A Prisão Inglesa

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Por: capitão Harrison Allen

Acordei e a última coisa de que me lembrava era do chute vindo na direção da minha cara. Maldito, Breeg! Pagaria por tudo o que fez. Me coloquei sentado no chão e me deparei com a luz do sol atravessando as grades da janela – era um maldito buraco com grades e não uma janela – e batendo no meio da cela – cela... Era outro maldito buraco com uma porta de aço totalmente fechada –. Na penumbra daquele buraco malcheiroso distingui a silhueta de alguém largada no chão. Seria Astrid? O'neill? Owen? Resolvi me aproximar e verificar quem era. Cecília. Seu ferimento na barriga ainda estava aberto e ela estava pálida, havia perdido muito sangue, provavelmente já haviam dias que estávamos ali e eu sequer havia acordado. No momento as perguntas eram "Onde estava meu navio?", "Onde estava a minha tripulação?" e "Onde estava Astrid?", nada mais me importava.

Importunei Cecília até que acordasse – sem feri-la mais, é claro –. Eu odiava o fato de ter alguém ali comigo mas ao mesmo tempo estar sozinho, e com muito custo Cecília abriu os olhos levemente, respirou e suas bochechas rosaram – meu coração se encheu de alegria, pois não foi fácil ter que ficar abraçado com ela por alguns minutos até que seu corpo se aquecesse, pois estava fria. Ela tinha as curvas do corpo bem delineadas e ... Bem, é difícil para um homem resistir a isso, mas eu resisti –, ela sorriu e disse:

- Uma luz branca. – a luz da janela – maldito buraco –. – Nós morremos, capitão?

- Ainda não, Cecília.

- Ainda? – seu sorriso se converteu em uma expressão de receio – Onde estamos?

- Numa prisão em algum lugar da Inglaterra. – respondi com o máximo de cuidado para que ela não se assustasse e não fizesse nenhum movimento brusco, em vão. Ela arregalou os olhos, mexeu o corpo e a dor a apunhalou no ferimento, seu gemido ecoou na cela – maldito buraco também –.

- Onde está O'neill?

- Eu não sei, Cecília. Acabei de acordar assim como você. Só me lembro de um chute vindo em meu rosto.

- Será que ele está vivo? – indagou ela a mim.

- Creio que sim, ele sabe se cuidar.

- Mas ele estava ferido. – ela tentou se levantar novamente, o qual a dor reagiu e a imobilizou.

- Acalme-se, querida. Vamos dar um jeito de sair daqui. – eu não tinha essa fé, estava tão fraco quanto ela, dolorido e emocionalmente abatido por não saber onde estava meu Ghost Of The Navigators, onde estava minha tripulação. Mas alguém precisava estar forte para a jovem não desabar e esse alguém, era eu.

Deitei me ao lado dela no chão quando o sol começou a se pôr. O chão estava frio e vi que Cecília tremia dos pés à cabeça. Temendo que ela congelasse, com muito cuidado para não feri-la mais e não deixa-la mais dolorida, forrei o chão embaixo dela com meu sobretudo, o couro impediria que o frio chegasse até ela e a pele de lobo dentro dele manteria ela quente. Fiquei apenas com meu colete para me proteger do vento gelado que vinha da janela – maldito buraco –, e Deus, como era frio!

Na madrugada eu acordava várias vezes ouvindo passos de soldados nos corredores e os gritos agoniados dos prisioneiros – Eu suplicava a Deus para que não fosse nenhum dos meus tripulantes –. Numa das vezes em que acordei na madrugada por causa dos gritos de um prisioneiro, vi que Cecília estava tremendo de frio mesmo com meu sobretudo e um lençol a cobrindo – de fato um lençol não é nada –, me vi obrigado a abraça-la novamente para que ela se aquecesse. Depois de alguns instantes abraçado com ela, ela parou de tremer, seu corpo se aqueceu e ela se reconfortou em seu sono novamente. Breeg faria isso por algum de seus homens? Tudo bem que ela era uma mulher, mas mesmo assim, eu sentia por ela um amor de pai, pois eu a resgatara no castelo de Murieau na França. Enfim, duvido que Breeg faria algo assim por algum de seus tripulantes fosse ele homem ou mulher.

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