Capítulo 1

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— Respira, vamos, respira — Lucas grita para a mulher deitada na maca à sua frente.

Com os braços estendidos e inflexíveis, ele pressiona o peito dela na tentativa de fazê-la voltar a respirar.

Não consigo identificar a expressão no rosto dele. Parece ser uma mistura de raiva e tristeza, e é difícil continuar observando-o enquanto a história se repete. Por isso, desvio meus olhos para a enfermaria fria e pouco iluminada.

— Droga! — falo baixinho quando percebo que me esqueci de fechar as cortinas que separam os leitos.

Seguro a ponta da cortina de vinil e a corro por toda a extensão sem me importar com o barulho que as argolas fazem na estrutura tubular de metal.

— Ela vai ficar bem, Emily? — Ouço uma voz fraca perguntar.

Queria responder que sim, mas, neste momento, não tenho certeza se a paciente vai sobreviver.

— Eu trato disso — Anna, a outra enfermeira, assegura, desistindo de tentar fazer o desfibrilador funcionar e caminhando na direção dos pacientes para tranquilizá-los. Como ela trabalha como enfermeira aqui há mais tempo do que eu, sabe exatamente o que fazer nessas situações.

Depois de explicar o que está acontecendo e avisar que o jantar será servido em breve, os pacientes parecem se acalmar e observo enquanto ela entra pela abertura da cortina divisória.

— Quantos minutos, Emily? — Anna pergunta.

Meus olhos se desviam para a parede desbotada e manchada pelo que parece ser uma grande infiltração à minha frente e onde os ponteiros no relógio não param. Cada segundo é determinante neste momento.

— Quase dois minutos. — Minha voz sai sem esperança, e ouço Lucas dar um suspiro.

Até perguntaria se ele quer que eu continue a reanimação, mas sei que não me deixaria. Não porque ainda não fui treinada para realizar esse procedimento, mas porque ele não permitiria que alguém morresse nas minhas mãos.

E, para ser sincera, não estou preparada para isso. Não agora.

Essa experiência muda as pessoas.

Ainda me lembro de como ele ficou na primeira vez que não conseguiu salvar um dos seus pacientes. Desde então, nunca mais foi o mesmo.

Por isso, Lucas e eu ponderamos as outras opções antes de decidirmos que eu me tornaria enfermeira. Mas, na verdade, não havia muitas e, além disso, na época, eu precisava de um emprego com urgência.

Passei no teste de admissão para o curso técnico de enfermagem, e o valor da bolsa ajudaria a resolver meus problemas. A seguir, enviei minha candidatura para estagiar neste hospital, com a certeza que conseguiria, uma vez que há poucas pessoas que desejam trabalhar aqui.

Só não sabia que me convocariam apenas três meses depois do início do curso.

Quer dizer, eu deveria ter imaginado.

Lucas está cursando medicina há apenas dois anos e é estagiário aqui há um ano e meio. Na maior parte do tempo, não tem nenhum médico de plantão supervisionando-o.

Ter que tomar as decisões sozinho não é fácil para ele, mesmo que os procedimentos não variem muito, uma vez que este é um hospital exclusivo para pacientes com problemas cardíacos e à beira da morte.

Anna é a única no nosso turno que está quase formada em enfermagem, faltam apenas alguns meses.

— Um, dois, três...

Lucas continua tentando.

Quando chega a trinta, ele para e começa o procedimento de ventilação. O peito da paciente infla com ar soprado no seu corpo já sem sinais de vida. Lucas verifica o pulso e, com uma expressão desesperançada, volta a entrelaçar as mãos e a jogar seu peso no corpo da paciente.

Meus olhos voltam a encarar o aparelho de desfibrilação e não consigo conter o suspiro de raiva.

— Se estivesse funcionando, a paciente provavelmente teria uma chance - Anna comenta.

Mas sei o que ela pensa.

Trazer a Olivia de volta seria dar a ela mais algumas horas de vida deitada em uma maca, sentindo algum tipo de dor ou totalmente sedada.

Anna quase sempre vê a morte como um alívio, principalmente quando a pessoa não tem ninguém que sofra por ela.

Lucas não é tão racional, eu também não.

— É uma pena não poder ensinar você a usar um desfibrilador — Anna reclama.

— Deve haver uma forma de obrigar a Matriz a nos enviar tudo o que estamos precisando.

— Não há, Emily — ela responde convicta, colocando atrás da orelha uma mecha do cabelo liso e preto, que faz um contraste perfeito com a pele clara. — Olivia é apenas uma despesa a menos para eles - fala, olhando para a paciente na maca. — Eles simplesmente não se importam.

E ela tem razão.

Todos os meses solicitamos novos aparelhos e o reabastecimento da farmácia do hospital. Mas em vez de uma resposta, a única coisa que recebemos foi uma notificação sobre o racionamento de energia obrigatório. Se ultrapassarmos o limite irreal que estabeleceram, eles ameaçam fechar o hospital.

Por isso, tivemos que fazer o que pediram.

Não foi coincidência nos últimos dias cinco pessoas terem apresentado uma piora acentuada no quadro de saúde, uma vez que o hospital está mais frio e úmido do que o normal, mas a Matriz não liga para as pessoas que estão aqui. Eles sempre afirmam que os recursos devem ser direcionados apenas para as pessoas que ainda podem ser salvas.

Esse também é o motivo de não ter um médico ou enfermeiro formado fazendo essa reanimação. Quando tivermos nossos diplomas, seremos enviados para outras clínicas e hospitais, e estagiários sem experiência ocuparão nosso lugar.

Isso não é justo.

Mesmo que o objetivo deste lugar não seja salvar vidas.

Anna olha mais uma vez para o relógio.

Reparo no jaleco azul igual ao meu, que de tão desbotado até parece branco. Os olhos dela estão sempre contornados de preto e emoldurados por grossas sobrancelhas, que combinam com o tom de vermelho que colore seus lábios. Acho que é isso que faz com que ela pareça sempre tão atraente.

Ao contrário de mim.

Meu cabelo ruivo está sempre amarrado em um coque alto e nunca uso nenhuma maquiagem.

Anna, pega o prontuário, e fica claro que ela perdeu a esperança.

— Vamos, Olivia! — digo, enquanto seguro o pulso da paciente implorando por um batimento.

Mas o dorso da mão muito pálido e a pele assustadoramente fria faz um pensamento triste passar pela minha cabeça.

Talvez seja hora de o Lucas desistir.

Podemos ser os primeiros a cair
Tudo pode continuar igual
Ou nós podemos mudar tudo
Me encontre no campo de batalha!
(Meet Me On The Battlefield | Svrcina)

Voltamos! Estava morrendo de saudade de vocês, os Resistentes também!

Esta versão nova tem mais doze capítulos, personagens novos, mais provocações da nossa ruivinha e do nosso Príncipe, mais Gabriel e Mia, um casalzinho novo pra gente shippar...

Vou postar 1 CAPÍTULO POR DIA, espero que vocês gostem! Se tiverem dúvidas, coloquem aqui neste comentário! Vou atualizando vocês sobre tudo que ainda vai ser postado no universo de Gaia! O epílogo está a caminho, os capítulos especiais e os contos também...

Até amanhã!

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora