sete

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Suas mãos envolviam meu pescoço com força.
Fúria em seu olhar.
O ar não entrava em meu peito. Não podia me mexer, via tudo se passar sem poder fazer nada.

Dessa vez, não havia ninguém para me salvar.

Acordei ofegante, minha garganta se apertando. Encarei Alice que dormia como um anjo ao meu lado e levantei-me da cama cautelosamente para não desperta-la. Minhas pernas trêmulas fizeram um caminho arrastado até a cozinha e coloquei uma quantidade considerável de água para ferver.
Sentei-me na bancada e fiquei encarando a parede sem enxergá-la realmente. A angústia e aflição me consumindo e quando me apercebi, estava a chorar.
Um daqueles choros silenciosos que não conseguimos controlar e não queremos que ninguém nos veja em tal estado de fraqueza.

Nunca me perdoaria por todo mal que fiz a mim ao permanecer com Simon. Eu sentia aquilo todos os dias no meu coração, e doía.

Levantei com um sobressalto quando a chaleira fez um barulho extremamente irritante e fui preparar o chá, já mais calma.

Me dirigi até o sofá confortável e fiquei ali por horas com a caneca entre meus dedos. Encarava a televisão desligada a minha frente, as sensações do sonho na minha mente.
E o mais perturbador de tudo aquilo, é que aquele pesadelo já havia sido realidade.

Quando paro para refletir sobre meu relacionamento com Simon — o que evito o máximo que posso — me sinto a pessoa mais tola do mundo por permitir que tudo aquilo acontecesse. Talvez por pressão da minha mãe, por crescer ouvindo que precisava de um homem para ser 'alguém' ou por ter esperanças de que ele mudasse (como sempre dizia fazer depois de me agredir).
Talvez por tudo.
E ele não mudou. E talvez nunca o fizesse.

...

Acorda, bela adormecida — escutei alguém distante — levanta, amorzinho — fui chacoalhada suavemente. Um suspiro. — LEVANTA DESSE SOFÁ, SUA VAGABUNDA!

Abri os olhos com preguiça, não me deixando abalar pelos berros de Alice e me levantei um tanto brava com ela. Ela sorriu com uma falsa inocência.

— Bom dia, benzinho. Por que você não dormiu comigo?

— Bom dia pra ti também, querida. Acordei no meio da noite e não consegui mais dormir.

— Uh. Você está bem?

— Tirando o fato de ter sido acordada dessa forma tão carinhosa, estou maravilhosa.

— Eu te acordei porque já são quase onze horas e seu namoradinho chega daqui a pouco. — respondeu e eu encarei o relógio na parede, surpreendida.

Merda.

— O meu namoradinho virá com a namoradinha dele, então trate de se comportar como a boa garota que eu sei que você não é. — me mostrou a língua.

Me levantei apressada enquanto pedia para Alice fazer o almoço. Tomei banho, fiz minhas higienes matinais e coloquei uma roupa fresca, visto que não estava muito frio. Minha amiga já estava pronta. Conferi meu celular e havia uma mensagem de Tristan dizendo que estava a caminho do aeroporto.
Havia mandado o endereço para ele ontem.

Estranhei eles virem cá tão repentinamente, digo, eu nem mesmo conheço a Ashley e ela virá aqui. Felizmente — ou não — os dois ficarão num hotel, então não será tão desconfortável quanto parece. Apenas atípico.

Carolina  {hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora