nove

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Existem certas coisas na vida que eu não seria capaz de entender nem se vivesse por uma eternidade.
Harry Styles é uma delas.

Ele tem milhões de seguidores, influencia diversas pessoas, é famoso, milionário e lindo. Por que ele iria querer algo mais que uma entrevista comigo? Até a entrevista havia ocorrido por intermédio de mim.
Havíamos nos visto duas míseras vezes. A primeira numa situação fajuta e a segunda numa circunstância comum para nós dois.
Por que ele procurou por mim?

O celular descansava no meu criado-mudo. O sono de minutos atrás havia sumido e minha mente trabalhava numa velocidade espantosa.

Harry me parecia uma pessoa incrível, daquelas que você não acredita que realmente existe e que é tão insigne como demonstra. Eu ficaria contente em ter sua amizade, mas aquilo parecia tão surreal.
Ele conhecia dezenas de pessoas todo dia que com certeza eram mais bonitas que eu, demasiado ricas e simpáticas. Certamente, todas menos complicadas.
Harry ia a diversas entrevistas toda semana e sou quase certa que nunca teve algo a mais que isso com qualquer jornalista como eu.

Simplesmente não posso entender por quê tudo isso está acontecendo. De uma hora pra outra eu era conhecida por milhares de pessoas, alguém me dissera se inspirar em mim e havia gente que já me admirava.

Eu não queria toda aquela atenção de uma forma tão dividida. Há coisas que não sabemos muitas vezes por não estarmos preparados. Sinto que não estou preparada para tudo isso.

Minha mente não é capaz de raciocinar com clareza. Tudo parece desfocado, como se o que aconteceu comigo não houvesse passado de hipóteses.

...

Meu dia havia sido uma merda desde o momento em que acordei. O alarme não tocou, o trânsito estava congestionado, havia derrubado o café horrível e manchado minha blusa e eu quase caíra ao entrar no restaurante para meu almoço. Se não fosse por Alex eu estaria no chão com minha bolsa e pastas.

O loiro me segurou pelos braços e garantiu que eu recuperasse meu equilíbrio. Agradeci com um fio de voz. Nesse momento, já havíamos atraído a atenção de alguns presentes. Me dirigi de cabeça baixa até uma mesa afastada, Alex vinha atrás de mim. Sentei-me encostada na parede ao meu lado e o encarei com um sorriso. Ninguém tinha culpa pelo meu mal dia, afinal.

Alex sentou no banco de couro marrom a minha frente. Não era um restaurante caro como o que havia estado com Harry, mas era deveras confortável e aconchegante. Tinha um espaço amplo, as mesas alinhadas e ficava a menos de cinco minutos do trabalho.

Logo o garçom veio e ambos fizemos os pedidos. O menino me encarava com expectativa.

— Eu não sei como dizer isso — começou —, visto que não temos a menor intimidade. Mas eu vi o que falavam sobre você na internet e queria saber como se sente. Sei o quanto isso é difícil mas se você precisar de ajuda, pode contar comigo.

Me remexi na cadeira, desconfortável e desviei o olhar. — Eu estou lidando com tudo. Apesar de não ser fácil não preciso tornar isso mais difícil que realmente é. Fico agradecida, e se você... hm... precisar de ajuda, pode falar comigo também.

Um sorriso foi me dado como resposta. O silêncio não era desconfortável mas também não agradava muito.

— Como que você veio parar aqui? Digo, em Nova York, fazendo estágio na Clark... Pareces tão novo.

— Bem, é um pouco complicado. Eu nasci numa pequena cidade da Inglaterra chamada Painswick. Minha família era muito conservadora. Eu precisava ir à igreja duas vezes na semana e não podia ir à festas ou beber como o resto dos meus amigos. Quando eu tinha dezessete, comecei a gostar de um menino e tivemos uma espécie de relacionamento. Mas eu não me sentia preparado para contar aos meus pais que o filho que eles tanto amavam fazia algo que consideravam abominável. Meu namorado disse que não queria viver as escondidas porque estaria concordando de alguma maneira com quem achava tal ato odioso. Então, ele terminou comigo. Mais ou menos um ano depois, meus pais descobriram sobre minha sexualidade. Apesar de não me espancarem ou me expulsarem da casa deles, doía muito ver a desgosto no olhar deles e saber que eu nunca poderia apresentar alguém aos mesmos como minha irmã podia.

Carolina  {hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora