Lições Para a Vida

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Por: capitão Harrison Allen

Acordei num lugar iluminado pela luz do sol – seria outra maldita prisão como a inglesa? –, entretanto, diferente de grades e uma porta de ferro, havia uma janela pouco aberta e uma porta de bambu. Eu não estava no chão úmido e frio, estava sobre uma cama confortável, com um travesseiro de penas e um lençol macio. Ao meu redor, no cômodo, havia mobília, estantes cheias de livros, uma mesa ladeada de cadeiras. Papéis, penas, tinta e pergaminhos se mostravam em cima da mesa por causa do sol que as iluminava.

Levantei-me, e avistei minhas roupas penduradas numa haste de madeira que tinha várias ramificações, parecia própria para pendurar roupas. Fui até lá me apoiando nos móveis para não cair pois ainda estava debilitado. Vesti-me, calcei minhas botas e me armei. Na mesa, além dos papéis, penas, tintas e pergaminhos havia um pedaço de pão, uma maçã – era a maçã mais bonita que eu já tinha visto, e quando vi minha boca se encheu d'água –, algo que parecia queijo e uma caneca com o que identifiquei ser café – eu tomara café apenas uma vez na vida, que foi quando saqueamos um navio que estava indo do Brasil para a América do Norte, um de nossos grandes butins, o gosto do café marcou aquele dia e seu cheiro também, nunca mais esquecerei –. Comi tudo, a maçã deixei por último, pois ela me olhava com paixão demais pra que eu a comesse primeiro. Quando terminei de comer, fui até a janela e a abri, minha vista foi impressionante. Eu estava num quarto alto, donde pude ver parte de uma cidadela cercada de muros de pedra, havia um aprisco com ovelhas, um chiqueiro cheio de porcos, vacas e cavalos andando livremente pelas ruas. Olhei para a esquerda – onde estava o sol – e vi plantações, no meio delas haviam pessoas trabalhando. Em volta dos muros eu só podia ver árvores e mata densa, diferente disso só uma imensa parede de pedras que era cortada ao meio por uma cachoeira, suas pedras molhadas reluziam a luz do sol e a água dispersa no ar também, formando um grande arco-íris. Os muros iam até o paredão e a cachoeira formava um riacho que cortava a cidade. Decidi sair para conhecer a cidade pacata, torcia e rezava para que os moradores fossem amigáveis comigo – se não fossem não teriam me trago para dentro e me ajudado –.

Abri a porta do quarto e saí andando pelo corredor. Era uma casa simples, com quadros que continham desenhos de pessoas felizes e de flores. Desci as escadas e cheguei à cozinha, onde me deparei com uma moça na bancada cortando pão, um homem poucos anos mais velho que eu, que aparentava ser um monge sentado à mesa comendo um pedaço de queijo e uma menininha sentada ao lado dele comendo uvas. Quando parei olhando para eles assustado, eles me encararam.

- Sente-se. – disse, o homem apontando a cadeira ao lado da menininha. Sentei-me receoso, tinha medo de que fizessem algo para mim – mas na verdade o único bicho do mato não civilizado ali era eu –. – Se alimentou?

- Sim. – respondi com dificuldade para falar, pois minha garganta estava ruim.

- Bom – o homem me olhou com olhar de compreensão e felicidade -, aquele pão já estava meio envelhecido, mas minha mulher, Aurida está cortando um novo. – Enquanto pensava no nome da mulher que lembrava o de minha amada mãe, a menininha me ofereceu uvas, suas mãos portavam os frutos e seu rosto portava um sorriso com toda a pureza que uma criança pode ter, me encantei. Peguei uma uva e comi. A menininha sorriu e suas bochechas coraram, ela era uma princesa de cabelos lisos e escuros, era parda e tinha os olhos escuros. Uma bela menininha.

- Pegue mais uma. – ela, disse me oferecendo novamente o cacho. Recusei educadamente e ela sorriu de novo. A mulher trouxe os pães até a mesa e sentou-se.

- De onde és, meu hóspede? – perguntou, o homem.

- Nassau, senhor.

- Não me chame de senhor, sou apenas um homem.

o Fantasma dos NavegadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora