oito

363 31 160
                                    


Sentada em frente a minha mesa, encarando o vaso de flores com plantas artificiais, girando na cadeira de rodinhas e vendo o tempo passar no borrão branco que era a sala. Meus pés deslizando sobre o chão, garantindo impulso para que eu pudesse rodopiar.

O trabalho já feito, matérias revisadas e escritas. Mas talvez eu não quisesse ir para casa e me submergir à minha solidão. Quiçá eu tivesse medo, porventura não quisesse pensar e refletir sobre a merda que minha vida havia se tornado mesmo tendo tudo para que ela fosse maravilhosa.

Pedi a Alice para que me encontrasse na minha casa depois que eu saísse do trabalho. A menina não precisava trabalhar quando tinha um pai rico para sustentá-la. Minha família também não era pobre, por assim dizer. Tinham boas condições mas nada comparado à de Ali.

Firmei os pés no chão e parei os movimentos da cadeira. Alcancei a bolsa nude de couro na mesa e a pendurei em meu ombro, prendendo algumas pastas entre meus braços em seguida. Virei-me para que pudesse ir embora e me deparei com Hanna. A loira trabalhava no mesmo cargo que eu como editora, a diferença é que ela era assistente.
Um sorriso falso se abriu em seu rosto, seus olhos azuis se fecharam antes de ela falar.

Olá, Carolina. Como vai?

— É Caroline. Eu vou bem, obrigada. — tentei passar por ela mas a mesma bloqueou o caminho com seu corpo. Revirei os olhos.

Hanna nunca gostou de mim, talvez por inveja ou por ser antipática mesmo. Acontece que ela sempre tentava passar uma impressão ruim de mim mesma e ia contra tudo que eu falava. Depois que alcancei um cargo minimamente maior que o dela, nosso local de trabalho passou a ser diferente e as vezes em que nos encontrávamos eram raras.

— Eu li que você e Simon haviam terminado, é verdade? — um sorriso venenoso e olhar desafiante.

Bufei.
Hoje não, querida.

— Eu li em algum lugar que minha vida pessoal não lhe diz respeito. 'Pra ser sincera, a minha vida em si não é da sua conta.

Dessa vez ela não me impediu de transpassar e logo saiu da minha frente, surpresa com a minha resposta.

Eu nunca a enfrentei pois não tenho tempo para perder com isso. Não me apetece muito estar no meio de brigas e discussões, mas hoje não era um bom dia.

O domingo mal havia começado e recebi uma mensagem de Simon que estragou o resto do dia. Após isso, me despedi de Ethan e fui pra casa. Ainda não havia contado das mensagens à Alice.
Não havia dormido direito na noite anterior. Apesar de não acreditar nas ameaças, não irei subestimar ninguém. Sei que preciso fazer a denúncia e apesar do receio, é o que farei. Não quero que ninguém passe pelo que passei e estou passando, da mesma maneira que ele não pode sair impune disso.

Meu corpo esbarrou contra o de alguém na pressa para ir embora. Cambaleei para trás e mãos suaves seguraram meus braços, equilibrando-me.
Avistei a pessoa a minha frente. Um rapaz loiro, o princípio de uma barba em seu rosto branco, um óculos de grau de armação retangular arredondada presa em seu nariz comprido e bem desenhado. Seus cabelos curtos caíam sobre sua testa e seus olhos, que eram uma mistura de verde e azul me encaravam receosos.

— Desculpe, eu... Não te vi. — um sorriso pequeno se abriu em seu lábios.

Respirei fundo. — Tudo bem, e-

— Caroline! Que bom que ainda está aqui. — Dakota me interrompeu. O loiro veio para trás de mim e minha chefe parou a minha frente, não notando o garoto ali presente. — Eu gostaria de parabeniza-la pela matéria com o Styles. A crítica gostou muito. Você sabia que foi a primeira vez que ele falou sobre a morte do amigo? Enfim, o público gostou muito e ultrapassamos as vendas da última edição da revista Jones.

Carolina  {hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora