Capítulo 21.

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Ana contornava o pescoço vez ou outra, havia uma pequena marca marrom ali, se via impressionada toda as vezes que lembrava do olhar escurecido e irritado do irmão, todas as vezes que pensava naquela cena ela se lembrava de como a irmã havia lhe estapeado no dia que chegou ali. Um suspiro roubou sua atenção quando olhou para trás viu Mike, ele tinha lhe ajudado a cuidar do pequeno corte mas seu olhar parecia distante, não lembrava mais o garoto assustado que vira antes, mas de alguma forma sabia que aquele garoto assustado estava em algum lugar. Quando Mike se sentou ao seu lado em sua cama e se deitou escondendo o rosto ela se deitou também, Ana não conseguia entender o que afligia o irmão mas assim que segurou sua mão e tirou-a do rosto pode ver os olhos brilhando. Ele queria chorar. Ela notou e fechou os olhos ao abraçá-lo evitando olha-lo, daria seu espaço e o confortaria mesmo sem saber do que.
Ana ficou em silêncio quando o peito do irmão estremeceu levemente abaixo de si, ela se esforçou para ficar quieta, mordeu os lábios quando o primeiro soluço escapou dos lábios do irmão e fechou os olhos quando ele lhe apertou a mão. Ana naquele momento havia feito sua escolha, assim como Maya. Assim como a irmã, seria forte, protegeria os irmãos e sabia que eles fariam o mesmo por ela, ajudaria Mike e Nicolas enquanto a irmã criava um novo segredo e esconderia aquele que ela havia descoberto no meio da terra preta, aquele que mal sabia que lhe traria sofrimento profundo.

***
Dominique tinha os cabelos presos em um coque que era sustentado apenas por uma caneta azul, os olhos vasculhavam cada linha e as absorvia com cautela e calma, ela estava chegando perto de terminar sua pesquisa para Maya quando o toque de seu celular a fez desviar o olhar para o aparelho esquecido em um canto de sua mesa. Ela suspirou cansada e pegou o aparelho levando este a sua orelha, a linha chiou quando a voz conhecida soou.
__Senhora Dominique Frayson?__Perguntou Clare. Aquela era uma das novidades do dia, não lembrava qual havia sido a última vez que falou com uma das amigas de sua filha.
__Clare?__Perguntou Dominique em um tom cansado__Não estou apta para receber pêsames e palavras de conforto hoje, estou muito ocupada com um caso de pes...
__Eu sei onde Chloe foi na última vez que a vimos__Clare cortou a mãe de sua amiga enrolando o fio do telefone em nervosismo. Dominique congelou em choque, depois de tantos dias. Não, era mentira. Ela riu sem humor algum.
__Você está mentindo. Está brincando com a pessoa errada, acha que eu sou idiota? Não brinque comigo, vou denúncia-la as autoridades, Clare. Brincar com o luto de uma mãe?
__Não estou brincando senhora Frayson, eu juro que não estou__Clare falou com a voz trêmula__Podemos nos encontrar? Não quero dizer isso pelo celular e tenho medo de dizer quem Chloe foi ver naquele dia.
__Onde?__Dominique perguntou por fim, tinha esquecido a possibilidade de ser enganada, ela apenas queria uma pista do paradeiro de sua filha querida.
__A lanchonete perto da escola Paplica__Clare disse rapidamente__Nos vemos lá as sete?
_As sete de hoje?__Dominique suspirou.
__Sim, se não for possível podemos nos ver amanhã?
__Certo__disse Dominique_Nós vemos às sete então. Espero muito que não esteja me enganando.
Dominique desligou antes que Clare pudesse argumenta, ninguém poderia culpá-la, fazia dias que não descansava direito. Virava a noite se ocupando com coisas banais mas não conseguia chegar perto do quarto da filha, ela estava sentada na frente do monitor de seu computador, o olhar preso na porta do quarto, ela tinha ciência que sua filha não voltaria a ocupar seu quarto, não ouviria mais as risadas ou brincadeira sobre está solteira com seus trinta e cinco anos. Ela deu um sorriso triste quando os olhos se encheram de lágrimas, ela piscou muitas vezes para afastar as lágrimas e voltou ao trabalho, ela ajudaria Maya a descobrir tudo sobre o passado de Ana, mas não sabia que isso seria algo que usaria a seu favor no futuro, na descoberta do paradeiro de sua filha.

***
Guilherme estava de olho na estrada fazia algumas horas, sua ansiedade era algo perceptível já que mal pronunciou uma única palavra para os pais, haviam tidos tantos imprevistos para essa viagem que quando finalmente conseguiram fazê-la para Guilherme estava parecendo uma santa tortura, seus pensamentos o deixaram distante já que mal prestava atenção em sua irmã mais nova que constantemente tentava roubar a atenção do irmão falhamente. Marisa se encontrava emburrada com a pouca atenção então decidiu que deixaria o irmão em paz por um tempo ao menos até chegarem a casa dos parentes.
O barulho das portas do carro foi algo escutado por quase todos da casa. Guilherme pretendia segurar a mão de sua irmã porém ela resolveu que daria o troco pela falta de atenção rejeitando-o ao apressar o passo para perto da mãe, Guilherme sorriu de lado ao encarar a pequena de traços teimosos e feições emburrada, ele teria que mima-la no fim, odiava ser rejeitado por sua irmãzinha, a pequena anjinha que sabia fazer bagunça como ninguém e aquela que tinha uma criatividade incrível com brincadeiras. Lembrava ele a vez que acordou com o rosto rabiscado após tê-la chamado de "menininha idiota", não pretendia repitir tal episódio então se aproximou da irmã caçula e lhe bagunçou as cabeleiras loiras sobre seus resmungos.
Laura foi a primeira a aparecer, seu rosto parecia mais velho do que se lembrava, os anos tinham sido maldosos com ela, constatou Guilherme com um sorriso no rosto mas este não prestava a atenção nas formalidades e reencontros dos pais e sua tia, ele olhava para as coisas que não haviam mudado naquela casa, a mobília não havia sido mudada, nada havia sido mudado de lugar ou fora trocado, ele fechar os olhos por um momento e lembrou como poderia ouvir a voz de Maya lhe chamar em seu tom alegre, a forma que descia as escadas com um sorriso nos lábios e o olhar meigo, o tom verde vivo que sempre o fazia ficar encantado porém assim que abriu os olhos novamente viu Nícolas descendo as escadas com o olhar voltado para ele, Guilherme soltou a respiração com força, não gostava dele e sabia que o menino tinha o mesmo sentimento por ele.
Nícolas deu um último passo para ficar a frente de Guilherme, seu olhar fixo aos dele o fez sorrir de lado.
__Nícolas__Guilherme disse sorrindo erguendo a mão para bagunça os cabelos do garoto porém ele o impediu.
__Não toque em mim, se veio com a intenção de ver a Aya perdeu seu tempo__Nícolas disse de uma forma que somente Guilherme pudesse ouvir, ele ficou observando a expressão de Guilherme vacilar e o maxilar travar.
__Continua tão doce como sempre não é Nícolas?__Guilherme o olhou por um instante antes de voltar o olhar para a escada__Eu vou tentar ser um inquilino notável não se preocupe.
Nícolas se afastou se aproximando da tia que lhe abraçou lhe admirando. Mike e Ana foram os últimos a descerem, Guilherme foi um tanto brincalhão com Ana que vez ou outra se afastava com um sorriso sem graça, mas ela notou o olhar estranho que o novo tio havia lhe lançado,  parecia surpreso e depois ficou frio.
Ana e Mike ficaram conversando com Marisa que vez ou outra insistia em querer brincar com os dois, sem muitas opções acabaram cedendo ao pedido da prima que parecia animada.

Laura foi levada para o escritório do marido pelo irmão, esse passava os dedos pelos cabelos para se controlar,  teve ele que dar uma breve desculpa para a esposa para conversar com a irmã em particular. Não importava o quanto tentasse justifica o motivo de Ana está ali, ele não conseguia chegar a uma conclusão.
__O que Ana Lúcia faz aqui na sua casa?__Alexander perguntou com um tom severo.

__Ela é minha filha agora__Laura disse cruzando os braços__Havia sido bem clara do porquê lhe chamei aqui.
__Não. Você disse que tinha adotado uma menina mas não me avisou que era Ana__Alexander falava irritado.
__Se eu avisasse você iria tentar me impedir__Disse Laura e Alexander começou a caminhar até ela com passos duros__Eu não vou permitir que me separem dela novamente Alexander. Eu a amo...
__Laura você sequer sabe o que isso significa__Ele falou entre dentes__Você sequer tem amor próprio e agora ama Ana?
__Eu amo ela, ela é minha...__Laura foi cortada quando recebeu um tapa, a face ardia quando levou a mão ao lugar e o choque a fez paralisar.
__Não Laura. Você não ama ela, não deveria ter sido tão estúpida ao ponto de adotar ela__Alexander segurou-na pelos braços__Você vai terminar com essa merda, vai concertar o que você fez.
Laura o olhava com raiva, se contorcendo para se afastar de Alexander mas este lhe segurava com força.
__Você vai concertar o que fez está me ouvindo Laura?__Ele apertava os braços de Laura com força, quando ela gemeu se encolhendo a soltou__Não queremos problemas não é?
Laura negou quando viu Alexander segurar-lhe o queixo e assentir antes de se afastar e deixá-la sozinha naquele lugar. As lágrimas queimavam em sua garganta mas ela não se permitiu chorar, se arrumou e tratou de sorrir, não deixaria Alexander lhe dizer o que fazer novamente.

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