Capítulo 52

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Depois do Baile do Dia do Amor, meu relacionamento com o Nathaniel ficou menos tenso.

Para mim, isso significa que Lucas desistiu e que a população está distraída com todos os boatos que continuam surgindo sobre mim e o Príncipe, exatamente como ele queria.

Foram duas semanas indo para a faculdade, almoçando com a Mia, escutando as provocações do Kyle, vendo as garotas da Matriz me olharem com inveja ou admiração, saindo algumas noites para jantar com o Nathaniel na casa de alguém da elite ou fazendo alguma aparição pública.

Mas também foram noites chorando no quarto, sentindo a saudade do Lucas aumentar e se tornar cada dia mais dolorosa.

E quanto mais o tempo passava, mais eu começava a acreditar que a Resistência foi uma invenção da minha cabeça e a esperança de algo realmente mudar tinha começado a se desfazer de forma desesperadora.

Depois de tudo o que fiz para mostrar para eles que poderiam contar comigo, eu me senti inocente como o Nathaniel me chamou uma vez.

Inocente por acreditar que algo poderia nos salvar.

Mas então, quando já começava a me conformar que tudo aquilo não tinha passado de uma ilusão da minha cabeça, encontro na minha caixa de correio outro bilhete deles.

Mesma hora, mesmo lugar.

E apesar de nunca ter descartado a hipótese de ser uma armadilha, neste momento, vou me agarrar à esperança de que seja real e de que posso fazer algo por Gaia.

Além disso, eu preciso encontrar o Lucas de novo.

Depois de vestir uma roupa confortável, amarro o cabelo em um rabo de cavalo sem deixar nenhum fio fora do lugar, contorno meus olhos de preto e finalizo com um rímel.

Estou apavorada, sinto o medo me invadindo, mas nenhuma parte de mim hesita.

Puxo a maçaneta para fechar a porta e vejo o anel de diamante brilhando na minha mão. Já me habituei a ele, mas continuo odiando o que ele significa.

Reparo nos recortes na prata, na forma da pedra, no brilho dele enquanto movo um pouco a minha mão.

Lembro-me da noite em que ele tomou o lugar do meu anel de esmeralda, quando Nathaniel fez aquele juramento comigo. A noite em que todos os meus planos, mais uma vez, desfizeram-se de um momento para o outro.

— Emily. — Ouço uma voz gritar e dou um pulo assustada. Estava tão entretida que nem reparei que Amanda avançava pelo corredor. — Desculpe, não queria assustar você — ela diz quando chega perto.

— Tudo bem — digo sorrindo —, eu estava distraída

— O pessoal está se reunindo no terraço — ela diz, com um sorriso esperançoso. — Vim chamar você.

— Que pena, Amanda, estou de saída.

— Estou vendo — ela dá um suspiro triste —, não tem problema. Você não vai perder nada também, só vamos jogar conversa fora. Por isso, se quiser companhia... — ela diz, enquanto estamos caminhando para os elevadores.

Tento encontrar uma desculpa educada, não posso faltar a este encontro. A Resistência entenderia isso como um não.

— Desculpe... eu... — gaguejo sem saber o que dizer. — Tenho um encontro.

Não é uma mentira.

Não totalmente.

Assim que viramos no corredor, nos deparamos com Jess e Adam no hall dos elevadores.

— Ah, um encontro! — Ela franze as sobrancelhas e então sorri. — Entendi. Sabia que tinha alguma coisa, você parece bem nervosa. Mas por que um encontro às escondidas? — Ela quer saber.

E provavelmente deduziu que é com o Nathaniel.

— É melhor manter tudo em segredo ainda — digo a primeira coisa que vem a minha mente.

Amanda ri.

Cumprimento Jess e Adam de longe, e aperto o botão chamando o elevador.

— Bem, então se quiser ir até o terraço quando voltar, vou adorar saber todos os detalhes — Amanda avisa.

Já faz tempo que não conversamos, e sinto falta dela. Como o grupo é todo ocupado, nós nos encontramos apenas nos bailes e eventos. Mas, sempre que temos uma folga, como hoje, eles tentam se reunir.

Preciso reservar um tempo para o grupo, tenho estado muito ausente. Tão ausente que se não fosse pela Nina e pela Amanda, eu não seria próxima de nenhum dos Curados.

— Não sei o que ele viu nela. — Ouço Jess dizer para Adam.

Ela claramente queria que eu escutasse, nem se preocupou em falar baixo.

— Ignora — Amanda diz. — Se ela já tinha inveja antes, imagina depois do beijo no Baile.

Consigo sentir o beijo do Nathaniel no meu rosto quando as lembranças voltam à minha cabeça.

— Achava que ela estava com Kyle — comento rápido, desfazendo as imagens que tinham surgido.

— E está — Amanda confirma com convicção —, mas ele não é o Príncipe.

— Se o único problema do Kyle fosse não ser um Príncipe, a Jess estaria bem.

— Por que você diz isso? — Amanda pergunta, e percebo que falei mais do que deveria.

— Nada em especial — respondo, tentando não dar importância. — Ele só parece ser um pouco problemático.

— Então eles estão bem um para outro — Amanda comenta, dando de ombros.

O elevador chega, e nos despedimos.

Sozinha, minhas mãos começam a suar frio.

Medo, ansiedade, preocupação, incerteza... Sinto a confusão de sentimentos aumentar quando atravesso o hall do prédio.

— Já me deram as coordenadas — o motorista diz assim que entro no carro.

— Ótimo, obrigada.

Refazemos o caminho até o lugar da outra vez. Não sei se é a apreensão, mas as ruas parecem mais escuras do que o normal e sinto o nervosismo me dominar por completo.

Quando o carro para, saio e avanço para o prédio.

Ninguém aparece.

Continuo andando lentamente.

A cada passo que dou, sinto a respiração ficar mais ofegante. Enxugo o suor das mãos na barra da camiseta, e queria nunca mais ter essa sensação

Então, assim que estou na frente da porta, ela se abre.

E não hesito!

Existem monstros do lado de fora e eles estão esperando
Há abutres em linha salivando
E embora esteja escuro na calada da noite
Eu nunca caio sem lutar
(I'm Not Afraid | Tommee Profitt)

Estão preparados para esse segundo encontro com a Resistência?

Até amanhã!

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora