Se tivesse que resumir esta madrugada em uma palavra seria pesadelos.
Nathaniel me beijando e o Lucas vendo.
A única diferença da realidade é que eu estava correspondendo e gostando do beijo.
Droga!
Nem nos meus sonhos mais eu tenho paz.
Levanto-me, sentindo-me exausta. Depois de lavar o rosto e escovar os dentes, vou até a janela para ver a vista.
E o que vejo é Mia e Maddy. Ela deve ter passado a noite aqui também.
Maddy olha na minha direção e acena para mim. Mia se vira e sorri, fazendo sinal para eu ir para o andar de baixo.
Antes de sair do quarto, pego o celular que passou o dia desligado ontem e quase erro um degrau enquanto vejo a quantidade de chamadas perdidas.
Nenhuma do Nathaniel.
Ótimo!
Assim que der eu ligo para a Amanda, a maioria das chamadas é dela. Ela deve ter ficado preocupada com o meu sumiço.
— Ansiosa pela visita? — Mia pergunta quando nos encontramos no corredor e começa a nos guiar para a cozinha. — Temos que sair em meia hora para você não chegar atrasada.
— Não é preciso — digo, tentando esconder qualquer traço de tristeza na minha voz. Mas é difícil. Se tudo estivesse bem, eu veria o Lucas de novo hoje, eu o abraçaria, saberia como ele está e isso me encheria de forças para aguentar mais um mês. Mas ele não vem. — Não vou receber visitas — respondo, sentando-me em uma das cadeiras que rodeiam a grande mesa de vidro.
E, depois de me lembrar disso, nem mesmo o cheiro das panquecas que ainda parecem mornas desperta o meu apetite.
— Posso perguntar por quê? — ela questiona, e não consigo identificar a expressão no olhar dela. — Não, esquece. — O sorriso da Mia é um pouco constrangido enquanto me entrega um prato com uma panqueca. — Você deve ter seus motivos, desculpa me intrometer.
— Não tem problema, Mia — apresso-me a dizer. — Você é das poucas pessoas que me dá espaço. Por isso, eu sei que não é só curiosidade.
Coloco um pouco de mel e canela por cima e me forço a comer um pedaço.
— Eu só fiquei preocupada — ela comenta, olhando-me nos olhos. — Sei que você não é o que demonstra ser, e deve ser cansativo esconder o que você pensa e sente o tempo todo. Mas se precisar desabafar, estou aqui, está bem? Até porque, pelo que consigo ver, você é mais interessante do que a ruiva que todos conhecem.
— Você acha? — pergunto com um sorriso nervoso.
— Sim! Você é tão pé no chão, não fica deslumbrada com as coisas. Eu gosto disso. Qualquer outra garota já estaria sonhando com o título de princesa e esnobando os plebeus como eu.
Dou uma risada.
— Eu gosto da forma como você me vê — comento, e Mia sorri antes de colocar um pedaço de panqueca na boca.
Penso em desabafar com ela sobre o Lucas, mas percebo logo que é uma péssima ideia. Sobre a Resistência não posso nem considerar falar disso com alguém.
Por isso, não digo mais nada.
E Mia não insiste.
Então percebo que também não sei muito sobre a garota sentada à minha frente, ela nunca fala nada pessoal.
Não sei qual é a relação dela com Kyle, não sei se ela está em algum relacionamento, se os pais estão vivos, se ela tem irmãos. Também não faço ideia de como ela está ligada ao Hugh e ao Gabriel com quem já a vi algumas vezes.
Talvez, por isso, a nossa amizade seja tão boa, porque nós respeitamos a privacidade uma da outra. Mas espero que, com o tempo, a gente se conheça melhor.
Gosto da Mia de verdade.
E quando ela propõe maratonarmos uma série de suspense no resto do domingo, nem hesito.
*
— Certeza que você vai ficar bem? — Mia pergunta quando estamos em frente à Torre, depois de uma viagem de volta agradável para a cidade.
Foi lindo ver o pôr do sol descendo os montes.
— Sim, não se preocupe — respondo, tirando o cinto de segurança e a abraço. — Obrigada por tudo, adorei o fim de semana com você.
— Foi ótimo — ela responde. — Qualquer coisa, me liga.
Confirmo que sim e saio do carro.
Vejo alguns flashes disparados assim que começo a andar para a Torre, mas não sou abordada.
Ainda bem.
Não quero ter que falar com ninguém.
Nem falar sobre o beijo.
Muito menos sobre o dia da visita.
Tenho certeza que desabaria se me questionassem porque ninguém veio me ver.
Por isso, no elevador aperto no botão do terraço, com receio de que encontrar algum Curado no caminho do apartamento.
Assim que saio, olho a volta para me certificar de que o lugar está vazio e avanço. Deito em um dos bancos e encaro um céu cheio de estrelas.
Não sei quanto tempo passo aqui até ouvir passos que parecem cada vez mais apressados. Levanto-me assustada, e franzo a sobrancelha para tentar focar a imagem, mas de tão longe e com tão pouca luz não consigo identificar a pessoa. A única certeza que tenho é que quem quer que seja está correndo para perto do parapeito e parece que não vai parar.
Fico paralisada por alguns segundos sem conseguir processar o que está acontecendo, mas quando vejo que a pessoa está cada vez mais perto de uma queda que sem dúvida seria fatal, não hesito, corro em direção a ela.
Leve-me ao telhado
Eu quero ver o mundo
quando eu parar de respirar
(Listen Before I Go | Billie Eilish)Até amanhã!
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A Resistência | À Beira do Caos (Livro 1)
Science FictionSerá retirado do Wattpad nos próximos meses! Enemies to Lovers | Fake Dating 🏆 Wattys 2020 Gaia | 2121 Cem anos após a Terceira Guerra, Emily e Lucas ainda sofrem as consequências do confronto biológico e carregam no sangue um vírus mortal. Ela per...