- Anne, acorde.
- Já chegamos em Nassau?
- Estamos quase.
- Certo. – a menina se levantou e foi para fora com Harrison. Ele tomou o timão e a garota ficou na proa sentindo o vento tocar seu rosto e vendo Nassau no horizonte. Harrison via de longe a jolly roger – jolly roger é a bandeira pirata - do Hurricane de Ned Lowe, ao lado dele estava o Ghost Of The Navigators – o coração de Harrison se encheu de alegria –, o Range e a fragata Rosalinda de Laura. Ele – Ned Lowe – havia voltado atrás de Kidd, ou melhor, Mary Read, a farsante. Harrison pôs a mão no bolso e sentiu o cristal, sentiu também o mais perverso dos calafrios subir por sua espinha. Estava diferente, mais maduro e tranquilo, entretanto, mais vingativo.
Harrison prendeu a chalupa em um toco de madeira com uma corda na praia e desceu com Anne. Ele agachou na frente dela e disse:
- Aconteça o que acontecer não saia de perto mim. Entendeu?
- Sim.
- Há muitas confusões neste lugar e eu posso ser a causa de uma delas, então, se alguma briga se iniciar esconda-se e só saia quando eu gritar seu nome.
- Tu só brigas? Do que és feito?
- Sou feito de cicatrizes. – Harrison se levantou, pegou a mão de Anne e eles saíram andando na praia em direção a taverna de Elena.
Embora todos olhassem, ninguém reconhecia Harrison nas ruas, pois suas roupas estavam diferentes e seu cabelo também. Ele passou pela cidade sem que ninguém o percebesse e nem mesmo suspeitasse que fosse ele. Harrison percebeu que Nassau estava com ar de morte, não havia alegria no rosto das pessoas, os bêbados não cantavam e não haviam brigas. Tudo parecia estar pobre e fraco, uma Nassau de perdedores.
Harrison abriu a porta da Golden Nights e ao entrar viu uma situação de calamidade. Vane, Elena, Astrid, Cecília, Anne Bonny, Owen e Laura estavam sentados numa mesa com semblante decaído. Outros tripulantes do Fantasma dos Navegadores se encontravam largados nas mesas, cadeiras e até mesmo no chão, bêbados mas sem alegria. Em outro canto da estalagem estava Mary Read debruçada sobre a mesa. Harrison nunca vira tal situação.
- Eu procuro por Harrison Allen.
- Ele se foi a muito tempo e hoje fazem nove meses, vá embora. – respondeu, Charles Vane.
- Fiquei sabendo que ele havia voltado para dar a Nassau um novo rumo. – Vane franziu o cenho, pois reconheceu a voz, olhou para o homem na porta e arregalou os olhos.
- Santo Deus! – Vane se levantou e os que estavam na mesa olharam para a porta, exceto Laura. Harrison sorriu.
- Eu estou de volta meus companheiros! – Laura estalou os olhos ao ouvir essa frase se pôs de pé, tinha uma criança no colo. Eles todos abriram sorrisos encantados e correram para abraçar Harrison. "Meu Deus! Não consigo expressar minha emoção!" disse Astrid ao abraçar seu irmão. Laura foi a última a abraçar Harrison, seus olhos estavam fundos de tanto chorar pela suposta morte dele. Ao se aproximarem ela deu a criança no colo de Harrison, que ficou encantado.
- Este é Eddie, seu filho. – eles se entreolharam sorrindo – Nosso filho, Harrison.
- Santo Deus! – Harrison chorava enquanto passava a mão no rosto do bebê. Harrison virou-se para Anne, filha de Orahz, abaixou-se perto dela e mostrou o bebê para ela.
- Este é meu filho, Anne.
- Ele é lindo. – disse, a menina encantada.
- O considera um irmão para você?
- Considero! – exclamou.
- És tu também minha filha.
Harrison deu a criança para Laura e a beijou, então ela disse:
- Eu já estava grávida quando você partiu, mas não sabia. Quem é esta menina?
- É uma longa história que terei prazer em lhes contar, mas antes, tenho que resolver alguns problemas. – Harrison olhava para Mary Read desmaiada na mesa. Laura entendeu o recado.
Harrison foi até a mesa onde estava Mary Read, sentou-se, pegou o cristal numa mão e com a outra deu um tapa muito forte na mesa. Com respiração ofegante e olhos arregalados, Mary acordou e ao ver Harrison seus olhos quase saltaram de seu rosto.
- Você voltou!
- Eu sempre volto.
- Então... – ela estava sem graça – Roubou o cristal?
- Não, eu não roubei. – Harrison mostrou ele para Mary – Eu o mereci. Nem tudo se resolve com roubo.
- É... Podes vende-lo agora, ganharás muito dinheiro.
- Não... – respondeu, Harrison olhando dentro dos olhos dela – Eu aprendi a lição, a lição que você não aprendeu.
- Então Orahz te ensinou o mesmo?
- Sim, ensinou. Estou grato pelo que tenho, pois é suficiente.
- Está grato, por que é muito e por isso acha que é o suficiente.
- Não, Mary. Eu seria grato também se fosse pouco, como eu disse, eu aprendi, você não.
- Me dê o cristal, já que você não vai vende-lo, eu vou, pois tenho uma dívida a pagar. – disse, Mary enquanto estendeu a mão para Harrison que guardou o cristal no bolso e fez sinal negativo com a cabeça.
- Esse cristal foi um prêmio, um presente, não posso entrega-lo assim.
- Quanto queres? – perguntou, Mary.
- Você de fato não aprendeu... – Harrison riu – Eu não vou te dar, nem vender. É meu, eu conquistei.
- Não, Harrison! Este diamante não é nem seu e nem da senhorita Read. É meu. – gritou, Ned Lowe que acabara de entrar na taverna. Harrison se levantou encarando-o e disse:
- Oras, então se é seu, venha pegar. – Lowe avançou e Harrison também. Eles começaram trocar socos e pontapés, até um momento em que tudo ficou mais sério, Lowe desembainhou sua espada e Harrison seu alfanje, então o duelo começou. Murros, pontapés e golpes com as lâminas eram o que a batalha oferecia. Em certo momento, Harrison pegou uma cadeira e arremessou-a contra Lowe, que desviou e perdeu a guarda. Harrison o cortou! Seu lado se abriu e o sangue voou. Lowe caiu rolando no chão, indo parar no meio de algumas mesas bagunçadas. Harrison já lhe havia ferido o peito e o joelho com grandes talhos, fora os outros cortes pequenos por todo o corpo. Lowe se pôs sobre os joelhos, o sangue escorria de sua boca.
- És de grande astúcia, Harrison. – Disse, ele.
- Eu sei.
- Só não contava com isto! – Lowe puxou sua pistola e atirou, ferindo Harrison na perna. Harrison caiu pressionando o ferimento com ambas as mãos. Lowe aproveitando da distração de todos que se apressaram para ajudar Harrison, fugiu. Sob suas ordens o Hurricane abandonou a costa de Nassau, sobre ele tremulava a bandeira negra com o esqueleto vermelho, símbolo de Ned Lowe. O cristal que ele tanto queria, foi esquecido.
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o Fantasma dos Navegadores
Historická literaturaAs aventuras de uma tripulação que pensa muito além do ouro, do rum e das mulheres. Você aguenta a salgada brisa marítima? O balanço do navio sobre as ondas? Aguenta ficar dias e até meses sem ver a terra? Então embarque nessa história cheia de con...