Capítulo 54

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— Então, o que você acha? — Mia pergunta enquanto o meu olhar se perde no horizonte recortado por copas de árvores frondosas.

Apesar de não ter certeza se estou olhando em direção ao meu Setor, sorrio apenas por saber que essa possibilidade existe.

— É lindo — digo, tentando recuperar o fôlego.

Quando perguntei à Mia qual era o lugar preferido dela em Gaia, ela nem hesitou em me trazer aqui.

No entanto, apesar de a Muralha costumar estar aberta para visitas, devido aos constantes ataques ela foi encerrada por tempo indeterminado.

Por isso, além de termos atravessado um portão com uma grande placa de proibido, tivemos que subir uma escada que parecia não ter fim.

Mas agora vejo que valeu a pena cada degrau.

— Você também se sente como se estivesse em uma prisão? — Mia pergunta, e desvio meus olhos para ela curiosa.

A verdade é que ainda não tinha parado para pensar sobre isso. Apesar de toda liberdade que a população da Matriz tem, eles não podem sair da Muralha sem uma autorização.

Não é possível ir de férias conhecer os Setores ou a Fronteira. Apenas alguns profissionais podem exercer suas funções fora da Matriz e eles devem ter uma autorização que, pelo que ouvi falar, é um processo demorado e burocrático.

— Você gostaria de sair daqui? — pergunto.

Mia dá um longo suspiro.

— Às vezes, penso nisso sim — responde, e a encaro. — Ou talvez seja apenas vontade de ter liberdade. Não apenas aqui em Gaia, mas no resto do que sobrou do mundo.

— Será que há muita coisa por aí?

Mia dá um suspiro longo agora.

— Espero que um dia possamos descobrir — responde, e não dizemos mais nada sobre isso.

O sol está quente, mas não desagradável, e sei que meu rosto vai ficar rapidamente

vermelho aqui.

Subo no parapeito largo e olho para baixo, apenas para constatar que a muralha é tão alta quanto o prédio onde moro.

— Cuidado, Emily — Mia diz, oferecendo-me a mão quando me desequilibro um pouco. — Não quero ser acusada de matar a namorada do Príncipe, isso não seria muito bom para colocar no meu currículo.

Nós rimos, mas acho que não da mesma coisa.

Parte de mim se alegra por saber que o plano está dando certo, mas outra parte sente aversão por estar sendo ligada ao Nathaniel desta forma.

— Não estamos namorando — confesso, e sinto um alívio por saber que posso dizer isso em voz alta para ela.

— Mas o que quer que vocês dois tenham é intenso — ela afirma. — Uma conexão tão forte que parece que estão presos um ao outro.

— Por que você diz isso? — pergunto, curiosa e preocupada.

Ela parece ver o que realmente existe entre nós.

Mia se senta ao meu lado, evitando olhar para baixo. Seu cabelo castanho parece mais claro ao sol, e as manchas castanhas dos olhos verdes dela se tornam amarelas, como os olhos de um felino.

— Vocês dois mudam quando estão com o outro — Mia começa a responder quando tem certeza de que está sentada de forma segura. — Você já reparou quantas vezes o Nathaniel passa as mãos no cabelo quando vocês estão juntos? Ele parece nervoso ao seu lado, e ele nunca parece nervoso ao lado de ninguém. E a forma como ele olha para você.

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora