Capítulo 13.

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ANA L. GRACE: Memórias marcadas.

Ana tinha os cabelos um pouco mais curtos que os de agora, seus olhos eram bem amigáveis e gentis, como qualquer criança aos cinco anos pela manhã de natal ela acordou cedo e as risadas infantis ecoavam os cômodos da casa, mesmo quando ela via a mãe lhe procurando ela não escondia os risos, as passagens secretas daquela casa era uma coisa que ela conhecia todas,cada uma delas, desde as de corredores menores as de espaços maiores. Ana tinha as mãos rechonchudas sobre os lábios enquanto via a mãe chegar perto do seu esconderijo, Joana tinha os cabelos castanhos escuros o que muitos confundiam-se com o tom preto, seus olhos castanhos iguais os da filha sapeca que se escondia no armário, ambas riam quando se abraçaram e Ana se libertou mal mente das mãos da mãe que lhe arrancavam gargalhadas gostosas.
Era como qualquer dia o Pai de Ana, Raphael, estava com um sorriso no rosto ao ver a cena de sua filha sapeca e esposa as brincadeiras, elas sempre faziam isso, acordavam com brincadeiras novas e risadas que com o tempo fora se tornando habitual, Ana Lúcia estava com as mãos sobre a barriga enquanto era atacada por cócegas, ele mesmo se meteu na sucessão de ataques porém a vítima da vez foi sua esposa que se contorcia aos risos, a vida sorria para eles como sempre, pelo menos ao que parecia.
Raphael olhava para a filha que brincava na sala com suas bonecas, ele sorria quando a filha modificava a voz para a fala de cada boneca "sra Leslie, sra Lília e a pequena Vivi" ela fazia caretas e bico enquanto parecia ralhar com a pequena Vivi usando a sra Lília, ele cruzou os braços assistindo o espetáculo de sua menininha que usava muito bem sua imaginação pura. Joana tinha prendido os cabelos e sorria para o marido enquanto preparava o que parecia massa de bolo ou biscoitos, ele poderia dizer que tinha muita sorte por ser abençoado com seus amores então aproximou-se da filha e começou a brincar com ela ouvindo os risos da esposa.
O dia passou dando lugar a noite e a pequena Ana estava com o vestido branco em babados que iam até o joelho e fita vermelha prendendo parte dos cabelos com um laço bem feito, a menina era vaidosa apesar da fita lhe incomodar um pouco, tinha brincos em gotas cuja a pedrinha era azul assim como os demais adereços, o pai até mesmo lhe comparou a uma bonequinha o que resultou em um bico fofinho no rosto da menina. O natal sempre foi algo que Ana adorava, seus poucos familiares sempre os visitavam e a mimavam um pouco, nisso ela acabava esperando o ano todo com muita ansiedade e animação mas, naquele ano seriam somente eles, seus pais e ela.
A ceia prosseguiu não tão animada, Ana viu a mãe tomar algo rubro na taça igual seu pai, viu ambos sorrirem e dizer algo de maneira silenciosa, quase pode puvir um agradecimento talvez? Mas a verdade era que Ana ainda era pequena e mau se lembrou quando dormiu, ela acordou algumas vezes sentindo a colônia do pai e via o corredor que levava ao quarto, ela tentou falar mais acabou apagando ali.
Os acontecimentos dali em diante foram quase um borrão. Ana dormia calmamente num momento e num outro ouvia gritos pela porta, sua mãe apareceu minutos depois, os cabelos bagunçados e os olhos úmidos pelas lagrimas, ela lembrava de sentir o toque da mãe, os beijos em seu rosto e então ser coberta pelo cobertor, talvez tenha perguntado do pai mas tudo que teve como resposta foi o estalar e então muita fumaça ela não queria ter chorado mas não pode impedir então chorou enquanto sua mãe saia com ela nos braços os estalos foram mais alto a cada passo que deu pelo corredor, as escadas rangiam a cada passo que davam, o choro de Ana ecoavam a cada passo, mesmo quando ela tentou acalmar a filha não adiantou e a escada cedeu ao peso das duas fazendo-as rolarem escada abaixo. Ana caiu alguns metros da mãe que estava em uma posição muito estranha e com a cabeça apoiada na parede, ela não se moveu como a filha que chorava enquanto engatinhava pra perto da mãe, ela chorava tanto que soluçava enquanto suas mãos balaçavam o corpo da mãe e a fumaça invadiam as narinas fazendo-a tossir, ela olhava para a sala em chamas e se encolhia ao lado da mãe com soluços, sua visão escureceu minutos depois e o calor a fez suar.
Ana foi tirada da casa quando estava desacordada, ela foi reanimada e quando soube dos pais encarou a casa chamuscada pelo fogo então soluçou tendo o consolo de uma paramédica. Seu Pai foi encontrado no local onde se o incêndio começou e a mãe morreu quando caiu da escada mas como o incêndio começou era o mistério de fato. Ela chorava pelo que entendeu e pelo que viria, todas as luzes viravam um borrão em suas memórias, ela estava sozinha afinal.
O dia seguinte chegou tão rápido que Ana mau pode perceber, ela iria morar em um orfanato por conta do que seus parentes disseram "Não queria cuidar de uma criança." Ela encarava os rostos que lhe saudavam com animação, ela até tentou sorrir mas acabou choramingando com o rosto entre as mãos, ela queria tanto está tendo um pesadelo que cedeu ao choro ainda mais quando a abraçaram, ela talvez fosse bem acolhida pelos outros, era o que pensava e queria, mas a verdade era bem mais fria e crua.
As semanas se passaram e como todo encantamento bom se acaba ela conheceu sua nova família de Orfanato, as maiores eram piores, acreditavam que tinham poder sobre os demais e isso significava que Ana era a vítima da vez, ela perdeu as contas das vezes que foi empurrada para o chão, quando foi humilhada com generosidade falsa por ser boba e de quantas brincadeiras cruéis fizeram com ela.
De anos em anos as brincadeiras foram ficando mais pesadas, ela estava de joelhos, os olhos fechados enquanto choramingava, as madeixas castanhas caiam ao chão enquanto risadas lhe fariam estremecer, ela não acreditava no que acontecia, depois de quatro anos naquele lugar nada mudou, eles adoravam lhe tratar assim, desta vez a brincadeira de mal-gosto foi com os cabelos que tanto amava, depois de ter sido bombardeada com uma chuva de ovos e outros resíduos que estragaram suas roupas e seus cabelos que ainda por cima foram picotados, mecha a mecha de tamanhos diferentes e tortos passava por tudo em silêncio e de cabeça baixa.
__"Acham que está bom ou continua?"
Um coro risonho igual hienas responderam "continua". Ana fechou os punhos enquanto se levantou e empurrou a garota que tinha a tesoura em mãos, ouviu-se gritos e risadas, ela olhou para todos inclusive André que sorria com desprezo diante de seu estado.
__"Vocês... Todos vão me pagar por isso! "
As explosões de gargalhadas aumento quando Ana saiu correndo, ela entrou no banheiro olhou no espelho e chorou enquanto tentava limpar o rosto, fez juramentos e ameaças que de poucos em poucos foram se tornando algo com bastante sentido, ela os faria pagar pelos quatro anos de humilhação e por um momento suas emoções foram enviadas para um canto esquecido de seu consciente, o barulho da água corrente fora interrompido quando Ana fechou a torneira e olhou para seu reflexo, os cabelos repicados e estragados em castanhos estavam escuros por estarem molhados e os olhos escuros, sua aparência era lamentável e faria todos se sentirem da mesma forma, ela nunca mais iria deixar ninguém lhe encantar para lhe humilhar novamente.
Ana teve que sair para ajeitar o cabelo com uma das irmãs do orfanato, ela não esboço emoção alguma enquanto pensava, o novo corte de cabelo era bem curto do que de costume, mesmo quando voltou do corte de cabelos ela encarou o orfanato com desgosto, odiava aquele lugar e todos.
Ana esperou a hora de dormir, em sua mão uma tesoura faria barulhos em seu abre e fecha, aquele momento seria sua vez de brincar, um sorriso frio tomou forma e enquanto passava de uma a uma das garotas cujo as mechas ela cortava com cuidado até ficarem mais curtos que os seus próprios com calma. Demorou um pouco mais quando acabou segurou a tesoura com mais força, ela havia terminado a parte mais chata agora teria de fazer a segunda parte, enquanto olhava para Cláudia, uma das garotas que tinha picotado seu cabelo, ela suspirou e andou até a beira da cama, ela foi a única que não teve os cabelos estragados e com isso Ana teve de colocar a tesoura entre seus dedos e uma pequena amiguinha sobre a barriga da garota, aquela aranha foi um dos presentes de boas vindas ao oitavo dia naquele lugar e assim só devolveria o favor.
Enquanto os minutos passavam Ana olhava para baixo e para as escadas pensando um pouco, foi quando o grito de uma começou ganhando força com as demais garotas que alternavam em gritos e choramingos. Não demorou nada para os garotos acordarem e correrem para o quarto das garotas acompanhados pelas irmãs, Ana ainda encarava a escada quando a puxaram pelo braço fazendo ela encarar quem ela queria ver,André estava irritado e lhe falando algumas coisas que ela ignorou com o semblante frio e calmo, ela olhava fixamente para as escadas.
__"...Eu sei que foi você, não adianta nada negar, vou contar tudo para as madres e você vai se ferrar ainda mais do que antes"
Ana o encarou antes de sorrir e segurar o braço de André.
__"Você não entende não é? Não entedeu que agora aqui se faz aqui se paga. Não acha que está na hora de vocês entenderem isso? "
André a olhava com ironia, aquela garota não iria revidar, era apenas uma brincadeira que fez pra tentar se vingar,  ela nunca seria capaz de revidar e por isso nunca ia ser sem graça ou cansativo humilha - lá. Ele riu de suas palavras e a empurrou.
__"Ana, você nunca vai conseguir fazer isso sabe por que? Porque você é fraca e estúpida o suficiente pra acreditar em qualquer burrice ou bondade. Vê se cresce antes que seja pior, nada é flores, nem todos são bonzinhos. Se você acha que seus pais vão mandar alguém do buraco de onde estão ta muito engana e mais uma coisa, Não confia em ninguém. Acho que ja entendeu isso"
Ana não pode evitar de tocar as pequenas mechas do cabelo, aquela era a gota ďágua, ela o segurou pelo braço e o empurrou, mesmo quando ele fez o mesmo contra ela, ela não desistiu, cada palavra direcionada a ela foi algo que a deixou irritada e falar de seus pais praticamente a destruiu e o ódio a fez girar com André de maneira que ele ficasse de costas para a escada, foi bem rápido quando ela o empurrou escada abaixo, Ela caiu de joelhos e gritou, ela deveria gritar e chorar então o fez, chorou mais pela dor da perda dos pais do que pelo garoto que gritava de dor lá em baixo.
As semanas seguites se tornaram cada vez mais suportáveis, não ouve mais brincadeiras ou humilhação, desde que ela jogou André escada abaixo e fez questão de atormenta-lo todos os dias fingindo ser alegre e sorridente com todos, até o dia que encantou Laura Grayon.

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> cada passagem deste capítulo, apesar de ser confuso, são memórias passadas de Ana<.

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