Dedicado a KamyNyan
Maya não ligou mais nenhuma única vez naquela noite, Nícolas estava olhando para as paredes do quarto da irmã enquanto contava até dez e as vezes invertia a ordem contando ao contrário, sua mãe não era alguém que ele gostaria de ver, todas as vezes que a via ela lhe direcionava olhares com pena ou até mesmo decepção, seu irmão também notará mas nada dizia afinal o que adiantaria?
Nícolas estava realmente tentando fazer o que a irmã pediu: contou até dez, fico em seu quarto e estava tentando ficar calmo mas de alguma forma sabia que sua irmã poderia voltar de seu trabalho ainda mais fria, ainda mais cautelosa e pior ainda seria se viesse com transtornos.
Nícolas balançou a cabeça várias vezes até que os cabelos tivessem bagunçados, foi atrás dos fones de ouvido e suas músicas e assim que os tinha em mãos voltou para cama fechou os olhos e deixou que a música lhe preenchesse e o levassem ao sono.***
Laura estava na cozinha tentando fazer panquecas mas o nariz franzido identificava sua vontade de fazer aquilo, não gostava de cozinhar mas ninguém nunca reclamou de sua comida apesar de desconfiar que todos odiavam, quando a enteada fazia as refeições todos comiam com deleite, o único que comia da mesma maneira a sua era seu Mike.
Torcendo o nariz tirou os restos queimados do que deveria ser panqueca e suspirou, pegou o celular e ligou para sua agência exigindo uma empregada, as unhas estavam um desastre, reclamou pelos cotovelos com o atendista e quase chorou, ela não servia para ser mãe ou dona de casa e sabia disso, o fato do marido ainda está com ela era os filhos e sabia que realmente estava tentando se manter forte, subiu para o quarto e desatou sobre a cama.
Laura suspirou ao olhar para a fotografia dos filhos na cabeceira da cama, Nícolas e Mike estavam dormindo e poderia se dizer que eram crianças normais porém ela sabia que não. Seus filhos eram quebrados um sem sentimentos e o outro com excesso deles; um sociopata e um com síndrome de pânico ou sabe lá o que deveria ser, não podia se envolver em escândalos, sua carreira não permitia e ainda por cima existia Ana, ela era alguém especial, faria Laura sentir ódio dos pais e tios por tudo que fizeram ela passar. Laura sempre soube tudo sobre ela mas não poderia fazer nada, sua mãe lhe obrigava a esquece-la mas não poderia, adorava aquela menina, quando finalmente conseguiu fazer seu marido ceder a adoção de uma nova criança ela foi até Ana, ela lhe deu sorrisos tão gentis que amoleceram seu coração ainda mais porém sabia que Maya estava no caminho, ela tinha de arrumar um jeito de fazê-la ir embora mas a garota se controlou então bebeu até adormecer.
Laura levantou da cama novamente e quando voltou a cozinha Ana estava lá com um vestido florido, ela sorriu e quando a menina retribuiu o sorriso se aproximou com calma acariciando os cabelos castanhos escuros e lhe fez companhia com sorrisos e diálogos rapidos além de gentis.***
Ana fitou a casa dos Grayon's um tempo depois de sair daquele lugar, Laura conversou com ela enquanto comia biscoitos industriais que tratou de deixar visível para os irmãos, descobriu que ali por perto havia um lugar calmo e decidiu ir até lá levando uma chave solitária consigo.
Ana passou pela estrada de terra batida, os cabelos esvoaçando sobre o rosto lhe fizeram ergue a mão direita as madeixas, a sensação de já ter visto aquele lugar lhe preencheu a mente e os olhoa visualizaram o precário portão de madeira, o abriu com cuidado e este rangeu quando fechado, notou marca sobre o trinco e as contornou com calma antes de voltar o olhar para a estufa, parecia bela, mas só poderia dizer aquilo com certeza quando entrasse naquele lugar e assim o fez, com passos calmos e mãos firmes usou a chave para abrir o cadeado e esse fez um barulho oco ao cair no chão. Os olhos de Ana se fixaram no portão e assim que deslizou a porta para abrir passagem o ar que respirou foi estranho, segurou a respiração e inspirou fundo antes de observar o lugar que deveria estar intacto porém continha o vidro quebrado, as roseiras e flores como tulipas, margaridas, lírios e outras variedades que não conhecia lhe trouxeram curiosidade, cada passo que dava para se aproximar das roseiras foi lento e sem pressa, Ana tinha uma sensação estranha naquele lugar mas apenas se limitou a observar, tocou as pétalas de uma rosa e sorriu mediante a maciez dessas, sua cor vermelha demonstrava o quão bem cuidadas eram mas o cheiro de algo estranho misturado ao doce aroma das rosas a fizeram franzir o nariz e andar até o monte de terra dividido em desigualdade.***
Mike e Nícolas estavam sentados no sofá dividindo os biscoitos que encontraram, Nick não direcionou uma única palavra a mãe porém Mike sim, ele abraçou-lhe com carinho e falou um pouco mas logo ficou com o irmão e estava um tanto incomodado.
__Mamãe está triste, você notou?__Mike perguntou ao olhar para o irmão e quando teve sua atenção manteve o olhar fixo.
__Sim, notei mas e daí?__Nícolas suspirou após falar e voltou a atenção para a porta.
__Ela disse que Ana foi à estufa__Mike disse com desinteresse mas isso fez o irmão segurar-lhe o pulso com força__O que foi?
__Onde Ana foi?__Nícolas perguntou com o olhar crepitando a irritação
__A estufa__Mike disse em quase um sussurro e Nícolas apertou ainda mais seu pulso.
__Quando? __Perguntou Nícolas automaticamente enquanto encarava o irmão com total atenção.
__Cedo__Mike disse com a voz trêmula e o olhar baixo.
Nícolas soltou o pulso do irmão, a voz da irmã em sua mente ecoando para que não voltasse lá. Ele se afastou, as íris escurecendo aos poucos, Mike se encolheu diante da mudança do irmão, seu movimento fora direcionado a porta, Nícolas já não se importava com a visão trêmula de seu irmão no sofá, naquele instante era como se tivesse assumido a máscara de Maya. Correu, os cabelos dourados brilhavam pelo sol, seu olhar se prendeu a porta de madeira do cercado, abriu está e continuou seu trajeto. Estava a um passo de entrar quando a figura sorridente de Ana com uma tesoura de jardineiro e rosas em mãos apareceu, seu sorriso congelou quando Nícolas lhe segurou as mãos com brutalidade levando-a a lhe empurrar, as flores cairam ao chão e os olhos castanhos de Ana se fixaram aos verdes escurecidos de seu irmão, não entendia o por quê do ataque mas ergueu-lhe a tesoura e está foi facilmente direcionada ao frágil pescoço de Ana, ela soltou um resmungo quando a ponta do objeto lhe perfurou superficialmente.
__O que faz aqui?__Nícolas perguntou mantendo-a presa abaixo do corpo e com a tesoura pressionando-lhe a garganta, o olhar emanava raiva crua.
__Laura disse que era um bom lugar para ficar só__Disse Ana entre sons travosos e isso fez o pressionar em sua garganta aumentar__Desculpa, eu peguei as flores pra Laura... eu juro que foi só
O filete de sangue começava a descer do ponto pressionado pela ponta da tesoura, Nícolas lhe observou por um tempo, tempo este que a feriu mesmo que pouco e se levantou segurando a tesoura com força.
__Nunca mais volte aqui. Esse lugar é da Aya__O tom de Nícolas soou ameaçador e Ana levou a mão a garganta, ardia o pequeno ponto que escorria brandamente seu sangue com gotas e caiam como lágrimas.
Ana esperou que Nícolas fosse embora mas ele não o fez, então pegou as flores e se distanciou, não deixou transparecer seu medo ou pavor, apenas se foi com a cena do que encontrou no meio da terra preta.
Nícolas olhava para a tesoura quando Ana se foi, seu único pensamento foi que deveria sair dali, deixou o objeto em uma bancada e saiu, mas antes trancou a porta da estufa e levou consigo a chave que abria o cadeado e um dos segredos da Irmã, guardaria em um lugar que ninguém voltaria a pegar, um que somente ele e Maya conheciam.
Ele não notou mas seu olhar era distante e os passos lentos enquanto a luz do sol lhe irritava os olhos, se perguntando o quanto dois dias poderiam parecer muito.
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A Primogênita (Em Revisão)
General Fiction||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| Maya é uma garota que esconde segredos de seu passado e marcas da separação dos pais, tendo sua guarda compartilhada acaba ficando maior parte do tempo na casa do pai, já qu...