★ JOHNNY [DRAMA/CRISTÃO/CCB]

Capítulo 32

1997

– Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine... – recitou a primeira moça.

– E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria... – recitou a segunda.

– E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres... – recitou a terceira.

– E ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria... – recitou a quarta.

– O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece... – recitou a quinta.

– Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal... – recitou a sexta.

– Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... – recitou a sétima.

– O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá... – recitou a oitava.

– Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado... – recitou a nona.

– Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino... – recitou a décima.

– Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido... – recitou a décima primeira.

– Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. – finalizou a décima segunda moça.

Doze moças enfileiradas de pé, frente ao púlpito e viradas para todos os presentes no culto de jovens, na tarde de domingo. Elas recitaram o livro de primeiro aos Coríntios, capítulo 13. Foi um lindo recitativo, trazendo o choro a muitos, inclusive Johnny.

Ele estava abalado, seu coração triste e semblante abatido. Pensava como pôde, durante todo esse tempo, não perceber que seu pai possuía todas as razões para odiar o evangelho. Imaginava quantos Hermínios estavam por aí, sofrendo nas mãos de falsos profetas, de homens enganosos, de mercenários, chegando à conclusão que nos dias atuais, antes de convencer alguém a aceitar Cristo, teria que convencê-lo primeiro a aceitar o atual cenário degradado do evangelho, destruído por pessoas que visam o interesse próprio, que impõem suas opiniões e falsas doutrinas. E seu pai esteve desiludido todo esse tempo, e no fundo tentava protegê-lo.

Hermínio de vilão passou a herói? É uma boa pergunta, e Johnny questionava a Deus. E a resposta? Estava naquele recitativo? A passagem fala sobre o amor perfeito, com uma mensagem forte, recitada pela segunda moça que dizia: "ainda que tivesse todos os dons, sem o amor nada seria". Johnny chorava, mas por dentro gritava. Ele precisava abraçar seu pai. Afinal, era este o propósito?

O culto de jovens terminou, e Johnny aguardou seus companheiros no pátio, conversando, enquanto alguns irmãos limpavam e preparavam o lugar para o culto à noite, que começaria algumas horas depois.

Um moço daquela igreja aproximou-se e os convidou para uma tocata, com músicos e instrumentos da orquestra, na casa de um amigo.

– E aí? Vamos? – animou-se Diogo.

– Já estava com saudade de ouvir os hinos assim! – comentou Luiz.

– Preciso voltar para casa – disse Johnny.

– Mas assim não tem graça! – Mari falou chateada.

– Não tem graça mesmo! – Marcelo concordou.

– Realmente preciso ir.

– Vai a pé? – perguntou Marcelo.

– Sim, caminhando.

– Então a gente vai contigo até a rua dois, e de lá iremos para a igreja – Marcelo surpreendeu a todos. Ter um momento maduro não era o seu forte.

– Isso foi lindo! – Mari derreteu-se.

– Na verdade, o Felipe lá daquela igreja está me devendo uma grana, aí eu pensei que seria uma boa ir até lá, né!

– Ah! Eu sabia! Agora sim, esse é o nosso Marcelo! – Luiz encarnava, e todos riam.

– Ai, ai... – resmungou Mari decepcionada.