Carolina {hes}

vinte e um

O dia azul enfeitado com algumas nuvens no céu pouco ensolarado me remetiam uma sensação agradável ao ter o vento fraco atingindo o rosto e bagunçando meus cabelos. Um copo de café entre meus dedos e tudo estaria perfeito se eu não tivesse o celular a vibrar perenemente dentro da  bolsa ou não estivesse atrasada para uma das entrevistas mais importantes do ano, me xingando mentalmente por decidir ir a pé até o prédio que a mesma estava marcada.

Ao finalmente encontrar o local pude avistar alguns atores e produtores do filme sentados logo atrás de um pequeno estúdio improvisado montado para as gravações. Uma placa verde escrito silêncio brilhava enorme logo a minha frente e timidamente me desloquei até o lugar que outros dois jornalistas se encontravam, sentando-me perto deles e pegando o celular na bolsa, colocando em modo avião para não ser interrompida por qualquer outra ligação.

Eu havia sido escalada para entrevistar os atores principais de um novo filme da Marvel composto em sua maior parte por heroínas. Contava a história de três mulheres que se uniam para salvar os heróis que uma vez salvaram o mundo e faziam tudo isso sem nenhum poder especial.
Era um lançamento deveras esperado e icônico e eu definitivamente precisava ter chegado mais cedo.

A minha entrevista era a próxima, entretanto, por ser jornalista era suposto que eu chegasse antes com os demais entrevistadores. De qualquer maneira, nenhum produtor havia notado minha presença ou se preocupado o suficiente para me olhar, apesar de dividirmos o meio ambiente, então minha ética não foi contestada.
Aguardei pacientemente minha vez e após uma pausa para os atores beberem água, pude começar o trabalho.

O diálogo não levou muito tempo, tendo em vista que cada jornalista tinha um tempo estimado para fazer as perguntas, mas pude extrair um conteúdo bem completo e diferenciado do habitual, que era o que a Clark pedia.
Com um aperto de mãos em Scarlett Johansson, Lily Collins e Miles Teller, os protagonistas da mais recente franquia da Marvel, pude sair do estúdio e aguardar enquanto o fotógrafo da revista tirava algumas fotos dos atores para completar a matéria. 

— Ótimas perguntas. Foi você quem elaborou? — um jornalista vestido de jeans, blazer e camisa se aproximou. Olhei para ele que observava a sessão de fotos e desviei o olhar para frente novamente, involuntariamente me sentindo desconfortável com sua presença como era desde que Simon começou seus ataques de ciúmes e eu sentia errado ter uma conversa diretamente com outro homem sem sua presença, temendo o que poderia acontecer se ele visse.

Simon era muito imprevisível e isso fazia com que eu pensasse demais em qualquer atitude simples que eu tomava perto dele.
A partir do momento que terminamos, não tive contatos desnecessários diretos com homens que chegavam até mim. Me sentia melhor sob o efeito de álcool, mas ora ou outra ficava em estado de alerta, como se minha mente ainda estivesse programada para temer meu namorado.

— Obrigada. Na verdade, sim —  respondi enquanto repetia para mim mesma que ele nem ninguém me machucaria mais.

É só uma conversa. Por que de repente isso se tornou tão complicado?

— Você já pensou em, sabe, atuar? — indagou casualmente.

Um riso breve escapou pelos meus lábios até olhar para ele e ver que sua pergunta era séria e agora seus olhos fitavam os meus. Alguns flashes vieram a minha mente, os quais eu gravava filmes, ia para tapetes vermelhos e me enxergava como enxergo as celebridades no meu trabalho. Era algo surreal demais para mim.

— Hm... eu nunca pensei sobre isso, mas acho que não levo jeito. Por que a pergunta repentina?

— Eu estava pensando se você não gostaria de fazer um teste para um novo filme no qual estarei trabalhando.