Estou tensa.
Tão tensa que meus ombros doem e meu coração não para de me avisar que tudo pode dar muito errado esta noite.
A ansiedade quase me sufoca.
Depois de hoje, os rumores sobre eu ser namorada do Príncipe de Diamante, futuro Rei de Ônix, se tornarão incontestáveis. Um jantar no Palácio Real é a confirmação que a imprensa e a população estão esperando desde que Nathaniel virou meu Mentor.
E dessa vez é verdade.
Realmente há algo entre nós dois.
Mas tão rápido quanto me aproximei da Família Real, mais rápido ainda me tornarei uma ameaça ao reinado deles.
O que eu estou fazendo?
Olho-me mais uma vez no espelho para ver se a roupa é realmente a adequada: um vestido azul cobalto, manga curta, decote comportado e um pouco acima do joelho.
Meus consultores passaram horas para escolhê-lo, uma vez que não é um jantar qualquer.
É um jantar com o Rei, a Rainha e o Príncipe de Gaia.
Sinto um tremor no corpo todas as vezes que esse pensamento passa pela minha cabeça.
E para mim é muito mais do que isso.
É a missão mais importante.
Pego mais um dos grampos da caixa que a Resistência me deu. Olho para ele demoradamente antes de enfiá-lo no cabelo.
Na hora que combinamos, desço segurando o buquê de flores que Keysha me disse que eu teria que levar. São dálias amarelas, as preferidas da Rainha Regina.
Só de sentir o cheiro que emanam, fico um pouco enjoada. Não que seja ruim, mas a ansiedade está ganhando a luta contra todos os meus esforços de me manter calma.
Minha cabeça não para de criar cenários onde tudo dá errado.
Repasso a lista de regras mentalmente enquanto o elevador desce.
Nunca dar as costas para a Rainha ou para o Rei. Sempre fazer uma reverência quando passar por eles. Sempre me levantar quando eles se levantarem. Nunca me esquecer de tratá-los pelo pronome de tratamento.
Sei que isso não importa, mas não quero chamar a atenção para a minha fama de rebelde.
Atravesso o hall de entrada e me dirijo para a saída secundária da Torre, que é mais reservada.
Nathaniel já está me esperando.
Como sempre encostado ao carro, cabelo desgrenhado e aquela covinha completando o sorriso perfeito, mas tímido dele.
Há poucos centímetros, sinto o perfume ao qual já estou acostumada a sentir em mim e na minha cama, e esse cheiro me traz pensamentos que eu não deveria ter neste momento.
Ele se inclina e me dá um beijo, mas não correspondo. Isso não o surpreende, afinal, deixei claro que não ficaríamos bem, mesmo que tenhamos passado a noite do meu aniversário juntos.
— Você está perfeita! — ele sussurra, e o olhar dele me faz sentir assim. — Obrigado por jantar conosco esta noite. Significa muito para mim e minha família.
Não respondo, tudo soaria falso.
No entanto, depois de tudo o que soube ontem, o que vou fazer não deveria me incomodar, mas incomoda, e me odeio por isso.
Subimos o monte Dourado e reconheço algumas das casas onde fui convidada para jantar com o Nathaniel. Quanto mais avançamos, mais tudo se torna grandioso, até chegarmos ao muro que separa o Palácio Real do resto da Matriz.
Depois de a escolta real liberar a passagem, entramos no caminho cercado por árvores com caules retorcidos que eu já conheço. Nathaniel abaixa o vidro e consigo sentir a temperatura mais amena e úmida, uma vez que os raios de sol certamente não passam por estas copas tão densas que se unem acima de nós.
Assim que o caminho que parece ter saído de um conto de fadas acaba, o palácio surge majestoso, imponente como eu me lembrava.
Nathaniel para o carro ao lado do pergolado coberto de lavanda com um aroma tão forte como as dálias que estão mesmo à minha frente.
Então percebo que fizemos o caminho todo em silêncio.
Ele deve estar nervoso com o jantar ou deve ter se ofendido com a minha frieza quando não correspondi ao beijo.
Não sei dizer.
Saio do carro quando o segurança da Escolta Real abre a porta e espero pelo Nathaniel, sentindo meu coração acelerar e minha mão começar a suar frio. Torço para que ele ache que estou tensa apenas por ter que jantar com os pais dele.
Mas a verdade é que parece minha primeira missão, a adrenalina me invade de forma intensa e assustadora. É impossível não sentir o perigo dessa vez.
Depois que subimos a escadaria, Nathaniel para, e isso me faz encará-lo.
Ele apenas me olha.
Não sei o que os olhos deles estão dizendo e não sei se quero saber.
Mas como se eu não conseguisse resistir ao que quer que seja que nos une, dou um passo à frente e o beijo.
Talvez esse seja o nosso último beijo.
E quero que o Nathaniel se lembre dele quando eu já estiver longe e tudo o que tivemos se tornar parte de um passado que não deveria ter existido.
Não sei se um dia o odiarei, mas vou lutar contra ele mesmo assim.
Sinto meus olhos inundarem de lágrimas dolorosas.
— Preciso falar com você — Nathaniel diz, afastando-se de mim e me olhando de forma enigmática.
— Sobre o que? — pergunto, tentando esconder a ansiedade que a frase dele me causou.
— Agora não vamos ter tempo. — Nathaniel parece tão misterioso hoje. Fico calada controlando a vontade de dizer que não vou entrar até ele me dizer o que está acontecendo. — Mas tenho algo para dar para você.
Ele coloca a mão no bolso do terno e meu coração acelera.
Mas antes que consiga tirar o que quer que seja, uma voz nos interrompe.
— Vocês já chegaram! — O tom é meigo e firme ao mesmo tempo.
Nathaniel tira a mão vazia e sorri para a mãe, ao mesmo tempo em que me viro para cumprimentar a Rainha.
— Obrigado por vir nos receber — ele diz de forma educada e amorosa antes de dar um beijo no rosto dela.
— Eu estava ansiosa pela chegada de vocês — a Rainha fala baixinho para ele.
— Vossa Majestade — faço a reverência quando ela olha para mim. — Muito obrigada mais uma vez pelo convite.
— O prazer é nosso, Emily. Você está encantadora, como de costume — diz, pegando as flores que ofereço para ela. — Dálias são as minhas preferidas. Obrigada, querida. Vamos entrar?.
Encaro o Nathaniel.
Meus olhos devem estar implorando para ele pedir licença da mãe e conversar comigo. Preciso saber o que ele queria me dar.
— Desculpe, vamos ter que esperar — Nathaniel diz baixinho enquanto segura a minha mão e me guia para dentro do palácio.
Amar você é um jogo perdido
Desistir de nós não custou tanto
Eu vi o fim antes de começar
Ainda assim continuei
(Arcade | Duncan Laurence)Tem alguém nervoso junto com a Emily aí?
Até amanhã!
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A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)
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