Capítulo 40

19.6K 2.8K 1.5K
                                    

Abro os olhos assustada e levanto minhas mãos para encará-las. Mas estou deitada na minha cama, e Lucas não está aqui.

Por um momento, achei que a voz que me acordou também fazia parte do meu pesadelo, mas estava enganada.

Nathaniel!

Ele está mesmo à minha frente.

— Você está bem? — pergunta.

Encolho-me debaixo do edredom, tentando abafar o som do meu coração acelerado. Tudo parecia tão real que as lágrimas continuam escorrendo dos meus olhos.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto quando encontro forças.

— Sou sua pessoa de contato — Nathaniel responde com uma expressão tão preocupada que parece verdadeira. Por isso, nunca mais vou me deixar enganar pelas aparências. Nathaniel sabe muito bem como manipular a percepção que as pessoas têm dele. — A enfermeira da universidade avisou que você não se sentiu bem. Liguei algumas vezes, mas como não atendeu tive que vir aqui.

— E isso dá a você o direito de entrar no meu apartamento?

Deixo que a raiva tinja minha voz.

— Você deixou a porta aberta, Emily — responde, olhando-me nos olhos. Então me lembro que entrei correndo para ir ao banheiro e não voltei para fechá-la. — Não queria ter entrado assim, mas fiquei preocupado.

Sempre achei que não era possível uma mentira ser proferida olhando nos olhos de outra pessoa. Mas Nathaniel está me provando que eu sempre estive enganada.

— Oh, obrigada pela sua preocupação, Vossa Alteza — digo, irônica.

Nathaniel. Você pode me chamar de Nathaniel — diz. — E eu ficaria satisfeito com um obrigado, mas não tem problema — ele continua, o que me irrita tanto que tenho que dar uma respiração longa para não perder completamente a paciência. — E sim, fiquei e continuo preocupado. Não sou um monstro, Emily.

Não consigo controlar uma risada.

Claro que ele não é um monstro, ele é pior do que isso. Ao menos monstros têm aparências assustadoras e não fingem ser o que não são. Ao contrário dele, que fala com toda a educação e elegância que um ser humano pode ter, mostrando esse rosto e esse sorriso irritantemente perfeitos.

— Obrigada — digo, tentando fazê-lo se esquecer da minha risada sarcástica. Preciso agir com mais prudência se quiser que nada aconteça ao Lucas ou a mim. — Eu estou bem como pode ver. Você pode ir agora, Vossa Alteza.

Nathaniel ri, talvez da forma como enfatizei o título dele mais uma vez, contrariando o pedido para eu chamá-lo pelo nome.

Tento me levantar da cama, mas percebo tarde demais que esta não é uma boa opção. Minha visão escurece e sinto que vou desmaiar, o que faz com que ele tenha que me segurar e voltar a me deitar por cima dos travesseiros.

— Você é tão ingrata. Mas sabe de uma coisa, Emily? Adoro a forma contrariada como me chama de Vossa Alteza.

Claro que ele tem que mostrar que está ganhando de uma forma ou de outra.

Respiro fundo várias vezes e tento me levantar de novo. Desta vez, minha pressão não cai.

— Se me der licença, gostaria de ir tomar um banho — digo.

— Claro! Assim que terminar, vá até a cozinha. Estou fazendo algo para você comer — comenta, andando em direção à porta sem me dar nenhuma chance de contestar.

Olho para as minhas mãos de novo.

Não tem sangue nelas, mas esta sensação ruim não passa.

Tenho que fazer algo para Lucas acreditar em mim e seguir em frente. Ele não pode continuar na Resistência.

A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora