Capítulo 1

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2017

A noite de domingo iniciou e o relógio piscava dezenove e cinco no grande termômetro avermelhado da praça. Um feriado nacional, uma noite limpa, ainda clara pelo horário de verão, com uma ou duas estrelas tímidas despertando no céu, banhada pelo calor do meio da primavera.

De longe, uma igreja cinza, não como chumbo, como um céu nublado, gravada com o nome "Congregação Cristã no Brasil", em letras de inox, enaltecendo sua linda fachada enfeitada por um lindo e pequeno jardim de rosas brancas e amarelas. Seu átrio fechado fazia questão de esconder a bela visão de seu interior, de suas paredes limpas e luminárias brancas, e grades cinzentas separavam a calçada de seu pátio desenhado em ardósia. Vista de fora, de proporções medianas: nem muito grande, nem muito pequena, padrão para a maioria delas. Um estacionamento lateral agregava um espaço nas mesmas proporções da edificação.

O culto, pronto a começar, do tipo setorial, agrupando pessoas de diferentes localidades, de todas as regiões. Neste tipo de culto é comum haver visitantes de outras localidades, com a irmandade local comparecendo em peso, deixando sem lugares todos os que chegassem atrasados.

Sentados à frente, no primeiro banco, alguns irmãos (como são chamados os cristãos) responsáveis pela igreja, junto de outros que apenas visitavam, conversavam, decidindo quem subiria ao púlpito e dar início àquele culto, enquanto a igreja, ansiosa, aguardava cinco minutos já passados.

Um membro passou pelo porteiro, e curioso perguntou:

– A Paz de Deus, irmão Jonatas.

– Amém!

– Quem atenderá o culto? Já são sete e cinco!

– Têm irmãos de fora hoje! – respondeu animado.

Pessoas chegavam, e o estacionamento esgotou-se com automóveis de diversos estados do Brasil, e as calçadas daquela rua simples e familiar tornaram-se filas de carros inclinados pelo meio fio, com duas rodas sobre eles.

Com o calor do dia, vizinhos apareciam em seus portões, vestindo shorts ou camisetas, com seus cachorrinhos para o típico passeio na praça. Seus olhos condenavam os trajes daqueles cristãos: "Gente doida! Um calor desses!", pensavam eles.

Tanta gente, como numa reunião nacional, mas não, apenas um culto comum, como qualquer outro, com pessoas comuns, de lugares diferentes, e intensa movimentação na frente daquela igreja.

Um carro buscou um canto perdido da calçada, e saindo dele, uma mulher com sua filha pareciam afobadas. A mãe atrapalhada ajeitava seus cabelos rapidamente e distraída não percebeu que a jovem de semblante irritado buscava sua atenção:

– Mãe, eu quero falar com a senhora!

– Depois do culto, filha. O meu cabelo está bom?

– Mas é importante!

– Ketlen, sabe que tenho responsabilidades. Sou porteira da igreja e não gosto de chegar atrasada.

Dentro da Congregação Cristã há uma separação física entre homens e mulheres, sendo um para cada lado, e a porteira é pessoa responsável em cuidar das saídas laterais pelo lado feminino.

A jovem e eufórica mãe a deixou para trás, e ainda tentou ajeitar-se. Ela virou-se para a filha e falou:

– Feche a porta do carro!

– Aff... Está bem!

Ketlen fechou a porta, desanimada, usando um pouco mais de força do que o natural. Descontente com sua mãe, ela seguiu para o corredor interno da igreja e esbarrou num jovem, e isso a deixou ainda mais irritada.

★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]Onde histórias criam vida. Descubra agora