Para muitos a lenda sempre foi real, para outros, apenas mais um conto supersticioso. Mas, é fato que o suposto navio com casco e velas negras, possuidor de mais de cem canhões, tripulação amaldiçoada e que era acompanhado de uma densa neblina, assustou muitos dos que ouviram seus contos.
Por onde era ouvido, o nome do capitão Irving Allen causava medo e mal estar nos ouvintes. As pessoas evitavam dizer seu nome e até mesmo do próprio Fantasma dos Navegadores, o Ghost Of The Navigators. Muitas superstições se criaram sobre quem ousasse falar seus nomes, por exemplo, que os esqueletos dos tripulantes buscariam as pessoas a noite, ou que veria o navio e seria morto quem dissesse seu nome. Porém num dia em alto mar uma farsa foi à tona.
Repousava o Ghost Of The Navigators na costa de Madagascar, um dos prováveis lugares onde Henry Avery teria escondido seu tesouro, seu e de mais outros piratas que ele havia recrutado – ou enganado – e fundado uma cidade pirata, Libertalia – uma grande farsa –. O capitão Irving estava animado neste dia, acordou com um grande sorriso no rosto e exibindo seus estalados olhos verdes para a tripulação sua primeira frase ao chegar à cozinha foi "Hoje será um dia de grandeza", ao que reagiram com ânimo os tripulantes.
Irving, Harrison e Barton analisavam o mapa que haviam roubado de Avery dias antes. Tudo indicava que eles teriam que navegar mais algumas milhas para chegarem à Baía do Rei, lugar onde supostamente estava o caminho para Libertalia. Uma parte da tripulação repousava, outra comia fartamente e a outra limpava os canhões e o convés. A tripulação do Ghost Of The Navigators grande, mas nada que o navio não aguentasse carregar e ainda sim navegar em velocidades consideradas extremas para navios do porte dele.
Com toda a tripulação desatenta, o navio espanhol que apontou no horizonte não foi visto e sua presença só foi percebida quando o barulho do disparo de seu canhão foi ouvido e sua bala penetrou o casco bem na sala de navegação onde estavam reunidos Irving, Harrison e Barton. A bala acertou Barton em cheio que morreu na hora. O estrondo fez todos no navio se agitarem para se protegerem e prepararem-se para a batalha que estava próxima.
Dos espanhóis veio mais um disparo e este acertou o mastro de proa que partiu-se ao meio e caiu em cima de três homens que morreram. Irving e Harrison saíram da sala em que estavam pois viram que nada podia ser feito por Barton. Ao chegarem à popa da embarcação, avistaram o inimigo espanhol se aproximando, então Irving gritou:
- Espanhóis! Preparem-se! – a tripulação que já estava ativa por causa dos disparos, concentrou-se em carregar os canhões e preparar as armas para a batalha.
Quando os espanhóis estavam mais perto, Irving ordenou "Fogo!" e os cem canhões a estibordo dispararam suas balas contra o espanhol que por estar mais próximo que antes, ficou bastante danificado, mas isso não impediu que ele se aproximasse do Fantasma dos Navegadores e ficasse lado a lado com ele.
Os espanhóis posicionaram as tabuas ligando ambos os navios e seus marujos começaram invadir o Ghost Of The Navigators. Irving ao ver os inimigos invadindo seu navio gritou "Homens! Peguem suas armas e espadas e lutem pela vida!". Ele tirou sua espada da bainha, pulou por cima da amurada, caiu na meia nau e feriu no pescoço o primeiro espanhol que tentou lhe atacar. Harrison – agora um pouco mais novo do que no capítulo anterior –, subiu na amurada do convés, pegou sua pistola e atirou num espanhol que estava atrás de um tripulante, então gritou:
- Não lhes mostrem medo! Não lhes mostrem misericórdia! Disparem os canhões! – os homens foram encorajados pelas palavras e começaram atacar furiosamente os espanhóis. Sob o grito do rapaz, os canhões foram novamente disparados e abriram um grande buraco no casco do navio espanhol, deixando-o a ponto de começar a afundar.
Harrison pulou do castelo de popa para o tombadilho, empunhou seu machado numa mão e sua espada na outra e começou a lutar. Irving estava mais a frente de Harrison, lutando contra o capitão do navio espanhol. O duelo estava acirrado pois Irving já estava cansado e o capitão espanhol não lhe dava tempo para respirar, eram ataques atrás de ataques, suas espadas soltavam faíscas quando se chocavam e num momento de falta de atenção, o espanhol talhou o abdômen de Irving, o sangue jorrou e ele cedeu com a dor, aproveitando o giro do corpo o espanhol desferiu mais um golpe fatal contra Irving, cortando lhe no peito de ponta a ponta e fazendo o sangue voar na linha que a espada fez no ar. Irving caiu no chão sangrando com as duas mãos no peito, ao ver isso, Harrison matou o homem com quem lutava rapidamente com um corte profundo no pescoço e correu para onde estava o pai. Ele fincou a espada no peito do capitão espanhol e lhe cravou o machado no pescoço, então o empurrou com a perna e desprendeu dele a espada e o machado. Harrison se ajoelhou ao lado do pai e desesperado enquanto chorava, disse:
- Papai! Você vai ficar bem!
- Não, Harrison... – disse, Irving com pesar ao contrariar o filho – eu não vou ficar bem. Você é o Capitão agora, forme sua tripulação pois a hora desta já chegou. Ao contrário do que dizem as lendas sobre nós, não somos imortais. Não se esqueça de meu plano, Horizon Aurum. Seja melhor do que eu fui, conquiste o que eu não fui capaz de conquistar, destrua nossos inimigos sem piedade e encontre sua mãe novamente. Confie em sua espada, em seu machado, em sua tripulação e em seu navio. –. Harrison ficou olhando para o pai enquanto chorava e disse:
- Eu continuarei o que o senhor começou, pai.
- Faça isso e destrua esses malditos! – respondeu, Irving com falhas na respiração que lhe permitiram dizer apenas uma última frase "Eu te amo, filho.", e parou de respirar. Harrison olhava para o corpo do pai, movimentado pelo balanço do navio as lágrimas desciam dançando e pousavam sobre o rosto de Irving, agora morto. Harrison gravou suas palavras em seu coração, secou as lágrimas dos olhos, pegou sua espada e seu machado, se levantou cheio de tristeza e ódio e viu que a batalha ainda não havia acabado, então correu na direção de um espanhol e o atacou com a espada cortando primeiro na coxa e depois no rosto, virou-se para outro marujo inimigo e jogou seu machado na direção dele, este acertou o ombro do homem, próximo ao pescoço e ele caiu agonizando grunhindo de dor sob o sangue que jorrava de seu pescoço e encharcava suas vertes. Então Harrison gritou:
- Confiem em suas espadas! – e todos gritaram em resposta:
- Em nossas espadas confiamos!
A batalha durou mais algumas horas, mas foi vencida pelo Fantasma dos Navegadores, a tripulação espanhola foi queimada viva junto com o navio em alto mar.
Após essa batalha, Harrison ordenou que voltassem para casa mesmo que o navio estivesse em mal estado, ainda aguentaria a viagem de volta para a Inglaterra. Eles desistiram de procurar pelo tesouro de Henry Avery. Os corpos dos mortos em batalha foram sepultados no mar como ordenava o código do navio imposto pelo capitão Eddie.
E assim caiu a maior lenda do Fantasma dos Navegadores, a de que seus tripulantes eram imortais. Irving foi um bom capitão para sua tripulação, sempre vivo e cheio de força de vontade, até que um dia ele dançou a dança da morte, e ela o acolheu em seu braços, para sempre.
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o Fantasma dos Navegadores
Historical FictionAs aventuras de uma tripulação que pensa muito além do ouro, do rum e das mulheres. Você aguenta a salgada brisa marítima? O balanço do navio sobre as ondas? Aguenta ficar dias e até meses sem ver a terra? Então embarque nessa história cheia de con...