Capítulo 29.

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A respiração ofegante e os cabelos negros ensopados eram algo que faria Maya parecer ter corrido uma maratona. Nunca imaginou que Dominique viria até a estufa de sua casa.
Quando correu pelo caminho que teve de segui até ali lembrou de Chloe fugindo e raiva lhe fez ficar em alerta.
Naquele lugar ela se sentiu revivendo tal momento, olhou para a estufa e a porta estava escancarada, puxou o ar com força e observou o interior, no final do corredor estava Ana. Sentada em uma cadeira ela estava amordaçada e amarrada. Os olhos de Maya se desviavam e buscavam as coisas ao seu redor quando as luzes, que a estufa possuía, foram desligadas. O som de metal sendo arrastado no chão a fez olhar para o final do corredor, Dominique segurava um machado enquanto o arrastava até se por a frente de Ana.
__Maya__Dominique disse com amargura e raiva.
__Dominique__Respondeu Maya quando um raio cortou o céu iluminando a face das duas. Os olhos fixos e as íris crepitantes duelavam silenciosamente.

Maya era uma garota que foi treinada para ser fria, escolheu ser daquela forma quando era criança e não havia apenas um crime nas costas. Haviam mais e sabia que pagaria algum dia, porém, tinha certeza que não seria naquele momento, ela tinha quem proteger, tinha quem a amasse mesmo sendo seu amor refletido em um menino quebrado, ela presava tal amor mesmo sendo uma ilusão, mesmo que tivesse de sujar as mãos mais uma vez. Pelo seu anjinho quebrado ela o faria. Sairia dali viva, com as mãos manchadas de sangue para protegê-lo do mundo e de todos que tentassem lhe fazer mal. Mataria mais uma vez e quantas mais precisasse se isso a mantivesse perto dele.

***
Alice não se via com humor suficiente para as perguntas que Mozart e Sebastião lhe fazia, depois que Raven fora mandada para tratamento médicos eles apareceram em seu caminho e como ato de rendição os levou a sala privativa sentando-se com a postura impecável, de fato a menina fora maltratada o suficiente para um vida inteira, porém, Bonnie não poderia negar que a garota havia lhe traído, mesmo que houvesse sido uma única informação.
__Você quase a matou Alice__Mozart disse praticamente gritando ao passar os dedos entre os cabelos. Sebastião lhe olhava do outro lado da sala com uma irritação que conhecia bem.
__Você queria fazer isso__Alice rebateu Mozart__Fiz o que tinha de fazer.
__Ela é seu sangue__Sebastião disse com cautela, aquele ainda era um assunto delicado e sabia disso.
__Poderia ser minha mãe, meu pai e o caralho a quatro__Alice disse ríspida__Ela vazou informações sobre o meu mundo.
__Por ciúmes!__Sebastião disse irritado__Ela te via como a heroína dela e você sequer lhe notava. Prestava mais atenção em Maya
__Cala a boca__Alice lhe disse estreitando o olhar__Por ela fazer tudo o que eu queria, é que era exatamente o motivo de não lhe dar atenção. Sebastião, meu mundo não foi feito para ela. Eu tentei afastá-la. Como tentei fazer, mas, ela caiu em minhas mãos outra vez e sabe que não sou amorosa, eu não tenho psycho pra isso!
__Você a fez sangrar, Alice__Disse Sebastião mortificado.
__Idai? Eu faria qualquer um dos meus sangrarem por uma traição__Alice disse entredentes__A traição deve ser paga com a morte, estou sendo misericordiosa o suficiente.
__Essa não é a questão...__Sebastião começou porém Bonnie se levantou batendo as mãos sobre a mesa.
__A questão é o que eu decidi__Alice disse ríspida, irritada e amarga__Foda-se se você não gostou. Saia com o rabinho entre as pernas e pense duas vezes antes de voltar a opinar sobre a minha vida com Raven. Ela não me conhece e espero que continue assim ou você vai deseja está no inferno antes mesmo que eu te encontre ou sequer cogite a idéia de que um dos dois espalhe por ai meu segredo.
Alice olhava para os dois cães, estava irritada com ela mesma e com eles também, estavam fazendo ela se sentir mal pelo que fizera mas estava certa. Ela não iria tolerar traições entre os seus mesmo que fosse seu sangue.
__Agora que está tudo esclarecido tenho que ir__Alice disse com um suspiro__Sebastião, já sabe o que tem que fazer. Não ouse me contrariar, odiaria ter que dar fim em um amigo.

Alice não esperou por reação, estava atrasada e somente o fato que aquilo lhe dizia a deixava com um humor horrível, passou por vários corredores mal iluminados e quando finalmente adentrou o quarto retirou as roupas para um banho rápido, infelizmente, isto foi feito na frente do espelho quebrado, seu reflexo dividido ainda se era possível ver as diversas marcas das agressões do pai ou até mesmo das dos amigos dele, as marcas que fora deixada após séries de abusos e violências físicas.
A respiração de Alice faltou, cada imagem que trancava tão firmemente no fundo de sua mente veio a superfície lhe atordoando, deu passos para trás e quando caiu vergonhosamente no chão as palavras que lhes assombravam voltou a rondar sua cabeça.

"Quanto tempo será que vai aguentar dessa vez?".

A voz daquele que lhe faria planejar uma vida inteira sua vingança, aquele que lhe abusou e deixou humilhada sangrando e com uma filha no ventre sendo tão nova. Odiava a forma que seu corpo fora usado, machucado e descartado. Um soluço a fez gritar de raiva e se levantar com um turbilhão de emoções que trancafiava em seu interior, encarava o próprio reflexo, haviam tantas marcas mas nenhuma delas era tão significativa quanto aquele "A" retorcido em sua cintura, aquela inicial que lhe faria usar sua cordeirinha e a própria filha para desgraça o maldito que lhe humilhou durante dois anos.
Ela tinha a própria sede de vingança, se fosse para dar um motivo para sua cordeirinha acabar com a família Grayon ela o daria, seria a mocinha por enquanto, guardaria suas cartas até ter sua cereja, até que seu triunfo final estivesse pronto, e mandaria Maya para longe, ela não permitiria que sua pequena ovelha fosse presa por matar dois incômodos, forjaria tudo que fosse preciso, a mandaria pra longe até a hora certa.

***

Nícolas olhava para o caderno de desenhos. Seu olhar fixo a página que recebia cada linha que o menino fazia sem se rasgar. Ele podia sentir a tensão da mãe, que andava de um lado para o outro, mas não se preocupava com ela. Ele desenhava o que podia de sua irmã desde que ela saiu, desenhou seus olhos, sua boca, o nariz, os traços finos de seu rosto, os cabelos negros, as curvas de seu corpo. Qualquer coisa que queria lembrar pois em um papel, estava obcecado fazia algumas horas, os dedos doiam porém  se limitou a ignorar aquilo, se irritou a cada vez que a ponta de seu lápis quebrava e gritou com qualquer um que se aproximasse demais. Estava mais irritado do que nunca, achava tudo irritante e sem sentido.
Odiava a forma que o irmão se comportava, o chamava de patético e continuava com a série de palavras ofensivas até voltar ao desenho, ele não se importava se machucava o irmão com tais palavras, ele a queria. Queria sua obceção, aquela que lhe era um desafio e importante, aquela que lhe faria querer ser perfeito e era sua única máscara real.

***
Alessa olhou para o porto com uma curiosidade intrigante, Dam estava ao seu lado quando receberam um pacote, ela sentia o cheiro de maresia que a deixava com um leve enjôo, não disse sequer uma única palavra sobre isto mas Dam a obsevava com atenção, fazia tempo que notará algumas mudanças no comportamento da namorada, sabia que aquela altura ela estaria falando pelos cotovelos e não calada como estava, pior ainda, ele a achava está muito pálida.
__Você está bem mesmo?__Dam perguntou outra vez ao tocar o rosto pálido de Alessa.
__Já disse que estou bem__Alessa disse com seu jeito esnobe mas ainda assim Dam suspeitava que não lhe dizia a verdade.
__Tudo bem__Dam disse por fim em um tom neutro ao se afastar outra vez.
Estavam aguardando Maya, a chuva caia como um dilúvio, o céu estava nublado e raios cortavam o céu vez ou outra, a ventania poderosa faria o mar ficar tempestuoso e somente Alessa tinha um tanto de pavor daquilo, sabia que os enjôos piorariam ainda mais.
Alessa cruzou os braços encarando o céu, cada vez que este se iluminava com uma descarga ela se via encolhendo, a única coisa que ela temia era Alice e a natureza, o resto se podia lidar com paciência.

***

Dominique avançou contra Maya segurando o machado com força, golpeou na altura do estômago e só não a acertou porquê Maya pulou para trás encolhendo o abdômen, estava ela se armando para voltar a golpear a garota quando ela lhe empurrou e avançou lhe dando murros e escorrões que quase a fizeram ceder ao chão.
Maya era rápida, dava-lhe socos e empurrões a impedindo de estabilizar o equilíbrio, tentou de todo custo lhe tomar o machado e com isto iniciou um briga, como que em,"cabo de guerra" puxava para si e Dominique para ela. Não se deu por vencida, puxava outra vez e com as pernas a passou uma rasteira as levando para o chão. A primogênita então puxou o machado para si e usou a força que Dominique exercia a seu favor, virou o machado com rapidez golpeando Dominique na cabeça com o cabo do machado e por mais que ela resmungasse de dor não conseguiu segurar a ferramenta por muito mais tempo cedendo a outra.
Maya se afastou, o machado em mãos e o olhar voltado fixamente a Dominique que atordoada gemia de dor enquanto sua testa gotejava uma pequena quantidade de sangue.
__Eu te odeio__Dominique disse__Você a matou!
__Faria novamente__Maya rebateu__Sua filha era estúpida, mimada e egocêntrica.
__Você é uma psicopata__Berrou Dominique ao levar a mão a testa dolorida__O que ela fez pra merecer a morte?
Dominique olhava para Maya cheia de ódio e dor, não entendia o por quê aquela garota havia matado sua filha, achava sua filha uma boa menina, porém as íris verdes e escurecidas da garota que segurava o machado com tanta naturalidade a fez hesita em suas suposições, afinal, acreditava que sua filha era o exemplo de boa moça.

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