De Volta pra Casa

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- Casa! Casa! Estamos em casa! – gritou Owen sacodindo os punhos para o alto. O vento batia forte e balançava os cabelos, barbas e chapéus de todos no convés, dando um ar alegre ao dia. Harrison saiu da sala de navegação e foi para a proa, olhou Nassau no horizonte que se aproximava cada vez mais e alegrou-se. Ao lado do Ghost Of The Navigators, navegavam o Range e a Rosalinda, comandados por Charles Vane e Laura Woodcrow respectivamente. Todos estavam animados e ansiosos por chegarem em casa, após a péssima experiência que tiveram com Benjamin Breeg, o lendário caçador de piratas, os tripulantes só queriam comer, beber e descansarem. O tratamento dado a eles na prisão inglesa havia sido péssimo e todos estavam desgastados, até mesmo o próprio Harrison, que estava magro e pálido, fraco e ferido, sua barba e cabelos estavam cumpridos e ele se assemelhava a um cão de rua.

As âncoras baixaram e as velas também, os três navios pararam próximos à praia de Nassau. Os botes foram lançados para que os tripulantes fossem até a praia, embora alguns – muitos – tivessem tirados suas camisas e pulado das amuradas dos navios para o mar a fim de se refrescarem, pois só o vento forte não ajudava.

Ao descer do bote Harrison e Anne Bonny caminharam pela praia cumprimentando os comerciantes enquanto aguardavam por Laura, Vane e Jack Rackham. Eles sorriam para todos e conversavam comentando como estava o mar e as condições para navegação. Após todos se reunirem, eles foram para a taverna de Elena, a Golden Nights, se sentaram numa mesa no salão principal e começaram beber.

Depois de algumas garrafas de rum e cinco pedaços de porco assado, Harrison encostou-se na cadeira e fechou os olhos por alguns instantes. Anne, Laura, Vane e Owen – que chegara depois de ter organizado a tripulação e o navio – conversavam sobre assuntos que Harrison não se interessava, por isso não prestou atenção. Enquanto ele descansava os olhos e o estômago, ouviu uma voz que parecia forçada para se parecer com a de um homem "Com quem pensa que está falando, paspalho? Parto-lhe ao meio se continuares com essas graças!", Harrison abriu os olhos e franziu o cenho desconfiado, a voz vinha do lado de fora da taverna. Harrison concentrou a audição para ouvir o motivo da briga mas não seria necessário.

- Queres saber se sou homem ou mulher, mandrião? – o dono da voz que Harrison parara para ouvir desembainhou a espada, o som da lâmina foi audível – Então lute comigo!

- Será uma honra combater uma mulher! – respondeu, o homem. Harrison se levantou, foi até a janela da taverna e ficou olhando disfarçado para que ninguém o percebesse.

- Eu sou o capitão Kidd, e não sou uma mulher! – Kidd deu o primeiro golpe e talhou o peito do homem que não aguardou, empunhou seu alfanje e eles começaram duelar. Harrison estreitou os olhos e fitou a luta. O homem atacou Kidd pela direita, porém ele rolou no chão e cortou a perna de seu adversário que se ajoelhou. Kidd se levantou e ergueu sua espada para cortar a cabeça do homem que clamava:

- Piedade, piedade!

- Ora amigo... – Kidd riu – Foi uma luta um tanto fácil, acreditei que um valentão como você me daria trabalho, agora, me pedes piedade?

- Eu estava apenas brincando, capitão Kidd.

- Apenas brincando? Não parecia e eu já tenho minha sentença pra você! – Kidd movimentou a lâmina para cortar a cabeça do homem, mas a espada voou ao ser atingida por um tiro. Kidd olhou em volta raivoso por ter sido impedido de matar o homem, não viu o responsável pelo tiro, o valentão por sua vez aproveitou-se da situação e se levantou empurrando Kidd que caiu no chão. O homem foi para cima dele enquanto sorria malignamente e pegou seu alfanje, almejava mata-lo. Kidd começou rastejar para trás desesperado, pois estava desarmado e enquanto rastejava, atrás de si de pé apareceu Rackham com uma pistola em mãos "Maldito Jack!", pensou Harrison. Rackham sorriu para Kidd e disse:

- Vejam só se não é o temido James Kidd.

- Corte suas preliminares, Jack! – Kidd cuspiu no chão perto dele – Tenho nojo de você!

- Comportamento inadequado em sua situação, Kidd! – Jack balançou a cabeça negativamente – Acabe com ele. – disse para seu mandrião enquanto apontava para Kidd no chão e o homem continuou a ir andando na direção dele, Rackham foi embora. Harrison viu que Kidd poderia ser um bom aliado, então pegou uma faca de arremesso, mirou-a na perna do brutamontes e jogou. Ela furou o fêmur do homem que caiu de lado por causa da dor, Kidd aproveitou e chutou a cara do homem que grunhiu de dor. Harrison saltou da janela da taverna para o lado de fora, todos que estavam na mesa se levantaram e foram para a porta ver o que estava havendo. Harrison estendeu a mão para Kidd que a segurou e levantou – Harrison notou uma maciez estranha nas mãos dele, talvez paranoia –. O brutamontes também se levantou, raivoso e bufando como um touro. Harrison e Kidd se entreolharam, assentiram um para o outro com a cabeça, e partiram para o combate. Harrison correu na direção do homem e desviou de um murro que lhe acertaria a face – passou por de baixo do braço esquerdo do homem –, ao desviar lhe deu um chute nas costas e o brutamontes cambaleou para frente, se aproveitando do homem indo para frente, Kidd o chutou no queixo o que o fez cuspir um punhado de sangue pra cima. Harrison se abaixou atrás dele e lhe passou uma rasteira, ele caiu levantando uma grande nuvem de poeira. Kidd pegou impulso, saltou e caiu com os dois pés no peito do grandalhão que se contorceu de dor e falta de ar nos pulmões. Harrison e Kidd tocaram as mãos.

- James, James Kidd.

- Harrison Allen.

- Fantasma dos Navegadores, hein? – ele riu – Conheço as histórias.

- Algumas são verdadeiras, outras nem tanto.

- A do Urca de Lima... – Kidd hesitou – É verdade?

- Sim, é.

- Santo Deus, Harrison! És um pirata e tanto. Onde está o ouro?

- Antes de saber precisamos conversar algumas coisas, e preciso saber se posso confiar em você.

- Sobre o que precisamos conversar? – Kidd desconfiou.

- Uma aliança. – disse, Harrison olhando dentro dos olhos dele.

- Aliança... – Kidd baixou a cabeça – Com um homem lindo como você, eu faria todas as noites.

- O que disse? – indagou, Harrison, pois não ouvira direito o que ele havia dito.

- Nada, capitão! – Kidd disfarçou meio assustado e prosseguiu – Vamos tratar de nossas alianças!

- Sim! – exclamou, Harrison ao mesmo tempo que estendeu o braço para a porta da taverna onde estavam Anne, Vane, Laura, Elena e Owen. Kidd o seguiu.

Já era fim de tarde, o sol começava a se pôr e o vento fluía do mar para a cidade de Nassau quando Harrison e Kidd selaram uma aliança. Uma aliança semelhante à que Harrison havia feito com Vane, união pela reestruturação de Nassau. Após terminarem sua breve reunião, eles pediram bebidas e começaram se embebedar. Os beberrões já dançavam com as meretrizes, davam suas gargalhadas e caíam pelo chão. A música alegre tocava, homens e mulheres de uma taverna se misturavam aos de outra e assim a festa se alastrava pelas ruas. Da Golden Nights que era no meio de Nassau até a rua do porto e as areias que beiravam a praia haviam homens e mulheres cantando e bebendo.

No meio das danças, bebedeiras, sorrisos e cantorias, Harrison olhou para Laura e ela lhe retribuiu o olhar, eles se entenderam. Subiram para o quarto, trancaram a porta e Laura começou desamarrar o espartilho, porém antes de qualquer preliminar a noite quente que teriam, Harrison a abraçou, pôs a mão nos cabelos dela, beijou-lhe a testa e disse:

- Obrigado.

- Pelo que, capitão?

- Por ter ido me resgatar mesmo sem saber se eu estaria vivo.

- Certamente farias o mesmo por mim. – Laura sorriu.

- Eu faria. – eles se beijaram, despiram-se e dali só parariam de se tocar pela madrugada quando o sono tomaria Harrison e Laura. Mais do que colocar seus desejos em dia, precisavam descansar e recompor as energias, gastas numa viagem e numa batalha desgastante, ainda mais Harrison e sua tripulação que passaram os dias na prisão. A festa em Nassau se estendeu até o amanhecer e deixou muitos homens e mulheres largados pelas ruas e tavernas. Uma bagunça feliz.

o Fantasma dos NavegadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora