três

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O toque do alarme fez com que eu me despertasse. Levantei-me preguiçosamente, lutando contra a vontade de permanecer deitada e caminhei em passos lentos até o banheiro para fazer minhas higienes. Esmeraldas rondavam minha mente enquanto a água quente corria sobre meu corpo.

Relembrei a conversa que tive com Alice no dia anterior quando saíamos de Las Vegas e voltávamos para Nova Iorque, na qual ela me incentivou a denunciar meu ex-namorado e teve um ataque de histeria quando falei sobre Harry Styles.

O dono dos olhos esmeraldinos não saía do meu pensamento e eu sabia que não deveria estar a pensar tanto assim em alguém que só vi uma vez. Ele só fez o que qualquer outra pessoa boa faria ao me ver naquela situação. Talvez nenhuma fosse tão bonita quanto ele e tivesse um abraço tão acolhedor, mas com certeza tiraria Simon de perto de mim.

Harry Styles era um cantor —  muito talentoso, diga-se de passagem. Ele havia lançado seu primeiro albúm solo há alguns meses. Antes disso, ele participava de uma banda mas o grupo se separou com a morte de um dos integrantes.

Desliguei o chuveiro com um suspiro, me envolvi na toalha branca felpuda e voltei para o quarto vestindo uma calça escura, uma blusa dos Beatles e um cardigan preto. Escovei meu cabelo e passei um pouco de rímel e blush na tentativa de dar uma aparência mais saúdavel ao meu rosto. Já havia um tempo que eu não me alimentava corretamente e perdia peso com frequência. Percebi que um relacionamento nocivo, não atinge apenas o emocional, mas também o físico e até o psicológico. Um relacionamento tóxico deixa sequelas.

Quando finalmente me aprontei, peguei meu material e me dirigi até a ampla sala de estar decorada em tons de cinza e branco. Bati a porta e desci de escadas até o estacionamento, avancei vagarosamente até meu Range Rover preto, que havia sido presente do meu pai e dirigi cerca de trinta minutos até a faculdade.

...

Enquanto caminhava até a sala de aula, senti olhares em cima de mim e tive a impressão que todos estavam a cochichar sobre a minha pessoa. Era como se algo houvesse acontecido comigo e todos soubessem, menos eu.
Desconsiderei todas as vistas e entrei na minha sala dirigindo-me até meu lugar habitual no centro da mesma. Os murmúrios continuaram e ignorei a vontade que tinha de gritar com todos e mandar que parassem de me encarar daquela maneira acusadora.
Com um suspiro, peguei meu celular e vi que havia uma mensagem de Alice dizendo que precisava conversar comigo. Nos encontraríamos no refeitório ao término de nossas aulas.

Quando o sinal finalmente tocou, me levantei depressa e andei acelerada entre a multidão até a cantina.
Alice estava cursando o segundo ano de Moda e eu o último de Jornalismo. Apesar de estudarmos na mesma universidade, nossos prédios são diferentes e só nos vemos no intervalo e na saída.

Adentrei o refeitório lotado e avistei Ali já sentada na nossa mesa. Sua face estava mais corada que o normal e ela segurava uma revista entre os dedos e batucava na mesa com a mão livre. Parecia nervosa.

Me desloquei em passos vastos até ela e sentei-me a sua frente.
Peguei a bandeja que a mesma havia trazido para mim e beberiquei o refrigerante enquanto cutucava as batatas.

— Bom dia! — cumprimento com um sorriso e mesmo estando visivelmente perturbada ela retribui.

— Amiga, há uma coisa que você precisa ver — diz enquanto abre a revista numa página já marcada.

Pude notar que era uma edição da revista Jones que atualmente é a maior concorrente da revista Clark — na qual eu trabalho — no mercado.
Estendeu o objeto pra mim e me espantei ao ver meu rosto estampado na página 37.

Carolina  {hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora