A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)

Capítulo 79

— Você sabe qual é o plano da Matriz? — A voz me pergunta na escuridão. — Depois da bomba que foi jogada na muralha, você sabe o que a Matriz decidiu? —insiste.

— Não — respondo com certeza de que não vou gostar do que vou ouvir a seguir.

— Implodir o Setor 3.

— O quê? — pergunto, cética. — Eles não podem fazer isso.

— Claro que podem. — Ouvir isso é como levar um tapa de realidade. — E eles vão fazer. Mesmo que o Rei não precise de aprovação, foi fácil conseguir apoio da elite da Matriz com a desculpa de que o vírus pode se tornar pior e nos infectar.

— Vocês são imunes — afirmo rápido.

— Sim, Emily, mas não sabemos até que ponto. Além disso, eles vão dizer o mesmo para os outros Setores, ou seja, que eles podem ser infectados com mais um vírus. A Matriz está elaborando tudo de tal forma que Gaia inteira vai apoiar.

Levanto-me quando o nervosismo não me deixa continuar parada.

Há milhares de pessoas no Setor 3. Implodi-lo vai acabar com a vida de todas ao mesmo tempo.

Crianças que nem ao menos tiveram a oportunidade de descobrir o quanto esse mundo é injusto.

Os irmãos da Nina.

— O Nathaniel está a favor disso? — pergunto, tentando esconder a aflição na minha voz, mas sei que estou falhando.

— Sim, ele está a favor. — O esforço para não desabar aqui é inútil. Claro que ele está a favor, e me sinto estúpida por ter duvidado disso. — Falando no Nathaniel, James nos garantiu que seu relacionamento com o ele não vai atrapalhar nossos planos. Ainda mantém essa posição?

Dou uma risada sem humor.

Não acredito que realmente preciso responder a isso.

— Você acabou de me dizer que vão implodir o Setor 3 e está me perguntando se o que quer que eu sinta pelo Nathaniel vai me deter? — Seguro a borboleta que ele me deu, mas controlo a vontade de arrancá-la do meu pescoço. — Não é mais sobre mim ou sobre o Lucas, muito menos sobre o Príncipe de Gaia. Nunca foi! Mas mais do que nunca é sobre todos os que já morreram e que ainda vão morrer por causa da Matriz.

Um silêncio breve paira na sala, permitindo-me sentir uma decepção que nunca senti antes.

E não é com o Nathaniel.

É comigo mesma.

— Acredito em você — ele diz.

Claro que ele acredita, não há nenhuma hesitação nas minhas palavras.

— Nathaniel ontem mandou prender as pessoas do Setor 3 junto com as outras. — Resolvo descobrir mais sobre isso. — Eu estava no Quartel e ouvi a conversa. Você sabe quantas são?

— Quase trezentas — ele responde, parecendo já saber o que acabei de falar.

Trezentas pessoas que a Matriz pode executar em qualquer momento. Trezentas pessoas que podem nunca mais voltar para casa.

Trezentas pessoas que mesmo que consigam voltar para casa estão destinadas a morrer, porque a Matriz simplesmente decidiu acabar com o Setor delas.

— Nós precisamos salvar o Setor 3 — começo, minha voz tremida e consumida pelo ódio —, mas primeiro temos que tirar essas pessoas da prisão.

Minha vontade é ir lá agora mesmo.

Não posso ficar de braços cruzados. Não posso ser cúmplice disso. Porque seu eu não fizer nada por elas e pelo Setor 3, sou tão culpada quanto à Matriz.