Nathaniel está encostado no parapeito do outro lado da piscina, iluminado apenas pelas luzes embutidas no piso.
Tão perto da perfeição que parece irreal.
Respiro fundo e me aproximo em silêncio, sentindo o olhar dele fixo em mim, mas não o encaro de volta.
— Sei que você ouviu o que eu disse no Quartel. — Ele é direto, não esperava que fosse falar sobre isso. — Não disse nada porque não queria que brigássemos depois de tudo o que tinha acontecido de manhã, muito menos queria ter que ir embora depois sem resolvermos a situação.
— Nada do que você diga agora vai mudar o que ouvi. — Minha voz sai sem emoção. — Você sabe disso, não sabe?
Sou direta também.
Nathaniel não se abala com meu comentário, ele provavelmente já estava esperando por isso.
— Preciso que você entenda uma coisa. — Ele parece que vai se aproximar de mim, mas acho que minha postura o faz desistir. — Eu sou o Príncipe de Gaia e Comandante da Guarda Real, é meu dever manter a paz, a qualquer custo. Estou fazendo apenas o que tenho que fazer.
— Você tem razão. — Minha voz soa fria. — Você só está fazendo o que tem que fazer.
Espero que ele pense isso também quando descobrir que estou lutando com a Resistência pelo meu país.
— Por favor, fale o que você está pensando. — A dor ecoa em cada sílaba. — Consigo lidar com a sua raiva, mas não com a sua indiferença.
— Não é indiferença — afirmo, rápido demais.
Na verdade, queria que fosse.
Queria não me importar com ele, não me importar com a situação ou com o que estou sentindo. Mas não consigo. É uma mistura de sentimentos me confundindo.
Sei que não posso julgá-lo.
Afinal, não tenho sido melhor do que ele.
Tenho mentido, manipulado, fingido, machucado pessoas que eu amo.
Ou seja, Nathaniel e eu estamos fazendo aquilo que acreditamos.
Ele nasceu Príncipe, foi criado para ser Rei, por que ele agiria diferente?
E eu nasci com um vírus, subjugada à Matriz, por que eu deveria ficar de braços cruzados aceitando menos do que aquilo a que tenho direito?
— Se não é indiferença, é o que, Emily? — Nathaniel pergunta.
Fixo o meu olhar naqueles olhos verdes e me pergunto como vou me sentir no dia em que vir apenas decepção e ódio neles.
E sei que não posso me envolver mais.
Isso vai destruir nós dois.
Mas também sei que é tarde para pensar nisso, porque o que mais quero neste momento é ignorar tudo e abraçá-lo.
— Não tenho mais nada para falar — afirmo, enquanto tenho forças. — Se me der licença, gostaria de ir para o meu apartamento.
Nathaniel me olha com aquela postura irritante, os olhos estreitos de raiva por causa da minha formalidade.
— Não — ele responde na mesma hora, enquanto dá um passo na minha direção.
Coloco a mão no peito dele impedindo que se aproxime mais.
— Nathaniel! — Os olhos dele brilham quando o chamo pelo nome.
E, na minha mão, as batidas do coração dele aceleram rapidamente.
— Você não vai a lugar nenhum até ficarmos bem — ele diz o que eu menos quero ouvir, porque as palavras dele me desarmam.
E era isso que eu queria ouvir.
Ele está me olhando fixamente quando minha mão desiste de mantê-lo distante e desce lentamente pelo peito dele. Quase instantaneamente Nathaniel fecha os olhos. A boca entreaberta denuncia o que o meu toque o faz sentir. Minha mão desliza ainda mais devagar, e não consigo desviar os olhos da boca dele.
Ele parece tão vulnerável.
Não vejo o Príncipe nem o Comandante da Guarda nesses momentos, talvez por isso seja tão fácil me esquecer de quem ele é.
E odeio o que ele me faz sentir e desejar.
Levanto-me um pouco na ponta dos pés, encostando nossos corpos.
— Isso não quer dizer que estamos bem — sussurro perto da boca dele.
— Eu sei — ele diz.
Então o beijo, sem forças para resistir nem mais um segundo.
*
Não quero sair da cama.
Sei que Nathaniel já foi embora, mas enquanto eu estiver aqui, consigo senti-lo.
A saudade dele é quase insuportável.
Mas não posso mais ignorar o alarme, sou obrigada a levantar.
Abro a cortina e, no reflexo do vidro, vejo algo no meu pescoço.
Uma borboleta prateada encravada com pedras azuis. Toco no cordão prateado fino e suspiro.
Tão linda.
Droga, seria tudo tão mais fácil se ele não fosse assim.
Sorrio, antes de uma lágrima escorrer no meu rosto.
Segredos que tenho mantido em meu coração
São mais difíceis de esconder do que pensei
Talvez eu só queira ser sua
Eu quero ser sua, eu quero ser sua
(I Wanna Be Yours | Arctic Monkeys)O Nathaniel vai contar para a gente o que aconteceu depois desse beijo no terraço, quem leu a primeria versão já sabe!!!
É um dos capítulos bônus que serão publicados depois do epílogo. Além desse, tem outro no PoV do Nathaniel e um no PoV do Lucas.
Já estamos bem perto do final!
Até amanhã.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)
Science FictionSerá retirado do Wattpad nos próximos meses! Enemies to Lovers | Fake Dating 🏆 Wattys 2020 Gaia | 2121 Cem anos após a Terceira Guerra, Emily e Lucas ainda sofrem as consequências do confronto biológico e carregam no sangue um vírus mortal. Ela per...