Capítulo 12.

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Os olhos de Maya estudavam cada expressão e palavras que o irmão lhe mostrou de Ana, Mike estava sentado na beira da cama abraçando os joelhos enquanto assistia em silêncio, ele se sentia um pouco mal por isto mas necessário, Maya lhe dissera que pela primeira vez tinha sido corajoso e isso era bom apesar de ter falado uma pequena mentirinha a menina ao dizer que o machucaria por ela.
__Generosidade falsa? Hm... Pelo que eu vi, Ana passou poucas e boas__Um suspiro saiu dos lábios de Maya enquanto olhava fixamente para Nícolas que parou e sentou-se no chão.
__Por que queria ver isso Aya? __Nícolas limpou as lágrimas do rosto com o dorso das mãos, fazer aquilo era algo fácil apesar de não entende o por quê.
__Eu vi o modo que ela reagiu a cada gesto e palavra de Mike. Era como se ela tivesse esperança, decepção e no fim ficou olhando para ele como se esperasse que ele fosse humilha-lá mas também como se finalmente tivesse alguém que se importasse com ela__Mike se encolheu um pouco ao lembrar de Ana no corredor, principalmente com o modo que reagiu naquele momento.
__Ela ouviu sua promessa Maya. Ela estava no corredor antes de você abri a porta e parecia se importa__As palavras de Mike mal passavam de um sussurro, um sussurro que quase Maya perdeu porém foi quase.
O dia foi corrido, as aulas passaram voando e mesmo as provocações de colegas de classe não tiraram Maya de seus devaneios, mesmo Helena não conseguiu faze-la pronunciar uma única palavra o que a deixou frustrada.
Helena tentou falar com Maya tantas vezes que perderá as contas de quantas foram e tudo que recebeu da amiga foi seu olhar frio como aviso de que a deixasse em paz.
A verdade é que a mente de Maya trabalhava tão fervosamente que tudo o que fez foi sentar em sua cadeira e ficar ali, ignorando as brincadeiras de classe e as perguntas de Helena que não parava um minuto quieta, Maya teve de reunir toda sua paciência pra ficar calma até a última aula que foi quando pegou a bolsa e saiu sem se importar com Helena a sua cola.
Caminhando com o olhar nublado ela encarou a seguidora que com relutância entendeu que deveria ficar longe dela por um momento e foi isso que aconteceu, Helena partiu e só quando ela desapareceu de sua vista Maya voltou a caminhar e ignorando o barulho ao redor onde também teve de ignorar o tumulto no transporte coletivo.
O tempo caminhando não foi tão longo quanto o tempo dentro de um cúbico móvel, os olhos estavam fitando uma placa que continha as palavras que esperava encontrar "ORFANATO".
Maya suspirou levemente ao observar cada uma das crianças que riam,não por brincadeiras bobas e infantis mas sim por ficarem ao redor de uma pequena garotinha, ela tinha um sorriso meigo, uma pequena ovelha no meio de lobos.
Foi recepcionada por uma senhora vestida de freira, ela tinha um sorriso bonito e enrugado e era gentil, falava de Ana com muita saudade e carinho apesar de ficar triste algumas vezes mas logo sorria espantando qualquer rastro da tristeza demonstrada, Maya descobriu o motivo de Ana ter ido parar naquele lugar e também descobriu que ela teve alguns acidentes lá, seu cabelo foi estragado quando ela tinha nove anos por conta de chiclete, dita as palavras triste da madre que uma das meninas tentou tirá-lo com uma tesoura mas acabou tirando os cabelos da menina demais. Maya apenas cruzou os braços a escutando com atenção, ela não acreditou muito no que a senhora lhe disse mas assentia a cada relato.
Os corredores a levaram ao quarto de Ana e lá a madre lhe mostrou o pequeno quartinho improvisado em um cúbico que era o espaço que antes era um closet. Estava empoeirado e mal iluminado, continha uma única janela circular cujo a cor estava em vermelho e não poderia ser aberta, enquanto olhava o local notou rabiscos ao lado da cama e uma chave pendurada na cabeceira da cama minúscula de solteiro.
__Ana, depois de uma semana  não queria mais dormir com as outras meninas. Ela era uma boa menina e pediu tanto que cedemos a este pedido __Os olhos da madre estavam baixo enquanto suspirava com tristeza__A pobre menina ficava mais tempo aqui do que em qualquer outro lugar.
__Ana tinha algum amigo?__Maya não pode deixar essas palavras passarem, ela tinha uma intuição e não era nada boa, sua pergunta continha um propósito escondido__Queria perguntar algumas coisas, ela ainda não se adaptou a nova família e queria descobrir um modo de fazê-la se sentir em casa.
__Oh ela tinha um sim, André. Ela ficou tão arrasada no dia em que o menino caiu da escada que não desgrudava dele um segundo, depois disso seus sorrisos eram mais constantes__O rosto enrugado se tornou mais suave com um sorriso__Venha menina. Vou leva-la até André. Ele ainda está aqui e aposto que ficará feliz com notícias de Ana.
Maya apenas deu um sorriso amarelo antes de seguir a mulher, ela podia notar que aquela senhora se preocupava com Ana mais tinha algo que apenas aquele garoto poderia lhe responder e se fosse preciso tiraria cada uma das respostas a força, só teria que ser discreta.
O barulho de um relógio antigo era a única coisa que Maya escutava em uma sala que fora destinada a espera, passou-se meia hora antes que alguém aparecesse e entrasse pela porta, um garoto de vestes escura.
Olhar para a garota que se levantou trouxe um sorriso falso ao rosto, os cabelos bagunçados em um castanho claro o fez mexer as madeixas antes de segui e sentar de frente para ela, tudo que a madre lhe disse foi que havia alguém querendo falar e a sós. Não pode objetar mas talvez fosse algo bom. A porta se fechou e Maya se levantou com um suspiro.
__Sabe o que irei perguntar? __A sobrancelha de Maya se arqueou ao encarar o garoto que gritava problema de tantas formas que ficou calma, precisava ficar afinal, era sua oportunidade.

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