntos e universos. Especulam sobre o gênero humano, nações, estados,
classes, sobre vício e virtude, certo e errado, sobre conjuntos inteiros de
necessidades ou de mercadorias. Perguntam, por exemplo: por que o valor do
"ouro" é maior do que o do "ferro"? Assim sendo, nunca encontram soluções, mas
somente antinomias e paradoxos. O caso mais ilustrativo é o do paradoxo do valor
que frustrou até mesmo o trabalho dos economistas clássicos.
A praxeologia pergunta: o que acontece quando alguém age? O que significa dizer
que um indivíduo, aqui e agora, em qualquer tempo e em qualquer lugar, age? O
que resulta se ele escolhe uma coisa e rejeita outra?
O ato de escolher é sempre uma decisão entre várias oportunidades franqueadas
à sua escolha individual. O homem nunca escolhe entre vício e virtude, mas
somente entre dois modos de ação que consideramos do nosso ponto de vista,
virtuoso ou vicioso. O homem nunca escolhe entre "ouro" e "ferro" de forma abstrata, mas sempre entre uma determinada quantidade de ouro e uma
determinada quantidade de ferro. Cada ação é estritamente limitada por suas
consequências imediatas. Se quisermos tirar conclusões corretas, precisamos, antes
de tudo, examinar essas limitações.
A vida humana é uma sequência incessante de ações singulares. Mas a ação
singular não é, de forma alguma, isolada. É um elo numa cadeia de ações que,
juntas, formam uma ação de um nível mais elevado, objetivando um fim mais
distante. Toda ação tem dois aspectos. Por um lado, é uma ação parcial no
conjunto de uma ação mais abrangente, a realização parcial de um objetivo maior.
Por outro lado é, em si mesma, um todo no que diz respeito ao seu propósito de
realizar apenas uma parte do objetivo final.
Depende do escopo do projeto que o agente homem pretenda realizar naquele
momento, quer se trate de uma ação de objetivo mais distante ou de uma ação
parcial visando a um objetivo mais imediato. A praxeologia não tem necessidade
de levantar questões do tipo das levantadas pela Gestaltpsychologie.36 O caminho
de grandes realizações sempre passa pela execução de pequenas tarefas. Uma
catedral é algo mais do que um monte de pedras colocadas juntas. Mas a única
maneira de construir uma catedral é colocar pedra sobre pedra. Para o arquiteto, o
projeto global é o principal. Para o pedreiro, é a simples parede, é cada pedra em
si. O que conta para a praxeologia é o fato de que o único método para realizar
tarefas maiores consiste em construir desde as fundações, passo a passo, etapa
por etapa.
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A ação humana- Ludwig Von Mises
De TodoMenos Marx, por favor. Aproveite a leitura, em breve mais bons livros. Os capítulos do livro tem tópicos muito grandes, por isso dei um capítulo à cada um. Só para os capítulos não ficarem muito grandes, com os tópicos inclusos. Notas de rodapé est...