Sem querer ser abusiva com os meus companheiros de viagem, mas eu precisava mesmo chegar ao que eu chamo de casa, e dessa vez, de verdade. E depois disso, tomar banho de verdade, comer de verdade, dormir de verdade e arrumar uma mochila para viajar de verdade.
Eu fedia e suava num ciclo vicioso há dias. Meu corpo estava exausto, e a minha mente, o que eu devo dizer sobre essa caixinha bagunçada?
— Eu preciso de um tempo, sozinha. Eu realmente preciso, pessoal — eu disse. — E nem precisam me esperar. Eu consigo encontrar vocês.
— Nós não vamos a lugar nenhum sem você — Mike informou. — Quero dizer, não sabemos para onde ir sem você.
— O que disse? — eu perguntei, alisando a marca machucada no meu pulso.
— Você tem o nosso próximo destino para o chefe. Bem aí na sua mente — Mike explicou.
— Então agora eu sou o mapa de vocês? — zombei, enquanto tirava o meu fuzil e o canivete do corpo frio e jogado no asfalto. O encarei e pensei que Roberto não merecia apodrecer no chão como todos os outros corpos, não por ser especial, pelo contrário, por ser igual a todos os outros homens que buscam um líder, um comando, uma estrutura. Ele encontrou "o líder" pelo qual valia a pena lutar. E não era mau por isso, apenas, inocente.
Parei de pensar nisso quando a voz rápida e aguda de Meg me perfurou.
— Sim. E eu não posso acessar as informações de outra pessoa na sua mente. Nem posso acessar as informações de um cadáver. E nem poderia encontrar o que eu quero no corpo vivo. Infelizmente, não existe um local onde eu possa pesquisar o que procuro. E eu perderia uma eternidade tentando encontrar. É complicado — Meg revelou.
— Entendo. Só não sei por que para mim? Por que essas memórias não foram para o Mike ou para o Rad?
— Provavelmente, eles não são receptores. Não entendo isso muito bem para explicar. Eu apenas desliguei o cérebro, mas algo acontece quando você desliga um cérebro. As informações não querem desaparecer. Elas querem continuar existindo, e basta um receptor disponível, e pronto, o truque está feito.
— Sabia que eu era um? — perguntei.
— Não tinha certeza. Mas é a única explicação — ela disse.
Andei pela noite até o prédio e quase consegui ignorar o fato deles estarem me seguindo. Felizmente, nenhum dos três achou necessário dividir o quarto comigo, e o sol raiou logo, logo.
O que se deve levar numa mochila quando não se sabe para onde ir?
Quite de primeiros socorros: OK.
Carne seca: OK.
Calcinhas confortáveis: OK.
Todos os absorventes que eu encontrei de todos os tamanhos: OK.
Duas blusas, uma calça, um short e um casaco: OK.
Escova de dente e creme dental: OK. (Porque se um dia o mundo for reconstruído, eu quero ter todos os meus dentes saudáveis para sorrir e dizer, eu sobrevivi).
Eu devo estar esquecendo algo muito importante.
Água. Talvez eu só precise de uma garrafa grande para encher sempre que possível.
Eu levaria mais coisas se eu não precisasse do resto do espaço na mochila para guardar munição.
Mochila nas costas, parcialmente limpa, quase bem alimentada, e menos exausta que antes. Tudo pronto para partir.
Saí do meu quarto e Mike e Meg estavam encostados na porta da frente, um pé no chão e o outro na porta. Rad saindo de um dos quartos, muito mais bonito do que eu já havia reparado. Seu cabelo bagunçado, agora, completamente alinhado. As pontas entre o queixo e o ombro. O sobretudo impecável, mais preto que nunca, e a barba por fazer estava agora completamente lisa. Coloquei uma mecha do meu cabelo molhado atrás da orelha.
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H6N3
Science Fiction"Epidemias são sempre uma droga, mas antes fosse a peste bubônica, a varíola ou a malária. Não que essas tenham sido gentis, mas sobrevivemos. Eu não diria que sobrevivemos ao que chamamos de A Epidemia, para os mais cultos, H6N3. Até onde eu sei, s...